Capítulo 23

301 35 36
                                    

Estar vivo às vezes pode ser considerado uma dádiva.

Ainda mais se isso significar poder ver Brian na minha cozinha preparando algo para nós dois. Tínhamos aquele lance com a cozinha, alguns de nossos bons momentos sempre ocorreram ali.
É encantadora a maneira que ele desliza pelo espaço como se estivesse flutuando, provando algo de dentro das panelas e colocando uma pitada de sal aqui e acolá caso estivesse faltando, ou a maneira que ele finge tocar um solo em uma guitarra imaginária enquanto Van Halen soava alto pelas caixinhas de som dispostas na sala. É clichê, mas acho que tudo que esse homem faz é absolutamente... bom demais.

- Terra chamando Roger! - Brian estala os dedos na frente dos meus olhos me tirando dos meus pensamentos.

Sorrio para ele que deposita um beijo casto na minha bochecha.

- Hey, Brimi... Estava só pensando distraído - encolho os ombros fingindo que há dois segundos eu não estava babando pelo maior -, mas e aí? Qual é a gororoba de hoje?

Ele faz uma careta engraçada.

- Gororoba, huh? Eis aqui um anão que não tem medo de ser atirado pela janela.

- Você não seria capaz de atirar alguém moribundo pela janela, seria Brian May? - finjo estar chocado e ele estreita os olhos na minha direção. - E além disso, eu não sou baixo, você que cresceu demais.

- Engraçadinho! - rebate me dando língua - Vem, hoje eu fiz um risoto com vegetais.

- Sabe o que dizem, né? Quem dá língua, pede beijo.

Ele me ajuda a descer do banquinho para podermos ir até a mesa de jantar que estava devidamente preparada com uma bela travessa de risoto, salada verde e suco de abacaxi com hortelã. Eu ainda estava me recuperando das lesões resultantes dos dias preso naquele prédio; eu havia fraturado três costelas, torcido um dos tornozelos, quebrado o dedo mindinho da mão direita e também ostentava diversas marcas pelo corpo inteiro, além dos pontos que ainda estavam em processo de cicatrização.

- Que dia comeremos costeletas?

- No dia do cala a boca e come essa cenoura, Roger.

Prendo o riso e iria responder se a campainha não tivesse tocado atrapalhando o momento. "Salvo pelo gongo", pensei. Brian me encara mais uma vez com os olhos semicerrados como se me desse uma ordem muda para que eu comesse, e vai atender a porta.

A algazarra é gigantesca quando o grupo de pessoas invade o ambiente. Todos estavam ali; Freddie e John, Ben, Joe, Gwil, Lucy e Rami, além de Elton, David e Mick (que depois do ocorrido haviam se tornado amigos de todos nós), carregando faixas de felicitações e usando pequenos chapéis coloridos de festa.

- Gente, o que diabos é isso? - falo rindo -, vocês sabem que não é meu aniversário, certo?

Lucy revira os olhos.

- Sabemos Rog, mas só tinha essa faixa lá na loja e o Ben ficou com preguiça de dirigir até a outra que ficava 20 minutos mais distante - ela diz e Ben murmura um "O quê? A gasolina está cara!" -, de qualquer forma, é tudo comemoração então não faz diferença. Cala a boquinha e não reclame.

Brian gargalha e logo todos os meus amigos procuram maneiras de se acomodarem ali, respondo todas as perguntas de como eu estava me sentindo hoje e evito falar dos dias que passei em cárcere. Eles entendem e não insistem, respeitam meu momento, o que me faz muito grato.

- Temos uma boa notícia também - Ben diz e olha com expectativa para os outros rapazes que agora estavam sentados no chão da sala -, lembra quando você estava no hospital aquele dia, nós te falamos que tudo estava pronto para que finalmente pudéssemos lançar nossa primeira música na rede, certo? E fizemos isso! - afirmo com a cabeça lembrando vagamente, afinal a maioria dos dias que passei no hospital eu estava muito dopado de medicamentos para evitar dor. - We Will Rock You atingiu um milhão de streams e Killer Queen já ultrapassou essa marca. Mais de um milhão, blondie!

FIRST | maylorOnde as histórias ganham vida. Descobre agora