Capítulo 20

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- Senhora? – disse Laura ao tentar entender a cena que se seguia.

Se levantando, Marco começou a caminhar na direção da cama. Os seus passos eram dolorosamente lentos, o som que os seus pés emitiam ao deslizar pelo grande tapete faziam Verônica se sentir ainda mais desconfortável.

- Você não sabe o quão ansioso eu estava. O quão doloroso foi esperar por todo esse tempo... - ele fixou o olhar sobre Verônica.

Não entendendo nada do que estava acontecendo, e sentindo a tensão insuportável que impregnava todo o cômodo aumentar cada vez mais, Laura segurou Fabiana pelo braço e a incitou a levantar.

- Fabiana, querida... - sussurrou ela com a maior calma que podia – Vamos deixar eles à sós. Daqui a pouco a gente volta pra ver como está...

A outra bruxa não disse nada, ela apenas seguiu as ordens ao se levantar e seguir junto de Laura com urgência na direção da porta dupla do aposento.

- A senhora quer que eu fique? - disse Laura, apreensiva.

- E por que você deveria? - respondeu Marco, ríspido e seco.

Sem mais cerimônias, Laura abriu a porta e guiou Fabiana para além dela. Ainda receosa, ela virou a cabeça para trás e deu mais uma olhada para a sua Líder. Mas a mesma nem sequer percebeu a sua saída, de tão absorta que estava.

A porta dupla se fechou.

E estavam somente os três dentro daquele quarto.

- Marco... Você ainda não me respondeu... – ela insistia.

- Eu não aguentava mais ver os nossos semelhantes morrerem dia após dia... – ele deu a volta na cama e se ajoelhou a sua esquerda – Ver famílias sendo destruídas e não podendo fazer nada. Eles confiavam e mim, Verônica... – os olhos mortos dele tremiam por conta da adrenalina – Em mim!

Aquela atitude inesperada do vampiro acionou uma sirene insuportável dentro da cabeça da bruxa.

- Eles confiavam em mim... – ele encarava a criança – Mas eu não pude fazer nada. Não importava o quanto eu me esforçava, nada era útil. Mais desaparecidos e mortes surgiam a cada dia. Pais desesperados por descobrir que seus filhos haviam sido mortos, filhos desolados por não poderem ter mais a companhia de seus pais... Amigos, amantes... – apesar do discurso, ele se mantinha calmo.

- Ainda não entendo onde você quer chegar... – mesmo hesitante, Verônica firmou o seu abraço no recém-nascido.

- E sabe por que tudo isso? – Marco desviou o olhar da criança para ela – Por eles serem diferentes! – ele grunhiu – Por nós sermos diferentes! Apesar de termos sido amaldiçoados há séculos atrás, nós não temos culpa disso. Nenhum de nós escolheu nascer assim... - a frustração era palpável - Mas, mesmo assim, para eles não passamos de monstros, aberrações! Filhos do inferno...

Verônica podia ver ali, pela primeira vez, o que muitos diziam de seu companheiro: apesar de ele aparentar, por dentro, estar completamente devastado, por fora a sua placidez era incômoda. A calma proposital modificava a sua voz para algo incoerente, a combinação de palavras e sentimentos sem qualquer ligação.

- Desgraçados. – ele grunhiu – Maldita igreja... – os olhos dele estavam injetados – Os tais filhos de... - naquele momento ele simplesmente parou de falar.

E ao perceber o motivo ele gritou, em alto e bom som.

- Eles pensam que destruindo cada um de nós fará com que todo o mal que existe na terra seja aniquilado. Imbecis, hipócritas... - ele segurava o lençol com as duas mãos e o apertava, os nódulos de seus dedos embranquecendo por conta da força - Eu tentei fazer o que estava o meu alcance para salvar a todos... Mas eles sempre estavam um passo à frente...

As Sombras da AlmaWhere stories live. Discover now