Capítulo 6

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Não é comum logo após um show da King eu me encontrar em casa com a cabeça enfiada em um travesseiro.
Se qualquer um dos caras da banda me vissem agora diriam que eu estou doente ou sei lá o quê.

Há umas semanas atrás eu seria facilmente encontrado bêbado na cama de alguma groupie, caótico. Mas hoje não, eu mal tinha clima pra isso.

Fecho os olhos por alguns segundos, o silêncio da minha casa não se comparava ao barulho que meus pensamentos faziam. Tento lembrar de algo que pudesse explicar tudo o que Brian despejara em cima de mim, mas só vejo o vazio.

Bufo frustrado e encaro o pequeno relógio digital pousado na mesinha do lado da cama. 05h55.

Levanto da cama sabendo que não iria conseguir pregar os olhos e me dirijo ao banheiro. A imagem que me encara de volta no espelho é horrível, há grandes olheiras abaixo dos meus olhos cansados, meus lábios estão um tanto ressecados e meu cabelo parece mais desgrenhado do que nunca.

Ligo a torneira e deixo a água encher as minhas mãos que juntas formam uma concha. Molho o rosto e apoio-me na pequena pia de mármore.

A imagem dele involuntariamente toma conta dos meus pensamentos conturbados. Sua expressão demonstrava mágoa e raiva, e pela primeira vez em muitos anos eu me senti acuado e vulnerável. Sinto raiva de mim também, afinal, se eu fiz tudo aquilo, eu merecia ser tratado daquela maneira por ele.

Volto para o quarto e abro a gaveta da mesinha, dentro da latinha redonda estava algo que eu sabia que me ajudaria a relaxar.

De maneira hábil enrolo a erva em um papel de seda que quando pronto acendo e começo a fumar.

Em questão de minutos sinto a velocidade dos pensamentos diminuírem, as preocupações viajam para longe, mas uma coisa ainda permanece ali: ele.

Suspiro fundo e pesco o meu celular que está perdido entre os cobertores da cama, torço para que não esteja descarregado quando o encontro.
15%, ok já é um começo.

Procuro pelo nome de Rami e aperto em chamar. Como esperado ele não atende, então ligo outra vez e no segundo toque posso ouvi-lo.

- Roger se alguém não tiver morrido, se sua casa não estiver pegando fogo, ou se você não tiver morrido por ter pegado fogo, pode ter certeza que EU vou te matar por me acordar. - engulo em seco. -, o que é?

- Rami, eu.. desculpa... - acabo tossindo e me embolo com as palavras - preciso da sua ajuda.

O rapaz do outro lado da linha suspira.

- Certo, do que você precisa? - ele responde, a voz mais calma.

- Lembra do seu amigo, aquele do show? Freddie?

- Sim, o que tem?

- Você poderia me passar o endereço dele?

- Eu poderia perguntar para quê exatamente você gostaria do endereço do Freddie? - o tom de desconfiança na sua voz é palpável, mas sinto também que ele está falando de forma maliciosa.

Reviro os olhos e dou uma última tragada no baseado.

- Olha, eu só preciso de uma ajuda dele, nada demais.

Tento parecer casual, sei que uma das coisas mais difíceis era despistar Rami, mas ele pareceu ceder.

- "Nada demais e me acordou 5 horas da manhã." - o ouço resmungar -, certo, só não vá fazer besteiras Roger.

Comemoro internamente quando ele me passa o endereço, não era muito longe daqui, eu só esperava que ele realmente pudesse me ajudar de alguma maneira.

FIRST | maylorWhere stories live. Discover now