A confiança

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ZAYN

Sentia meu corpo pesado como se estivesse participado de uma batalha de mil anos e ela ainda não havia cessado. Não houve vitórias, mas também não houve derrotas, parecia uma luta sem fim. Estava exausto, absurdamente cansado até de respirar, era como puxar o ar com todas minhas forças e ele mal entrar. Forcei minhas pálpebras e com bastante esforço mesmo consegui abrir meus olhos, não enxergando nada de imediato.

Virei meu rosto e senti um cheiro familiar. Virei de novo e uma claridade tomou minha vista, me deixando mais tonto então levantei meu braço, tentando me esconder daquela luz toda. Então ela foi diminuindo bem aos poucos, bem lentamente. Meus olhos passaram pelo lugar, eu me lembrava daquele lugar e sabia que não era o castelo. Parei na figura do meu marido ali, ficando surpreso por ele estar aqui comigo. Seus olhos verdes estavam no meus e continha preocupação neles.

—  Harry... —  o chamei, sentindo tudo dentro de mim se aliviar. —  Você é real?

Ergui minha mão para ele se aproximar de mim, queria sentir seu toque para ter certeza se não era um truque da minha mente.

—  Não se mexa, príncipe. —  ouvi a voz da velha curandeira. —  Vai me dizer que não se lembra de mim, Zayn?

Pisquei meus olhos com força, engolindo a seco e a olhando direito.

—  Leve-me para o castelo imediatamente. —  ordenei, sendo ríspido.

—  Não precisa bancar o bruto comigo. Não há ninguém aqui para lhe dar lições, Zayn, não precisa dessa máscara comigo. Eu sei quem você é e você sabe muito bem disso. —  sua voz ainda era a mesma, suave. Doce e autoritária.

Flashback:

Madame Louise  preparava o chá e eu espirrava bastante, não parava de tossir e me sentia tonto. Ela colocava sua mão na minha testa o tempo inteiro e depois trocava os curativos naquela ferida profunda na minha perna. Tinha sido atingido no treino e meu pai me puniu severamente por ter perdido aquela batalha na frente de todos.

—  Você tem apenas onze anos... —  resmungou, me entregando um copo com algo que não me agradou muito não. Mas eu bebi mesmo assim porque eu não era nem doido de discutir com a Madame Louise. Ela sempre cuidou de mim mesmo que as ordens do meu pai fosse para não cuidar demais. Porém, a Madome Louise sempre desrespeitou meu pai nesse quesito, ela odiava a forma como ele me tratava, como me criava.

Ela me dizia que não era fraqueza demonstrar gentileza e amor.

—  O chá é horrível. Tem gosto de cocô. —  resmunguei, colocando minha língua pra fora querendo cuspir, mas ela segurou meu rosto para cima para eu não fazer aquilo.

—  Você nunca comeu cocô pra saber o gosto, Zayn. Seja um bom menino e tome, vai ajudar com a dor. —  disse calmamente, alisando meu rosto e depois se afastando, fuçando em algumas coisas na cozinha. —  Se tomar tudinho eu te dou o bolo de frutas.

Abri o maior sorriso do mundo com aquela promessa e virei o chá como se minha vida dependesse daquilo.

—  Eu tenho muita sorte de ter na minha vida. —  sussurrei baixinho para ela quando a mesma me entregou um pedaço do bolo.

—  Lembre-se nem todos devem ser tratados com violência e brutalidade, por favor.

Flashback off.

Madame Louise havia sido proibida de cuidar de mim novamente depois desse incidente, mas ela nunca abandonou o reino de fato. Ela sempre ficou por aqui, por perto, só não podia mais entrar no castelo. Meus olhos estavam fixos naquela senhora que me entregava mais dos seus chás. Encarei o líquido com uma leve careta por causa do cheiro forte e horrível que sempre tinha.

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