Capítulo 33

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-Eu ainda não estou conseguindo acreditar nisso. –Essa era a terceira vez que sua mãe falava essa mesma frase e sacudia a cabeça logo em seguida.

Fazia cerca de uma hora e meia que os gêmeos haviam chego em casa e descoberto que Willian fugira. Dez minutos depois de acharem a carta e a chave, Mirabela entrara no seu quarto e encontrara o baú dos diários vazio. Maldito dia para esquecer objeto aberto. Depois de contar ao irmão o que descobrira, constataram que Willian havia levado apenas os cadernos velhos e algumas roupas. Nada a mais.

Chegaram também à conclusão de que o tal Lobo, que ligara para Willian na noite anterior e o qual ele citara na carta, muito provavelmente era Diego, pai de Gustavo. Com isso, ambos comemoraram a decisão tomada há algum tempo atrás de deixar Willian de fora das descobertas deles. Ao menos isso tinham a seu favor. Ou talvez nem tanto, considerando que o garoto levara os diários e boa parte do que sabiam estava neles.

Agora, estavam a cerca de vinte minutos narrando os últimos acontecimentos à mãe, escondendo alguns detalhes. Como os diários, os quais ela ainda não sabia da existência –e se dependesse deles, agora que os diários sumiram por seu descuido, Eliza não ficaria sabendo tão cedo.

Seu irmão ainda estava bastante abalado, mas a garota achava que o sentimento de traição estava começando a ser substituído por raiva. E ela tinha certeza de que isso não era bom. Mas agora, com a fuga de Willian, a mente de Mirabela não conseguia parar de pensar em Gustavo. Ou no que ele poderia fazer. Se até seu amigo mais próximo teve coragem de traí-los, quem dirá um estranho que não tem nada a perder? Seu coração doía apenas de pensar nessa possibilidade, e agora ela entendia exatamente como Jhon se sentia. 

-Oh, pobre Willian. –Mirabela se sobressalta com o som da voz da mãe, que estava em silêncio com a carta na mão havia alguns minutos. -Ele deve ter se metido em uma enrascada ainda pior agora... com todo o sangue que havia nele e no quarto dos Turners quando eu voltei lá, duvido muito de que eles tenham sobrevivido.

Mirabela se aproxima da mãe quando nota lágrimas brilhantes em seu rosto e a abraça. Willian realmente deixará um buraco bastante grande no coração da família Blake. Jonathan encara as duas, ainda escorado na abertura que leva ao corredor, a cara fechada, mas a irmã não deixa de notar que uma lágrima brilha ao passar correndo por sua bochecha e lança um sorriso solidário quando ele rapidamente passa a mão pelo rosto.

Depois de alguns minutos, sua mãe se mexe, secando as próprias lágrimas e Mirabela se desvencilha do abraço, buscando um copo de água tanto para Eliza quanto para Jonathan. Sua mãe se levanta e tira um papel do bolso da calça e começa a pigarrear, fazendo com que Mirabela, que estava a caminho de Jonathan com o copo d'água, pare no meio do caminho e volte a encará-la. Jonathan finalmente parece voltar à sua órbita e dá alguns passos em direção à irmã, pegando o copo de sua mão e encarando a mãe também. 

-Aconteceu alguma coisa, mãe? –Diz a garota, pegando uma cadeira da mesa de jantar e sentando-se em frente à mãe, que parecia extremamente ansiosa.

-Na verdade, aconteceu sim. –Eliza coça a garganta e olha para todas as paredes da cozinha antes de finalmente encarar os filhos- Eu... eu não sei como falar isso, até porque é bastante suspeito, mas eu recebi uma carta hoje.

-E por que uma carta seria suspeita? –Jonathan finalmente se pronuncia, transmitindo os pensamentos de Mirabela também.

-O problema não está na carta em si.

Eliza desvia o olhar de novo, mas Mirabela, que já estava perdendo a paciência com a enrolação, pega na sua mão e a encara profundamente, encorajando-a a continuar.

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