Capítulo 2

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Theo sentiu um calor ameno o encobrir. Era reconfortante, conhecido e acolhedor. Seus olhos abriram aos poucos, vislumbrando assim o chão que estava de encontro ao seu rosto. Estava deitado de bruços, com os braços acima da cabeça e a mesma virada para a única janela do quarto, enquanto dela se entrava os raios do sol.

Ele parecia completamente exausto, sentindo leves formigamentos nos membros. Theo tentou com os braços, se apoiar ao chão, fazendo força para conseguir se sentar. Foi vagaroso, mas deu certo. Uma de suas mãos fora diretamente para parte de trás da sua cabeça, encontrando lá um pequeno calombo doloroso.

Ele deveria ter caído e batido com a cabeça em algum lugar. Que ótimo!

O que diabos estava acontecendo com ele?

Com urgência seguiu até a cama, de joelhos, e pegou o celular que repousava sobre ela. Apreensivo, apertou o único botão que havia na parte frontal do aparelho e esperou por uma resposta.

Sem bateria.

Mas que merda... – pensou ele devolvendo-o a cama.

Respirando fundo, decidiu de pronto que a melhor coisa a se fazer seria ir o mais rápido possível ao hospital e rezar que dessa vez conseguissem resolver logo esse problema ou, pelos menos, descobrir do que realmente tudo isso se tratava.

Esperou paciente, durante algum tempo, que um pouco de seu mal-estar passasse para que pudesse seguir sem dificuldades. Depois se levantou, usando todas as forçar que tinha, e seguiu a passos lentos em direção ao banheiro. Dentro do cômodo, apoiou o peso do corpo com as mãos na pequena pia de louça e levantou a cabeça. A sua frente havia um espelho de tamanho considerável, o permitindo ver o seu rosto amassado e inchado, além do tronco esbelto.

Pensativo, abriu rapidamente a torneira, enchendo as mãos com a água gelada que saia, e as levando diretamente ao rosto. Terminado, pegou sua escova e limpou rapidamente os dentes. Se enxaguou, e se secou ágil com uma toalha de rosto pendurada em um gancho na parede.

E foi com esse singelo último movimento que Theo percebeu o bizarro: o seu reflexo, idêntico e imutável, de um instante a outro havia parado de o "imitar". O mesmo apenas estava parado, com um olhar rígido e frio dirigido a ele.

Isso é impossível - disse a si mesmo. Atônito, se moveu para trás e para frente esperando que houvesse uma resposta previsível. Mas nada ocorreu. O seu "eu" continuava da mesma forma: parado e sem perder em momento algum o foco nele.

Tentando entender, se aproximou e estendeu a mão ao espelho, curioso, e ao mesmo tempo receoso. Tocou com os dedos a reflexão desalmada de si mesmo, sentindo-os escorregarem pela superfície lisa do vidro.

- Chega. – Disse ele se afastando do espelho – Respire, - repetia para si como um mantra – respire...

Em complemento fechou os olhos.

- Você só precisa se acalmar... – disse para si – Relaxe...

Quando abriu os olhos, Theo se viu de frente com uma das cenas mais apavorantes que já havia visto em sua vida: o reflexo, que antes estava estático, agora espalmava o vidro pelo interior do espelho e sorria deliciado e maligno para ele.

- Mas que... – ele não conseguia terminar.

Ainda sorrindo, Theo viu o reflexo balbuciar:

- Você é meu...

Aquilo fez os pelos de seu corpo se arrepiarem, ao mesmo tempo em que um medo involuntário se apoderou de seu corpo. Era a sua própria voz que reverberava através do espelho!

As Sombras da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora