c a p í t u l o 1 7

Start from the beginning
                                    

— E você, uma adolescente, tinha como controlar uma pessoa com depressão, crises de ansiedade, problemas em vício de drogas e álcool? — Rebato e ela solta um suspiro de susto. — Me responde, Iris. Você teria como controlar alguém que não tinha um pingo de controle há tempos?

— Você não vai me ganhar com essa psicologia reversa. — Ela reclama fazendo cara feia e eu tenho vontade de sacudir seus ombros até o juízo voltar para o lugar certo.

— A questão não é ganhar, Iris. É você parar de carregar um peso que não é seu e conseguir viver tranquila com tudo o que aconteceu.

— Viver tranquila do mesmo jeito que você? Com a mesma tranquilidade que você tem quando foge pra ficar horas a fio se escondendo no quarto de hospital daquele garoto do acidente de moto? — Ela questiona ironicamente com a sobrancelha erguida e sinto como se tivesse levado um tapa no rosto. Respiro fundo antes de falar sentindo o ar pesado demais ao nosso redor.

— Justamente por não conseguir ficar bem dentro da minha própria casa que eu não quero que você passe por isso. Eu vivi anos da minha vida sem saber o que era me sentir amada por alguém e tinha o peso do mundo nas minhas costas por acreditar que tinha culpa na morte do meu pai. — Rebato num tom de voz rude e áspero, me aproximo e ela vira de costas pra mim. Espero até que ela vire mas quando vejo seus ombros balançando, começo falar mesmo sem conseguir olhar em seus olhos. — August e meu pai se foram e isso é uma merda? É. Sentimos falta deles? Todo santo dia. Temos culpa ou responsabilidade sobre isso? Não. A vida deles estava em nossas mãos? Não.  — Coloco a mão sobre seu ombro trêmulo e ela se vira me abraçando com força e chorando.

— Eu não consigo tirar de mim essa sensação de que poderia ter feito mais. Nós éramos melhores amigos e como eu não vi isso tudo acontecer?! — Ela resmunga entre soluços e passo a mão no seu cabelo.

— Você era amiga do August antes de toda aquela bagunça, Iris. Ele mudou bruscamente e você continuou presa a antiga imagem dele, e está tudo bem porque é difícil demais aceitar esse tipo de mudança. Ele era carinhoso e dividia todo e qualquer detalhe com você, e, de repente se trancou num cofre de tristeza e confusão. Você precisa entender que mesmo que você tivesse visto tudo isso chegando, o final não seria diferente porque o próprio August não via outra solução além do que ele, infelizmente, acabou fazendo. — Falo com um nó na garganta enquanto ela continua chorando baixinho. Ficamos abraçadas até que minha melhor amiga se afasta secando os olhos com uma expressão de dar dó.

— Você acha mesmo isso? — Sua voz é baixa e falha pelo choro.

— Eu tenho certeza. Já estive num lugar parecido com o dele, lembra? — Levanto meu braço esquerdo e ela assente com os olhos cheios de lágrimas não derramadas.

— Fingi por todo esse tempo que estava bem pra não deixar meus pais mais preocupados. Eles tentaram me levar pra fora do país  depois que mãe dele disse que era minha culpa. Isso ecoa na minha cabeça até hoje.

— Por acaso você dava as lâminas que ele usava pra se machucar? Você comprava as drogas, álcool e os remédios pra ele? Foi você quem deu os remédios e aquele veneno pra ele tomar? Até onde eu sei, você deu colo, respeito, compreensão e amor pra ele. Tudo o que ele deveria ter tido dentro de casa e não teve. — Minha voz falha e meu peito arde com uma raiva que quase me sufoca. — Olha, eu acho que você precisa entender o que aconteceu pelo ponto de vista dele, Iris. E isso só vai acontecer quando você ler todas as dezoito cartas que ele te deixou. Inclusive a última, que você deveria ter lido no aniversário de vocês.

— Tenho medo de saber como ele me enxergava, e se ele disser que eu tenho uma parcela de culpa nisso tudo?

— Conhecendo seu melhor amigo como você conhecia, acha mesmo que ele perderia tempo escrevendo dezoito cartas, se você fosse causadora de parte da tristeza dele?

The Only Reason - HSWhere stories live. Discover now