Dia 12 de março de 2020

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A última memória que tenho dos meus pais é a minha mãe com raiva a estrangular me e o meu pai a tentar despir-me a roupa
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Isto começou há 3 dias quando eu estava na casa de banho e uma coisa que os meus pais nunca gostaram foi de me dar privacidade,por isso nem na casa de banho tinha privacidade, estava a fazer as minhas coisas quando a minha mãe abre a porta, entrou e tirou-me o telemóvel, batendo-me, eu tentei pedir o meu telemóvel de volta, não gritei, não lhes bati, não lhes chamei nomes, apenas chorei e perguntei porque é que eles eram assim, a minha mãe empurrou contra a parede e foi dizendo que eu tinha de mostrar respeito por eles, quando eu perguntei porque é que eles não me respeitavam a mim ela disse que era mãe e isso não interessava, eles disseram que a minha atitude tinha sido desrespeitosa e agressiva, sendo que eu estava a chorar porque a minha mãe estava a ver o meu telemóvel todo no seu quarto enquanto o meu pai me impedia de sair da sala sequer.

Após uma tarde a gritar comigo, deram-me castigos que não dariam sequer a um cão, todos os dias eu quando estava em casa não podia sair do canto do sofá, só para ir dormir ou ir á casa de banho, não podia ler, ver TV, nem brincar com a minha irmã, depois não podia escolher a minha roupa, não podia ter nada nem escolher nada.
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No dia 12 de março :

Eu estava no meu quarto quando disse para mim mesma "chega não sou um cão" e recusei me a vestir a roupa que me deram, a minha mãe passou-se e começou a gritar comigo e a magoar-me, agarrando o meu braço a dizer que se não vestisse o que queriam ela ia tirar me a roupa e pôr me no hall do prédio nua, eu pela primeira vez fiz frente e continuei a recusar me, era já 8 e tinha de ir a pé para a escola porque eles recusavam se a dar me boleia, apesar de levarem a minha irmã, a minha mãe agarrou em mim e começou a estrangular-me, ao ponto que o meu corpo estava a ficar sem força,depois virou-se para o meu pai e disse :

- É por causa desta estúpida que nós nos vamos divorciar.

Nunca me esqueci dessa frase. Após isso atirou me para o sofá, e com a ajuda do meu pai, despiram me e ela rasgou me as calças, já era 08:20  quando eu vesti a roupa que me deram e estava a sair de casa.

Comecei a chorar na rua e pedi boleia a um homem desconhecido, contei lhe algumas coisas e ele deu me 5€ para comer, porque os meus pais recusavam-se a dar-me dinheiro sequer para comer e não queriam saber se comia ou não.

Quando cheguei à escola e vi a Bia, a minha amiga, eu fui me a baixo e contei lhe maior parte antes de ir á psicóloga.

Esperei meia hora a tremer na cadeira da sala de espera que a psicóloga chegasse, quando chegou falei sobre o que aconteceu, ela disse que era melhor irmos à polícia e preencheu o registo criminal comigo, após isso faltava saber onde iria viver, em pânico e desespero liguei a uma amiga minha e tive uma conversa com a sua mãe, a Carla.

Quando fomos à estação da polícia, um amigo veio comigo e tentando fazer-me sentir melhor disse que eu iria ter uma ótima vida com a Carla e a família dela, mas naquele momento eu não conseguia parar de chorar a pensar em abandonar a minha irmã e o meu cão.
Eu não conseguia tirar os olhos do chão, por isso só me lembro de como o chão era amarelo com pintas e a cadeira castanha.
Estivemos lá mais de uma hora a falar.

Quando saí da estação fui a minha casa que não tinha ninguém e com ajuda do meu amigo Bruno fomos buscar sacos e pôr todos os meus pertences neles, livros, roupa, tudo o que era necessário e importante para mim.

Quando cheguei a casa da Carla o Hugo, o filho mais velho ajudou a trazer os sacos cá para cima e fiquei na sala de cima com o Bruno a tentar distrair me de tudo o que acabara de acontecer, com medo da Carla e do que eu teria de contar e com esperança que ela me deixasse ficar.

Quando ela chegou eu não conseguia olhar nos olhos, tentando explicar o que tinha acontecido, esforçando-me para não chorar à frente dela. No final ela concordou em me ajudar, eram 22:00 quando me fui deitar no sofá da cama de cima e adormeci quase de imediato por todo o gasto emocional que este dia me tinha dado.

Alice in traumalandOnde as histórias ganham vida. Descobre agora