III - Importância

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Nestha evitava Cassian há pelo menos uma semana. Ele por sua vez, não estava fazendo nada para se aproximar, tinha medo de algum tipo de rejeição ou humilhação.

Apesar de morarem sob o mesmo teto, os dois não trocaram muitas palavras além do necessário ultimamente.

Às vezes, Cassian olhava-lhe descaradamente, mas quando ela o encarava, ele desviava o olhar.

Quando se tratava deles, provocações eram fáceis, mas falar sobre o que sente era quase impossível. Principalmente para Nestha, que não gostava de expor o que tinha em seu interior.

Ela estava deitada em sua cama, deixando seu livro sobre a cabeceira. Nestha rolou de um lado pro outro, mas não conseguia dormir.

Fechou os olhos e escutou duas batidas na porta de madeira escura de seu quarto.

— Nestha? — a voz soou do lado de fora do cômodo.

Era Cassian, sua voz estava baixa e um pouco exitante.

— Sim? — ela respondeu, sem sair da cama.

— Não vai jantar?

— Não estou com fome.

— Pode pelo menos abrir a porta? — ele perguntou um tanto irritado do lado de fora.

Ela caminhou preguiçosamente até a maçaneta e abriu caminho para Cassian adentrar em seu quarto.

— E então? — ela passou as mãos pelo vestido, limpando uma poeira invisível. — Já disse que não estou com fome.

— Mas você não come direito a dias — disse Cassian, passando as mãos pelos longos cabelos antes de completar — Estou preocupado com você.

Nestha piscava sem parar, absorvendo aquelas palavras.

Quantas pessoas realmente se preocupavam com o seu bem-estar?

Caso Feyre se importasse, não teria a jogado no acampamento. Como pode mandá-la para um lugar como aquele? Que diferença teria ela de Tamlin quando ele invadiu sua casa e levou sua irmã como lição e punição?

Nestha ficou imóvel de repente, relembrando quando atravessou as muralhas sozinha, ainda tão frágil, tão humana. Tudo para ir até à irmã mais nova.

Tudo para no fim, ela ter mandado Nestha para aquele lugar. A ausência de visitas de Feyre ao acampamento e nenhuma pintura dela, na casa perfeita dos Grãos Senhores da Corte Noturna dizia muito sobre qual era a importância de Nestha para todos ali.

Uma mão enorme e calejada balançando em frente ao seu rosto, tirou ela de seus devaneios.

— Pela mãe, o gato comeu sua língua ou algo assim? Por que não me responde?

— Minha língua eu não sei. Mas provavelmente o gato comeu seu ouvido, pois já repeti duas vezes que não estou com apetite. Só quero ficar sozinha, pode me deixar em paz? — ela enfim o olhou nos olhos, cruzando os braços.

O olhar sério que Nestha lhe lançava, perfeitamente posturada, enfraquecia os joelhos de Cassian.

— Não — ele respondeu simplesmente. — Só por cinco minutos, já volto! — Cassian saiu do quarto.

Nestha pensara que finalmente poderia ficar isolada novamente. Sentou-se na cama e fitou o teto. Soltou os cabelos do coque firme, gostando da sensação de como o aperto em sua cabeça se desfazia. Suspirou, aproveitando o prazer de deixar os fios soltos e a própria companhia. Porém, Cassian voltou em alguns instantes com uma bandeja na mão.

— Já que você não vai ao jantar, o jantar vai até você — ele colocou a bandeja que continha uma sopa cheia de legumes frescos com algumas batatas na cabeceira.

A Corte de Sombras e RuínaWhere stories live. Discover now