O nome é Macgiver

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Não. Eu não tenho nada especial para contar ou escrever. Eu não tenho poderes, nem nunca caí de avião, bati o carro, levei tiro. Não, eu não me apaixono por pessoas que viram morcegos ou lobos. Não, eu não levanto uma espada libertando povos. Não é nada disso.
Eu sou uma estudante do terceiro ano do ensino médio, com uma vida tão comum e monótona quanto você pode considerar a sua.
Sim, eu leio livros e vejo filmes de super heróis, assisto animes e desejo estar naquela realidade, eu também acho o mundo em que vivemos chato, nenhuma magiazinha para passar o tempo, sabe?

Não espere que algo vá cair do céu e eu vou ser especial e isso vai ser mais uma história para você suspirar e desejar viver. Não vai acontecer.
Minha vida não foi feita para ser desejada, mas eu espero que se identifique comigo, seja lá quem você for e se for ler isso algum dia. Meus pais são normais, meu cachorro não solta laser pelos olhos, meu gato não fala e minha casa é normal.
A psicóloga falou que era uma boa ideia ter um diário, então se você estiver lendo, saiba que essas informações são pessoais e você é um bisbiolheteiro. Não sei se essa palavra existe, mas sempre achei engraçada, então considere que sim.

Se eu esquecer de contar sobre algo ou algum dia, não leve pro pessoal, eu esqueço completamente das coisas. Tem coisas divertidas para serem feitas e eu sinceramente prefiro isso do que ficar escrevendo aqui, mas acontece. A gente não faz só o que gosta. Paciência, agora você vai saber os detalhes do que eu fizer, por exemplo, agora estou deitando na cama e abrindo meu Whatsapp para conversar com Mindy, minha melhor amiga enquanto eu espero o entregador do ifood trazer minha pizza.

Algumas mensagens trocadas e optei por ligar a TV para assistir netflix, algum dorama, Love O2O por exemplo, mas antes me dirigi até a cozinha buscando uma taça de vinho.
Pois é, menores de idade bebem com a autorização dos pais. Chocante né. Não faz muita diferença, em 1 mês eu faço 18, então não que vá mudar grandes coisas na minha vida.
Voltei com uma taça e segurando um cachorro no outro braço, Bakunin, meu corgi. Ele se aconchegou deitando ao meu lado enquanto eu bebo lentamente, assistindo o casal que se conhece em um jogo, mas surpresa, só ele sabe a identidade dela.

Passado 1 hora o entregador chegou. Meus pais saíram para jantar em algum lugar e eu não fiz questão de ir junto, programa de família nunca foi meu forte. Paguei o entregador e trouxe a pizza para dentro, de fato que a Fermentô era minha pizzaria preferida pelas opções veganas.
Ah, acho que na verdade tem um ou dois fatos importantes sobre mim;
Eu sou canadense e eu tive que me mudar para Porto Alegre porque meus pais estão cuidando da minha avó doente. Não que meus tios não façam isso, mas quando você acha que está prestes a perder um ente querido é normal vir para perto, não?

Sim. No inicio foi um baque. Ela tem câncer em estado terminal e mesmo que isso me deixe triste, eu não queria me mudar. Todo meu apoio estava em Vancouver. Toda a força que eu precisaria estava lá. Eu vim contragosto, mas faremos proveito disso, não é? Por isso visito minha avó quase todos os dias. Eu acho que a pior parte da mudança é a escola, quer dizer, eu vou terminar o ensino médio e me formar com pessoas que eu não conheço.
A intenção era que passada a turbulência que estavamos vivendo, voltariamos à morar lá, mas eu já não tenho grandes expectativas com isso.

É. Acho que isso é a única grande coisa que tem para falar sobre a minha vida. Eu não sei o nome da escola que estou matriculada, não ligo, então você só vai ler a palavra "escola" e "aula", o nome é totalmente irrelevante. Provavelmente vou reclamar de muita gente aqui. Na verdade, tenho reclamações sobre a cidade já.
Não neva. A parte mais legal do inverno é a neve.
Apartamento. Nós morávamos em uma casa grande. Agora é um apartamento grande.
Vizinhos chatos. Uma casa tem menos encheção de saco.
Não tenho reclamações maiores até agora, mas aguarde. Em compensação, tem alguns lugares legais e com comida boa. Quer dizer, eu tinha mais liberdade e me sentia mais segura caminhando por Vancouver, além disso eu tinha amigos para conhecer lugares novos, mas não que seja ruim ir em algumas lojas sozinhas. Só é justamente solitário. Não é tão engraçado.

Bom, estou entediada mastigando pizza, então acho que vou contar algumas coisas sobre o apartamento e não vou me aprofundar sobre minha vida canadense porque isso vai me deixar para baixo, certo?
Moramos no terceiro andar de um prédio chamado Renascença na Travessa Pesqueiro. É agradável, mas não tem piscina. Tem salão de festas e uma pequena pracinha, os apartamentos são grandes tendo 2 banheiros, um depósito, uma área de serviço, uma cozinha, dois quartos e uma sala. A iluminação é consideravelmente boa, mas temos vizinhos em cima. Moro no terceiro andar. Quando arrastam cadeiras, conversam, correm, dá pra ouvir tudo. A síndica, Irene, não é das pessoas mais legais também, na verdade ela é uma senhora bem mau humorada e carrancuda que sempre xinga quem estiver passando por ali.

Acho que tem pessoas da minha idade morando por aqui, mas não tive interesse em conhecer. Quer dizer, sei de dois irmãos só. Rennan e Taynara. Sei porque moram no andar de cima e sempre escuto algumas discussões como "VOCÊS JÁ SÃO QUASE MAIORES DE IDADE TENHAM RESPONSABILIDADE" ou algo assim. Além disso, como da cozinha eu tenho visão da praça, eu vejo eles com mais umas 3 pessoas, sentados no gira gira conversando. Não tenho interesse em conversar. Não quero criar vinculos aqui,  diminui a probabilidade de poder voltar para Vancouver já que meus pais vão achar que eu estou tão feliz quanto eles.

Tudo bem, isso foi sobre meu prédio.
Agora, algumas especificações sobre minha aparência para que você que está bisbilhotando minha vida. Meu cabelo é comprido, até as omoplatas. Também é colorido, especificamente agora, é rosa. Meus olhos são verdes e minha pele é branca, quase igual um papel, até porque eu não pegava muito sol onde eu morava. Não sou alta. Devo medir 1,50 agora, algo assim. Além disso, meu corpo é magro, quer dizer, magro mesmo. Pulso fino, braços finos, pernas finas, busto pequeno, eu não tenho grandes volumes no corpo, essas coisas.
Eu gosto de jogar, mas meus videogames e computador ainda não chegaram, então resta esperar, ler e ver netflix enquanto isso. Paciência.

Acho que é isso e espero que a terapeuta fique satisfeita porque eu me sinto ridícula.
Eu acho isso um saco, tanto quanto você.

Caitlyn Macgiver é só uma adolescente normalWhere stories live. Discover now