2. Maldito seja Brenden Davies

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Me olho no espelho do banheiro.

A maquiagem que uso é leve e quase não se destaca em minha pele bronzeada.

Passo um pouco mais de corretivo nas olheiras que ganhei nos últimos dias pelo excesso de remédios que eu estava tomando para conseguir dormir e combater minha ansiedade, devido a toda merda que Brenden me fez passar recentemente.

Eu nunca pensei que um dia isso iria acontecer.

E eu estava odiando o fato de ter confiado nele e que na primeira oportunidade se viu no direito de deixar os amigos verem a minha foto e ainda publicá-la.

Coloco o corretivo no canto do lavatório e arrumo às duas mechas do meu cabelo atrás dá orelha e abro o armário abaixo da pia, pegando uma pequena bolsa branca e a coloco sobre o mármore claro.

Abro o zíper e retiro um potinho laranja de remédio. Mordo os lábios fortemente.

Alprazolam.

Passo o polegar levemente sobre o nome do medicamento.

Nos últimos dias a minha salvação para não surtar com todos os comentários que li ao meu respeito nas redes sociais — falando coisas absurdas —, são os remédios que estou tomando diariamente para conter a minha ansiedade.

O meu tratamento já finalizou a algumas semanas e minha psiquiatra havia me alertado de que se minhas crises voltassem, eu poderia ligar e marcar um horário.

Mas só de pensar em ter que refazer nossas sessões de terapia e contar o que aconteceu recentemente para ela, não é nada que eu já esteja pronta para fazer.

Chacoalho o pote em direção a minha palma, na tentativa de deixar apenas uma pílula cair. Direciono-a à minha boca e a engulo em seco.

Me olho no espelho mais uma vez.

Eu não me sentia pronta para ir para a escola ainda, mas uma hora ou outra eu teria que aparecer.

Guardo a bolsa no mesmo lugar e me retiro do banheiro, caminhando até a minha cama e jogando o remédio que havia tomado na mochila.

Desço as escadas vagarosamente, encontrando minha mãe que assistia algum programa na televisão.

— Pensei que ficaria mais alguns dias em casa — ela comenta assim que nota minha presença.

Eu tinha algumas semelhanças com Nora. Meus cabelos loiros dourados são idênticos aos dela e diferente dos meus olhos que eram verdes — que acabei por herdá-los do meu pai — o da mulher a minha frente, eram azuis como o céu.

— Terei que voltar a ir um dia — pego minhas chaves em cima da estante onde estava posicionada a grande tevê, dando de ombros.

Ela se levanta do sofá suspirando e caminha até mim, segurando meus ombros levemente.

— Estar mesmo pronta ir? — me analisa, apreensiva.

Quando contei a ela o que Brenden havia feito comigo, diferente do que pensei, ela ficou do meu lado o tempo todo. Não tínhamos mais uma conexão como mãe e filha desde a sua separação com o meu pai no meu aniversário de doze anos.

Faltava apenas algumas horas para os convidados chegarem para minha festa e eu estava me arrumando no meu quarto para recebe-los, quando a discussão entre eles começou.

Ambos não haviam se esforçado nem um pouco para não serem ouvidos por mim e os gritos constantes da minha mãe e coisas sendo quebradas, deixava claro que algo muito ruim meu pai havia feito que a enfureceu tanto, a ponto de permitir eu ouvir os seus berros, o que ela nunca deixava acontecer.

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