Capítulo 45

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-E agora, o que fazemos? –Mirabela estava sentada junto a seu pai no sofá novamente, Robert ainda não tinha desembuchado totalmente sobre toda a história, mas com Willian na casa ela não tentaria forçar mais nenhuma palavra.

-Como assim, querida?

-Bem, Jonathan e eu já estamos a três dias sem ir para a escola e nossa mãe está aparecendo em todas as mídias como morta, então suponho que tenha algum plano para seguir seu próprio plano de não contatar a polícia. –Mirabela ficou surpresa consigo mesma pela frieza nas palavras, mas no fundo já estava ficando cheia dos planos do pai, assim como de ficar chorando e desabando pelos cantos pela mãe sem fazer nada de útil. Estava na hora de agir.

-Gosto de ver como está sempre pensando no próximo passo. –A garota precisou segurar firme apara evitar revirar os olhos para o pai. Ao invés disso, apenas forçou um sorriso tímido- Mas não se preocupe quanto a isso. Eu não fui dado como morto, se lembra? Então vocês estão sob minha tutela, claro que precisaremos responder a algumas perguntas e querendo ou não vamos nos envolver com a polícia, mas está tudo sob controle. Além disso, eu já estava prestes a mandar você e seu irmão se arrumarem para voltarem para casa hoje de tarde. Há uma visitinha para vocês lá.

-Não acho que esse seja o melhor momento para mais uma de suas visitinhas.

Mirabela levanta do sofá após murmurar a resposta para o pai, sabendo que não estava agindo racionalmente, mas sim deixando que a raiva a dominasse. A garota não espera por uma repreensão de Robert antes de se retirar da sala e ir para o quarto onde seu irmão provavelmente a aguardava emburrado e com Sr. Gato no colo.

Assim que ela abre a porta um grito de surpresa quase escapa de sua garganta com a cena que se estende em sua frente. Aquela certamente era a última coisa que Mirabela esperava ver, principalmente levado em conta a situação atual que todos eles se encontravam. Levando em conta o aparente ódio de seu irmão pelo amigo de infância. 

Os dois estavam abraçados. Não, não abraçados. Se beijando, a garota constatou após um momento de choque. Os cabelos castanhos de Jhon se misturavam aos fios mais escuros de Willian enquanto ambos se seguravam como se a qualquer momento o outro pudesse fugir ou desaparecer. Como aquilo aconteceu?

Mirabela estava totalmente sem reação, ainda encarando boquiaberta da soleira da porta quando os dois notaram sua presença. Antes que seu irmão, que já havia ajeitado a postura e colocado um semblante sério e totalmente destoante da situação no rosto, falasse qualquer coisa, ela limpou a garganta e gaguejou:

-Eu... hã... nosso pai pediu para que arrumássemos nossas coisas –Jonathan ergue as sobrancelhas em confusão- Partiremos hoje à tarde para casa novamente. Sabe, precisamos ir para a escola e tudo o mais. –Mirabela dá um passo para trás antes de murmurar encarando o chão: - Acho que vou me retirar, desculpa atrapalhar.

-Mira, podemos conversar um pouquinho? -A voz do irmão é tomada por uma maturidade que ela nunca presenciara, o que a faz se virar novamente e entrar no quarto, no exato instante em que Will lhe dá um sorriso tímido e se retira.

-Eu posso saber o que diabos aconteceu aqui? Até dez minutos atrás eu me lembro que você querer estrangular ele e então eu entro aqui e vocês estão se beijando! –Mirabela se joga na cama, por pouco não caindo em cima do gato que descansava em meio aos cobertores. Ela respira pra se acalmar antes de continuar- Desculpa eu... eu realmente não esperava por isso. Não estou brincando quando digo que na minha mente era mais fácil eu entrar nesse quarto e você o estar esquartejando do que beijando, então... acho que você entende, não é? 

-Na verdade eu também não sei como isso foi acontecer. –Jhon passa a mão pelos cabelos sedosos e então esfrega os olhos- Will veio falar comigo, me pedir desculpa e então estávamos quase brigando e... Bem, você viu o que aconteceu.

O garoto se joga ao lado da irmã, cuidando para não fazer purê de gato no processo. Durante um longo momento o silêncio é quebrado apenas pelo tic-tac de um relógio irritante em algum lugar do quarto. Mirabela finalmente desperta do seu quase estupor, apoiando-se nos cotovelos enquanto encara o rosto do irmão.

Os grandes olhos castanhos a encaram de volta, analisando-a, da mesma forma como os dela costumam perscrutar a tudo e a todos. Podiam não ser iguais fisicamente, mas ainda assim tinham um pouco do outro em si. 

-Afinal, estão resolvidos agora? Você o perdoou?

-Não sei. Não sei o que aconteceu, como aconteceu e o que vai acontecer agora. Por exemplo, como vou encarar ele quando sair desse quarto? –Ele pega um travesseiro e cobre o rosto, o tom vermelho voltando a suas bochechas.

-Nunca pensei que fosse eu quem daria conselhos sobre caras. –Jonathan apenas resmunga algo inaudível sobre o travesseiro, que ela ignora sem pestanejar. –Escuta, eu acho que a primeira coisa que você precisa fazer é decidir se perdoou ou não ele. Se vale de alguma coisa, eu perdoei. Depois você lida com essa situação, fala com ele e deixa tudo claro. Acho que é a melhor coisa a se fazer, sabe.

A garota se levanta da cama e começa a organizar suas coisas, o objetivo inicial que a levara até ali. Mirabela encara o irmão pateticamente estirado sobre a cama por mais alguns segundos antes de complementar:

-Afinal, há quanto tempo está rolando isso?

-humm?

Mirabela arranca o travesseiro do rosto do irmão e o puxa até que se levante.

-Não se faça de idiota. Foi por isso que ficou tão irritado quando Will nos trocou pela família dele? Porque você se sentiu trocado?

-Olha Mira, não sei onde você quer chegar...

-O que Will fez realmente não foi muito inteligente, mas ele estava se destruindo. Eu acho que entendo o lado dele, e sei que você, em uma situação normal, seria mais compreensível do que eu. Ou seja, essa é a única explicação para esse seu rancor exagerado. –Mirabela abafa uma risada enquanto procura roupas espalhadas pelo pequeno quarto- Ou era, até alguns minutos atrás. 

Um travesseiro sai voando em sua direção, mas seus reflexos são mais rápidos e ela apenas o agarra no ar, lançando um sorriso debochado ao irmão.

-Suas coisas não vão se arrumar sozinhas, maninho.

(sobre)vivaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora