III - Importância

Start from the beginning
                                    

Ela quis revirar os olhos de tanta breguice. Mas tinha de admitir que gostava e achava meigo o modo como Cassian estava cuidando dela.

Ele não parava de encará-la, parado em pé na ponta de sua cama. Devagar, ele se sentou no colchão macio e se aproximou.

— Você fica mais linda ainda de cabelos soltos. — disse Cassian, sem pensar. Ela corou, mas continuo com a expressão séria. Ele olhou para o chão do quarto dessa vez ao dizer — Vou embora, notoriamente você não me quer aqui. Não sei porque ainda insisto... Só devolva isso — apontou para os objetos na cabeceira — a bancada da cozinha quando acabar, para não bagunçar a casa toda. — ele se levantou e se virou para a saída.

Cassian hesitou ao ouvir apenas uma palavra de Nestha.

— Fique

— Por que? — ele perguntou, encarando as íris azuis de Nestha, mas com a voz baixa.

— Porque eu ... — Nestha engoliu o seco. — Não quero... Jantar sozinha, você sabe. Não tem graça criticar sua comida sem você estar aqui para ouvir — disse por fim, cruzando as pernas em formato borboleta e apoiando a bandeja em seu colo.

— Cuidado, qualquer dia vai morrer engasgada com essa sua inveja encubada por eu cozinhar bem e você nem ao menos saber. — ele provocou.

— Minha culinária é insuficiente por falta de prática. Aposto que eu seria uma cozinheira ainda melhor que você — Nestha tentou se defender, logo após tomou a sopa que por hábito estava saborosa.

— Então está se oferecendo para fazer o próximo jantar? — ele arqueou a sobrancelha.

— Não foi o que eu disse. — ela cerrou os olhos.

Ele riu baixinho e a observou intensamente.

As mãos de Nestha colocando o cabelo atrás da orelha e deslocando todos os fios atrás de seus ombros, para não cair na comida.

— Gostaria que eu te ensinasse então? — Cassian perguntou, ansioso pela resposta.

Como se Nestha farejasse o cheiro de suas intenções, perguntou:

— Por que o interesse repentino em me colocar contra o fogão? Cansado de ser o único cozinheiro dessa casa?

Silêncio se deu por alguns minutos

— Você não faz ideia, não é? — Cassian olhava para suas mãos sobre seu colo como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

— Ideia de quê?

— Não é a questão da comida em si ou dividir as tarefas. Para nós, machos... Quando a fêmea cozinha para nós — ele hesitou e voltou a olhá-la. — Quer dizer que ela aceita a relação.

Nestha tinha acabado sua refeição, deixou o recipiente de metal na cabeceira novamente. Começou a suar frio, mas perguntou:

— E qual seria a nossa relação, Cassian?

Ele cerrou o punho e passou uma das mãos pelo queixo. Raciocinando como responderia aquilo.

— Nossa relação é o que você quiser que seja, Nestha. — disse Cassian por fim, se aproximando dela.

— Eu quero uma relação que você pare de encher meu saco, cozinhe o tempo todo, me deixa ler em paz e mantenha metros de distância da minha cama. — ela tentava descontrair e quebrar a tensão — Que tal?

— Eu quero uma relação que você pare de ser tão rabugenta, mandona e orgulhosa. — Cassian agora estava próximo demais dela. — Que me deixe ser seu amigo quando você notoriamente não tem nenhum.

Doeu, doeu no fundo da alma de Nestha.

— Não disse por mal, eu quero que me deixe cuidar de você — ele envolveu o rosto de Nestha com uma mão e com a outra afagou seus cabelos. — Porque eu me importo Ness... Eu me importo com você.

Nestha estremeceu com seu apelido nos lábios de Cassian. A pessoa que mais a irritava era a única que se importava com ela afinal.

Os dedos de Cassian percorreu o desenho dos lábios de Nestha, fazendo-a fechar os olhos por um momento.

Ela se recompôs depois de alguns segundos e tomou coragem para olhá-lo nos olhos.

— Eu acho que... Em breve o jantar pode ser por minha conta, desde que seja meu guia. — disse ela por fim. Sabendo exatamente o que significava aquelas palavras.

— Seria um prazer, Nestha Archeron — Cassian prestou uma falsa continência e não conseguiu disfarçar o sorriso.

Se levantou, mas não antes de desejar boa noite a ela e beijar sua têmpora. Por fim, retirou a louça do jantar e se retirou do recinto.

A Corte de Sombras e RuínaWhere stories live. Discover now