Capítulo Quarenta e Oito

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Meu olhar queimava-o como o mais fogo ardente. Eu queria que se explodisse agora mesmo e que a casa queimasse com tudo que me lembre dele. Mas se isso acontecer, Lisa, e eu, deveríamos queimar com as brasas. Afinal, somos sua maior lembrança.

— Tudo bem, querido papai, vamos começar com isso de uma vez. — Me levantei e caminhei firmemente até sua esposa. Meus saltos faziam um barulho irritante conforme eu caminhava, e eu fazia questão de pisar com mais força. Eu sei que isso estava o irritando. E meu objetivo, era irrita-lo até seu último suspiro. - Você sabia que seu maridinho querido, bate em mulheres? Ele já deve ter te batido também, não foi? Por isso você tem essa carinha de coitada, ele já deve ter machucado muito você, não é, querida?

Ela tombou a cabeça tentando processar minhas palavras. Seus olhos lacrimejaram e balançou a cabeça de um lado para o outro em negação. Ele já deve ter encostado a mão nela, e possivelmente, não foi apenas uma vez.

Se ele fez isso com a própria filha, não me surpreende que faça isso com sua mulher.

Me pergunto, se alguma vez, Lisa presenciou alguma de dessas agressões. Contra ele, tenho certeza que nela, o monstro de meu pai nunca encostou a mão.

— O que você está dizendo, sua mentirosa? Não acredite nela! Essa vadia está tentando roubar nossa filha de nós!

Acabei rindo com gosto enquanto batia palmas. Tão patético.

— Eu? Eu sou uma mentirosa? Uma vadia? Você acabou de me xingar certo?  — A cada palavra, eu ria mais um pouco. — Estou tentando roubar sua filha? Ah coitadinho, o sua filha?

— Não faça esses seus joguinhos de manipulação, sua imunda! Eu sei o que você fez com Lisa! Você manipulou ela! Fez a cabeça dela! Inventou mentiras dizendo que eu te bati! E agora está tentando manipular minha esposa!

— Eu não estou tentando manipular ninguém! Estou apenas dizendo a verdade! Isso...- Passei a mão vagamente por meu pescoço, ignorando a dor, e fiz questão de fazê-lo ver com os olhos, o que havia feito. — Foi você papaizinho, não se lembra? Será, que está com amnésia? Ou apenas não quer admitir que é um monstro?

Seus olhos era de irritação, ele estava começando a perder o controle. Não tenho certeza se isso é bom, mas não posso controlar minhas palavras e ações. Preciso dizer tudo que está entalado em minha garganta, me sufocando. Chitthip  precisa ficar do meu lado, para quando eu decidir contar a verdade a Lisa, ela confie em mim. Afinal, se sua mãe, confiou, porque ela não deveria?

— Isso é maquiagem! Sua vadia louca! Eu quero que você vá embora daqui! Você vai ser processada pelo que fez com nossa menininha! E você vai perder tudo! Sua cachorra! Nós vamos arrancar tudo de você, todo o seu dinheiro, toda a sua fortuna...- Ele se aproximava de mim, me apontando aquele dedo grotesco, que eu tanto queria quebrar agora. Continuei parada no mesmo lugar. Eu não iria recuar, e demonstrar medo. Ele quem irá sentir, tudo o que eu senti naquela noite. — Você pensa que é melhor do que sua puta? Você é sangue do meu sangue, tudo de ruim que tem em mim, tem em você! Sua megera! Nem sua mãe consegue acreditar em você, querida, sabe porquê? Porque você é uma PUTA MANIPULADORA! QUE SÓ PENSA NA PORRA DO SEU DINHEIRO!

Ele não estava certo. Eu não era apenas uma puta manipuladora. Eu sou muito mais do que isso. E eu sei que ele está tentando me manipular, assim como eu estou tentando fazer com ele. Está tentando me fazer ter medo e me sentir fraca, inútil. Mas eu não irei acreditar em suas palavras. Eu nunca mais, irei deixar que ele diga tudo isso sobre mim e ficarei calada.

— Abaixa a porra do dedo, antes que eu quebre ele. E isso papai, continue me xingando, você não quer falar mais alto? Gritar? Eu acredito que séria ótimo. Você não vai assumir o que fez comigo, não é? Vai ficar se fazendo de bom samaritano. Mas eu sei de tudo que aconteceu, papai, eu sei tudo que aconteceu naquele beco. E eu nunca vou me cansar de tentar te colocar entre as grades! Agressão contra a mulher é crime, e tentativa de homicídio também! E obviamente, não podemos nos esquecer do roubo de tudo que estava no meu carro. O senhor pensa que vai sair tão cedo de lá? Vai pegar muitos anos de cadeia. Eu só preciso encontrar provas o suficiente. E você, papai, acredita que é difícil? Eu tenho muito dinheiro, muita fortuna, eu posso conseguir qualquer prova que eu quiser, e eu você vai apodrecer entre...

— NÃO ME CHAME DE PAI!

Meu corpo foi jogado no chão com uma força incontrolável. Acabei soltando um grito de dor, quando meu corpo se chocou contra o chão frio.

Meu pai subiu em cima de mim e novamente suas mãos nojentas estavam em meu pescoço, mas dessa vez, ele não só apertava como também me balançava, fazendo minha cabeça bater diversas vezes contra o azulejo do piso. Eu tentei tirar seu peso de cima de mim, contudo, eu não tinha forças o suficiente.

Chitthip tentou puxar o marido enquanto implorava para que ele parasse com aquilo, mas foi empurrada bruscamente, em direção a quina da mesa. Eu não tenho certeza do que aconteceu com ela, contudo, seu corpo deslizou lentamente pela parede até cair não acordado no chão.

Tentei buscar o ar que me faltava, mas era impossível. Meus olhos se arregalaram e eu só conseguia movimentar as pernas e os braços freneticamente. Eu precisava arranjar algum jeito de tira-lo de cima de mim. Suas mãos de apertaram ainda mais quando eu consegui agarrar seus ombros. Abri a boca apressadamente tentando gritar o mínimo que fosse. Meu plano deu errado. Tudo deu errado. Ele só pensou no seu ódio.

A polícia precisa pegar ele dessa vez. Eu preciso sobreviver dessa vez. Eu preciso ver Lisa novamente e preciso ser uma pessoa melhor.

O homem em cima de mim, não é meu pai. Na verdade, nunca foi. É apenas um monstro agressor.

Ele merece pagar por tudo que fez.

Minha visão ficou turva, mas eu não queria desistir. Ele me mataria dessa vez. Não cometeria o mesmo erro duas vezes.

Tudo ficou escuro, eu só conseguia ouvir os xingamentos vindos dele. Minha cabeça foi levantada e jogada contra o chão novamente. Uma dor extremamente forte e aguda, me consumia por dentro. Eu podia sentir todos os órgãos de meu corpo, doerem, assim como meus ossos.

Quando o ar já não era presente em meu corpo, e o gosto metálico invadiu minha boca. O peso saiu de cima de mim. E eu jurava que ele havia desistido de me matar, mas quando eu me obriguei a abrir, mesmo que bem pouco, os olhos, sua esposa invadiu meu campo de visão, ela estava com um jarro de barro em mãos.

*

Eu tenho certeza que eu não estou morta, mas eu não consigo levantar.

Meu corpo dói demais. Meu peito arde a cada batida de meu coração, e meus pulmões queimam quando o ar entra neles. Eu não consigo enxergar nada, consigo ouvir pouca coisa.

Sei que Lisa esteve aqui várias vezes, mas eu não consigo me lembrar de onde estou.

Meus pensamentos são apenas memórias. Memórias de uma vida que antes, era perfeita para mim.

Vez ou outra, eu sinto o calor de seu corpo próximo ao meu, mas não dura muito, sempre acaba depois de um tempo.

Os dias, talvez, semanas, ou meses, se passam rápidos. Na maior parte do tempo, é como se eu estivesse dormindo. E quando eu decido acordar, eu não consigo abrir os olhos.

Tudo é tão escuro e vazio.

Eu sinto falta de poder gritar, sorrir, brincar,e especialmente de transar.

Meu corpo dói.

Meu coração dói.

Eu desejo ser alguém melhor quando acordar. Alguém melhor para Lisa, para minha mãe, para Chaeyoung. Desejo ser alguém compreensível.

Muitas pessoas, dizem, que devemos aceitar quem somos, devemos nós aceitar, mas elas de esquecem, de um pequeno detalhe. Se quem você é, machuca as pessoas que você ama, e a cada dia, te deixa pior, você não deve se aceitar, você deve tentar mudar.

Eu decidi ser alguém melhor. E eu espero, que tudo que eu planejei, aconteça.

Enquanto isso, continuarei aqui, esperando os dias, para finalmente, ver o rosto de Lisa novamente.


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Yes, Mommy | JenlisaWhere stories live. Discover now