IV - Traumas

2K 148 66
                                    

O odor metálico preencheu o olfato de Nestha, que observava Cassian treinar com Ethan — um dos guerreiros mais novos do acampamento.

A jovem gostava de olhar o modo como Cassian lutava, suas táticas e a maneira de como cada golpe era cheio de convicção. Mas nada se comparava ao sorriso que não chegava até os olhos — mas de triunfo — que ele dava antes e depois da luta.

Após sair de uma espécie de "ringue", Cassian a fitou. Certamente esperando uma parabenização e talvez um reconhecimento por mais uma de suas vitórias em um duelo. Ele caminhou até Nestha, que estava encostada em uma parede, um pouco mais isolada de todos. Nada mais que o habitual.

— Viu só como acabei com Ethan? Apesar de que aquele garoto é bom, conseguiu me arrancar um pouco de sangue — disse ele.

— Nada impressionante. Aliás, nada mais que sua obrigação, devia pegar alguém do seu tamanho. Era óbvio que você o venceria, tem anos de experiência. — Nestha respondeu.

— Isso não significa nada, sabe? Toda essa questão de idade e experiência...

Nestha tentou entender para que lado ele guiava a conversa. Cassian era imprevisível, flertava com alguém como falava sobre guerras, sempre na mesma intensidade. De uma forma que não dava para saber se estava falando sobre algo sério ou lhe mandando uma indireta.

Percebendo o olhar de confusão de Nestha, Cassian completou:

— Não, quero dizer... Não é um problema você ter meras duas décadas de vida enquanto tenho centenas de anos.

Nestha conteve um rolar de olhos.

— Óbvio que não significa nada. Afinal, sou muito mais madura e sábia que você. — Nestha não resistiu em se aproximar de Cassian e bagunçar seus cabelos que estavam preenchidos com um pouco de suor. — Só acho que devia pegar alguém do seu tamanho. É um pouco injusta com Ethan.

— É difícil encontrar e pegar fêmeas com mais de um metro e oitenta de altura. São raras.

Ela fechou o rosto e Cassian gargalhou.
Ultimamente, qualquer menção a fêmeas mesmo que indiretamente que não envolvia Nestha, fazia a irmã Archeron rosnar, bufar e resmungar. Às vezes ela se entregava aos seus instintos feéricos mais territoriais e nem sequer percebia.

— Que foi Nestha? Está irritadiça hoje?

— Não, e não gostaria que você me ajudasse a aliviar a tensão. Já foi mais criativo.

— Grava nossos diálogos? — ele perguntou curioso.

— Ah sim! Eu repasso todos eles na minha mente antes de dormir para relembrar sua cara de idiota. Nem com um caderninho de "como retrucar Nestha Archeron" você consegue sustentar uma conversa comigo sem parecer um tolo.

Bom, em partes era verdade. Nestha só omitiu o fato de que também gostava de repassar os beijos com o guerreiro ao anoitecer.

— Nossa — ele colocou a mão no coração, como se tivesse sido atingido por uma espada. — Perdoe-me, mas ao longo dos séculos, minhas táticas nunca me deixaram na mão. — ele prendeu um fio de cabelo de Nestha, que escapava de seu coque, ao redor da orelha dela.

— Pare de me acariciar em público, vai estragar minhas oportunidades com o Carter. — ela deu um tapa na mão de Cassian.

Foi a vez dele de ficar irritado e olhar para ela totalmente indignado.

— Que foi Cassian? É legal provocar, não é? — ela mordeu o lábio para conter uma risada. — Muito interessante.

Os olhos do general desceram para sua boca quase instantaneamente.

A Corte de Sombras e RuínaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora