[36]

2.2K 205 383
                                    

Sina.

Continuei provocando Noah, até cheguei a rebolar em seu colo, mas momento algum deixei ele me beijar. Sempre que via a taça dele seca, eu fazia questão de encher e devolvia para ele, sentando em seu colo outra vez.

Noah já estava alterado e não falava mais coisa com coisa. Conversávamos sobre o aquecimento global e ele do nada me soltava umas frases filosóficas. Ria de tudo o que eu falava, porque era engraçado. Nunca tinha visto Noah daquele jeito.

Antes de executar o meu plano, eu tinha ido no cartório e pedido que eles me deixassem levar para casa o papel do divórcio. Até com o juiz que tinha lá eu tive que falar para que me autorizassem. Assinei um termo de responsabilidade e disse que levaria o papel com a assinatura do meu marido em breve. E era o que eu iria fazer amanhã.

— Volto já. — Beijei seu pescoço e subi as escadas, entrando no quarto e indo até a minha parte do closet, abrindo a última gaveta e tirando um envelope de lá de dentro.

Peguei uma caneta e voltei correndo para a sala, onde encontrei Noah dormindo com a taça de vinho virada em cima dele. Em outra situação, eu iria brigar por ele ter melado tudo, mas agora eu nem ligava.

— Ei. — O chacoalhei pelos ombros. — Acorda.

— Hum. — Ele gemeu, coçando os olhos e os abriu, olhando em meu rosto sem entender nada. — O que foi?

— Assina aqui. — Entreguei a ele o papel e a caneta e apontei para a linha que ele deveria assinar.

— O que é isso? — Ele falou embolado.

— Nada que te interessa, só assina. — Disse, impaciente.

— Eu vou ganhar o que eu quero se eu assinar? — Perguntou, dando aquele sorriso malicioso. Revirei os olhos e disse que sim. Rapidamente ele assinou o papel e me entregou.

— Vou só pegar a camisinha. — Me levantei outra vez e subi correndo para o quarto. Guardei o papel no envelope e o escondi outra vez. Vesti o meu pijama e amarrei os meus cabelos.

Desci para a sala apenas para conferir que Noah tinha apagado. Corri para o quarto outra vez e fechei a porta, começando a pular de alegria em seguida. Eu tinha conseguido! E foda-se que eu tinha jogado sujo para conseguir, eu consegui e era isso que importava.

Enquanto Noah dormia feito pedra na sala, eu arrumava todas as minhas coisas dentro de três malas. Pretendia sair pela manhã e não voltar. Coloquei todas as minhas roupas em duas malas e meus calçados e outros itens como meus produtos e livros em outra. Saí pegando pela casa tudo o que era meu e joguei dentro da mala.

Me assustei ao ver a luz entrar no quarto pela janela. Passei a madrugada toda arrumando as coisas e não teria mais tempo para dormir. Tomei um banho gelado para despertar, coloquei uma roupa apresentável e passei uma maquiagem em meu rosto. Cuidadosamente para não fazer barulho, desci as escadas com minhas coisas e joguei tudo no carro. Ainda não sabia para onde ir, mas sabia que aqui não ficaria mais um segundo sequer. Liguei para o meu advogado e pedi que ele comparecesse ao cartório em uma hora e entrei na casa mais uma vez.

Enchi um copo com água, peguei um remédio para dor de cabeça e o coloquei ao lado. Peguei um pedaço de papel e a caneta usada por Noah ontem e comecei a escrever um bilhete.

Oi, Noah, ou ex-marido, como quiser.
Sim, isso mesmo que você leu. Talvez você não lembre nada do que aconteceu ontem, talvez você tenha fingido que estava bêbado e esperava por isso, não sei. Fiz você assinar o papel do divórcio. Até que foi fácil, haha. Falei que iria conseguir, mesmo que para isso eu tivesse que jogar sujo. Agora eu sou oficialmente solteira e não tem como voltar atrás nisso. Sinto muito. Ou não.
Obrigada pelos anos que passamos juntos. Obrigada por dividir a mesa do refeitório da faculdade comigo, obrigada por apanhar meu livro que caiu no chão, obrigada por me beijar atrás do prédio de exatas. Obrigada por segurar a minha mão, por me apoiar e por estar comigo em todos os momentos. Obrigada também por me fazer sofrer e viver um casamento infernal, obrigada pelos pares de chifres que me colocou durante esses anos, e muito obrigada por não me amar.
O nosso ciclo se encerra aqui e infelizmente não é como eu imaginei. Por favor, não me procure ou tente dizer que se arrepende, esse disco eu ouvi até ao contrário. Se você me ama e me respeita, me permita ser feliz. Se você quiser ter contato com essa criança que até então é minha, a gente conversa quando ela nascer e pensamos em algo para que ela possa ter contato com você também.
Não me procure, não me ligue, esqueça que eu existo.
Seja muito feliz sem mim, assim como você sempre foi antes.
Mais uma vez, grata por tudo (pelas coisas boas e ruins) e quem sabe um dia a gente se encontre por .
Um grande abraço, de sua ex-esposa (que sensação gostosa de poder falar isso),
Sina Deinert e Baby Deinert (agora falo por dois).

STARTING OVER ↯ noartWhere stories live. Discover now