Capítulo 6

28 7 0
                                    

Fora como em um piscar de olhos: em um instante estava ela conversando com Leon em meio a uma rodovia vazia, em outro, parecia estar em um veículo espaçoso e em movimento. Aquilo era confuso, afinal de contas ela não se lembrava de como é que havia parado naquele lugar.

Desviando os seus pensamentos, uma voz sussurrante a trouxe para a realidade. Ao seu lado havia um homem sentado junto a ela em um banco acolchoado, vestido da cabeça aos pés de preto. De sua boca era audível as suas preces e orações angustiadas.

Um padre.

Onde é que ela estava?

Do outro lado do veículo, um enfermeiro tentava o mais calmamente possível reproduzir uma massagem cardíaca em um homem prostrado sobre uma maca. Eram movimentos repetidos, sincronizados, mas que aparentemente não estavam funcionando.

- Ele não pode morrer... – o padre ao seu lado dizia – Não agora, não tão cedo...

E então pela primeira vez Laura olhou fixamente no rosto do enfermo. Ele tinha uma pele clara, cabelo castanho escuro, sobrancelhas pronunciadas e um queixo forte. Seu corpo era magro, mas robusto e pouco fraco. Uns trinta anos se assim pudesse dizer. Tinha uma beleza única, prazerosa de se admirar. Essa última constatação a envergonhou.

Mas ele não respirava. A cada segundo seu semblante ficava ainda mais pálido.

- Me desculpe perguntar, mas, o que houve com ele? – Laura perguntou para o homem que tentava o ressuscitar.

Como se a ignorasse, ele apenas lhe devolveu o silêncio.

Revoltada, virou o corpo e encarou o padre.

- E o senhor? Teria a gentileza?

Mas também fora ignorada.

Inquieta e se utilizando de uma das suas mãos livres, acenou em frente ao rosto apreensivo do padre, procurando alguma reação. Nada ocorreu. Ela tentou o tocar para que pudesse chamar a sua atenção, mas para a sua surpresa seu toque transpassou o corpo do homem, como se não possuísse matéria alguma.

Era como se estivesse e não naquele lugar, como uma espécie de projeção espiritual: ela conseguia assistir a tudo, mas não interagir.

Por que aquilo estava ocorrendo? E como aconteceu? Ela não se lembrava em momento algum de ter feito algum feitiço parecido, não havia lógica para...

E como se uma luz acendesse em sua mente, a óbvia explicação surgiu diante de seus olhos. Literalmente. Como ela não havia notado no primeiro instante? Era ele! Só podia ser! Quando ainda estava em seu corpo e conversando com Leon, ambos viram a pedra em seu colar brilhar em aviso.

Agora algumas coisas faziam sentido.

- Rápido! – gritou o enfermeiro para o motorista, e depois se virou para o padre – Nós não temos muito tempo, ele pode acabar ficando com alguma sequela...

- Sequela? – a voz do padre saiu alquebrada – De que tipo?

- Se o corpo dele permanecer muito tempo sem a irrigação de sangue, os seus órgãos vão começar a falhar e ele...

- Por favor, não me diga que ele pode... – disse o homem de Deus, inconformado.

Morrer? Não provavelmente ele não iria. Mas algo bem pior viria no lugar..., pensou Laura.

Durante muitos anos de sua vida, ela tentou como pode contatá-lo antes que tudo isso começasse. Sendo ela uma bruxa, usou tudo o que estava ao seu alcance para poder encontra-lo. Mas nunca houvera sinal algum de onde ele pudesse estar, nenhuma dica sequer. Chegou em um determinado tempo que até a frustração a tomou.

As Sombras da AlmaWhere stories live. Discover now