Antigo Laço Raro

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O vento soprava forte nas pernas nuas de Anabella, cobertas com o tecido de sua saia xadrez justa, apesar de usar um suéter de mangas longas e uma gola média, sua malha era fina demais, aparentemente tinha atravessado em uma estação diferente também.

Abraçando seus braços para tentar conter seu calor, Anabella olhava a sua volta embasbacada, sem acreditar que estava realmente ali, com aquela vista do céu estrelado que imaginou anos atrás.

Ela se virou e a porta que tinha lhe levado até ali já desaparecera, assim como Rhysand e sua doce risada que a atraíra. Porém ao ouvir o som de galhos se chocando, percebeu que não estava sozinha, e o terror maior, que fez com que prendesse sua respiração, foi o fato de os galhos continuarem batendo e não acompanharem barulho algum de passos.

Ao primeiro passo de Anabella intencionava correr o mais rápido que podia para o mais longe possível, mas foi interrompida pela figura alta e magra sob uma túnica escura e impecável.

Suriel.

— Seus trajes são melhores que eu imaginava. — disse Anabella.

— Eu não sou quem você pensa, menina. — respondeu a figura assustadora de volta para ela. Sua voz em uma delicadeza grotesca.

— Achei que só aparecia depois de um balde de galinhas frescas. — Anabella não conseguiu disfarçar o medo em sua voz tão bem quanto queria.

— Você não é quem pensa que se transformou, mas se transformou em quem pensa que é. — respondeu Suriel.

Anabella franziu o cenho diante dessas palavras, e se concentrou em si mesma, reparando nas pontas de seu cabelo, ainda loiras douradas, não a cor do cabelo das irmãs Archeron, ela não era Feyre Archeron como tinha descrito no script, nem estava na corte primaveril, ao olhar para si e para sua volta, começou a raciocinar sua localização, estava na corte noturna, e provavelmente próxima à Velaris, e ainda era ela mesma.

— Eu não sou Feyre, por que está aqui se não sou Feyre e definitivamente não o capturei. — perguntou Anabella para o Suriel e ao mesmo tempo para ela mesma.

— Cumpro com meus acordos, menina. — disse o Suriel ríspido. — Quem você acha que sou está morto, e devo isso a ele.

Anabella não caiu na parte da história que desejava, não fazia ideia de onde estava.

Instintos, de um feérico para o outro, confie nos seus instintos, eles o levarão para a sua ligação. — continuou o Suriel. — Laço mais forte e raro que já andou por essas terras, mas antigo que eu mesmo e que toda Phythian, a outra ponta de seu laço possui e conhece diversos laços, confie nela, irá te guiar. Sua união é forte e estável, o poder dela é seu e o seu é dela, são um só, dois lados de uma mesma moeda, juntas são mais fortes. Tenha uma boa jornada.

O Suriel se aproximou dela, de sua garganta, com suas unhas amarelas e rachadas arrancou o colar de ouro que ela não tinha tido coragem de tirar, assim ele desapareceu levando o colar e deixando Anabella sozinha na fria e densa floresta.

Instintos... De um feérico para outro...

Anabella ligava as palavras em sua cabeça de diversas maneiras, o vento congelante não a deixava pensar, se concentrar fixamente, deixando sua cabeça bagunçada e barulhenta. Anabella bufou e colocou as mãos nos ouvidos a fim de tapá-los para que se foca-se melhor no que tinha que desvendar. Ao toque, sentiu suas orelhas mais retas e pontiagudas, mesmo que pequenas, estavam pontiagudas.

Assim tudo fez sentido, nesse mundo ela era feérica, e tinha de confiar em seus instintos selvagens como tal. Fechou os olhos tentando juntar o máximo de concentração possível ao centro de seu corpo, seu torso esquentava com a concentração de poder, respirou fundo, sentindo o vento frio entrar empurrando-a para onde precisava ir, sua visão estava azul, agarrando nesse azul profundo, ela atravessou.

    ***

Anabella caiu de joelhos em uma grama de frente a rosas azuis, lindas rosas que compunham um jardim mais lindo ainda, com um sorriso largo ela levantou e limpou seus joelhos sujos de grama.

Aquele canalha levou meu colar. Pensou Anabella.

Avistou Feyre — quem achava ser Feyre pelo menos — andando mais a frente com leggings sujas de tinta nas coxas. Correu até ela.

— Com licença, Grã-Senhora? — falou Anabella, achando que seria o mais adequado.

— Sim, o que está fazendo em minha propriedade? — perguntou Feyre desconfiada.

— Desculpe não bater a porta, não controlo muito bem isso. — respondeu Anabella, tentando encontrar as palavras certas. — Acredito que tenhamos um assunto a tratar, uma ligação.

— Quem é você? Do que está falando? — respondeu Feyre, dando alguns passos para trás.

Como explicar isso? Nem eu mesma consigo entender, mas é um sentimento forte. Anabella pensou.

— Me chamo Anabella, não acho que saiba de onde sou, de outro mundo digamos. — disse Anabella, se atropelando nas palavras. — Acredito que temos uma ligação Grã-Senhora. Venha comigo.

Anabella adentrou o jardim, torcendo para que Feyre a seguisse, ao encontrar um ponto escondido por plantas altas, Anabella se virou e encontrou Feyre indo ao seu alcance.

— As coisas estão confusas agora, mas precisamos seguir nossos instintos. — disse Anabella, procurando em sua mente um modo de conectá-las.

Olhando profundamente nos olhos azuis-acinzentados de Feyre, Anabella lembrou-se da ligação mais antiga que sua cabeça pode achar em meio aos arquivos de livros que leu durante os anos, o laço carranam, elas poderiam ser compatíveis.

— Por que não consigo acessar sua mente? — perguntou Feyre firmemente.

— Eu não sei. — respondeu Anabella confusa. — Poderia me emprestar sua adaga? — disse Anabella apontando para o coldre na cintura de Feyre.

Feyre a olhou estranho mas lhe entregou a adaga, Anabella a pegou e fez uma pequena incisão na palma de sua mão, entregando a adaga de volta a Feyre.

— Eu sinto o seu sangue. — disse Feyre — É como se fosse um chamado.

— Confie nos seus instintos. — respondeu Anabella repetindo as palavras do Suriel.

Assim Feyre o fez, cortando a palma de sua mão também e guardando a adaga de volta no coldre. No momento em que o sangue começou escorrer na mão de Feyre, Anabella conseguia sentir a Grã-feérica, conseguia sentir sua essência plena e completa. 

Anabella levou sua mão sangrando ao alcance da Grã-feérica, que a segurou com sua própria mão cortada, juntado os sangues. As duas caíram de joelhos se apoiando uma a outra, Anabella conseguiu sentiu a conexão se ligando, como se as duas se fundissem em uma só. 

O poder exorbitante de Feyre entrava em seu corpo, circulando por seu sangue, em suas veias, cada um dos dons de Feyre se desabrochando no peito de Anabella, toda sua energia passando para Feyre. Anabella sentia que todo seu controle passava para Feyre, sua garganta queimava, seu corpo estava ficando pesado, o corpo de Feyre cedeu e Anabella a sustentou, não deixando-a cair. 

Subitamente foi jogada para longe de Feyre, cortando o contato de suas mãos pela ligação.

As costas de Anabella arderam de dor ao se espatifar no chão de concreto onde foi jogada, sem um momento para retomar o fôlego que o laço a havia tomado, uma mão forte a puxou pela gola, a predendo com uma adaga em sua garganta.

Sua mão ardia mais que o inferno. Ao ouvir um grito de Feyre, observou o corte em sua mão se fechando com desenhos arabescos... Não eram desenhos, era uma palavra em um idioma antigo e estrangeiro, um que Anabella não conhecia, mas identificou a fina palavra, conseguia sentir o significado, Carranam.

Seu corpo cedeu quando o corte se fechou, deixando aquela palavra gravada em sua palma. Suas costas se encontraram a um peitoral rígido e duro, que a esse ponto mais a segurava que prendia.

— Tire essa adaga do pescoço dela e ajude-a, Azriel. — gritou Feyre.

A última coisa que Anabella sentiu antes de seu olhos cederem junto ao seu corpo, foi o toque de Feyre, segurando sua mão, enquanto Azriel a deitava na grama.

Corte de Sombras e OuroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora