Capítulo 8 Cecília

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Cecília


Acordo com a chuva ainda forte,mas estranho o fato de acordar na minha cama,afinal minha última lembrança era de estar na sala conversando com Gabriel sobre sua vida e de apagar lá mesmo, quando o sono me tomou.Deixo o pensamento de lado e me levanto indo para o banheiro, fazer minhas higienes matinais,saindo do quarto logo em seguida,indo em direção a cozinha e ouvindo Lia falando algo sobre descansar e se desconectar.
- Bom dia! Cumprimento quando chego.
- Bom dia! Respondem juntos.
- Dormiu bem minha menina? Ana me pergunta.
- Sim,apesar de ter perdido o sono por um período.
- Fiquei sabendo,mas achei que esse medo de tempestade já havia passado!
- Não é medo,apenas não gosto de tempestades!
- Sabemos bem,agora se senta para comer e receber uma notícia!
- Que notícia,aconteceu algo com alguém lá de casa? Pergunto apreensiva.
- Nada com sua família pequena,apenas estamos presos aqui! Gabriel diz carinhoso e depositando um beijo no dorso da minha mão, assim que me sento ao seu lado.
- Presos aqui?
- Sim menina,a chuva foi mais forte do que pareceu e encheu o rio,fazendo a ponte cair!
- Meu Deus! Podemos ir pela estrada sem asfalto!
- Não,não podem,a estrada virou lama pura,quem tentou passar por lá, ou derrapou e bateu em árvores ou ficou atolados,então a orientação é que ninguém entra e ninguém sai até que a chuva passe e consigam patrolar a estrada.
- Ou seja,estamos presos aqui sem previsão de voltar para a cidade e isso é o máximo! Lia diz eufórica.
- Minha tia,Rosália e tia Dora já sabem disso? Pergunto ignorando Lia e sua euforia exagerada.
- Sabem sim,a Ana ligou cedo para sua tia,que avisou para minha mãe e Dora, e todos concordaram de por enquanto a gente fica aqui,se caso demorar muito a estabilizar a situação,vão fretar um helicoptero.
- Isso mesmo,agora tomem o café em paz, enquanto isso eu vou resolver algumas coisas em casa.
- Eu vou lá falar com a Ton! Lia diz se levantando e seguindo Ana.
- Está tudo bem Cecília? Gabriel pergunta após alguns minutos de silêncio.
- Sim,mas agora estou me sentindo culpada por vocês estarem presos aqui!
- Ei pequena,você não tem culpa das condições climáticas e tem mais,Lia está fazendo festa desde cedo e eu estou adorando a idéia de passar mais tempo com você!
- Humm,não está chateado mesmo? Pode ser que isso demore mais de dias ou até mesmo semanas!
- Se a gente começar a querer matar um ao outro, eu ligo para minha mãe e pedimos o helicoptero para o mesmo dia,rsrs!
- Desnecessário isso,mas estou até estranhando o fato da minha tia não ter alugado um hoje mesmo.
- Bem ,ela e minha mãe queriam isso,na verdade fizeram,mas ainda chove muito,ninguém quis arriscar e eu disse que só ia deixar meu carro aqui em último caso.
- OK,vamos ver quanto tempo vivemos, Lia,você e eu debaixo do mesmo teto?
- Veremos então pequena porcelana! Ele diz e beija minha bochecha.
- Humm,agora ganhei mais um apelido?
- Sim,mas esse tem que ser exclusivo meu!
- Se cada ser nesse mundo, me der um apelido,estou literalmente encrencada,agora me diz,você que me levou para o quarto?
- Você estava muito desconfortável naquele sofá!
- Obrigada! Vamos dar uma volta na cidade?
- A hora que você quiser senhorita!
- Pode ser agora então?
- Você não vai se trocar?
- Não pretendia,essa roupa está ruim?
- Está ótima,mas patricinhas gostam de se enfeitarem para irem na padaria,achei que você ia querer fazer isso para ir na cidade! Rsrs.
- Eu não sou patricinha,vamos chamar Lia e depois vamos!
- Antes falta uma coisa! Ele diz assim que me levanto e me puxa, me dando um beijo. - Agora podemos ir.
Sorrio boba e saímos os dois em busca de Lia,mas do lado de fora descobrimos que ela e Antonela já foram para a cidade com Zé,então depois de ouvir as orientações de Ana,nós dois seguimos para a cidade,a cada poça de lama,Gabriel fazia uma careta e eu morria de rir, sabendo que era por conta do carro dele,assim que chegamos na cidade vejo algumas barraquinhas com artesanato local,peço a Gabriel que pare e assim que descemos do carro a sua expressão de horror ao ver o carro é motivo suficiente para que eu sorria abertamente.
- Isso mesmo,ri da desgraça alheia,você sabia que eu lavei ele só para vir aqui?
- Meu Deus,quem em sã consciência lava um carro para vir no interior?
- Ok,não foi muito inteligente da minha parte,mas coitado do meu carro,acho que essa lama nunca mais vai sair!
- Que exagero,detergente e água ti...
- Cecília? Cecília Campanaro? Um rapaz não estranho me pergunta,interrompendo eu caçoar de Gabriel.
- Sim,em que posso ajudar?
- Ei,sou Victor Martinez,meus pais tem uma fazenda perto do Jorge!
- Ah sim,desculpe não te reconheci,tudo bem?
- Sem problemas,estou bem sim e você?
- Muito bem,obrigada... Gabriel finge tossir e eu sei que é para chamar atenção. - Deixa eu te apresentar,esse é Gabriel Vasconcelos...
- O namorado! Gabriel diz me interrompendo.
- Prazer cara,eu vi algumas reportagens sobre vocês!
- Eh,muita gente viu! Gabriel diz com desdém.
- Verdade,mas e ai, Antonela disse que vão ficar aqui até passar esse caos!
- É o jeito né,achei que você não morava mais na cidade! Tento manter o foco na conversa,mas minha cabeça martela a palavra namorado.
- Eu cheguei a ir embora,na verdade fui estudar e voltei a duas semanas,logo depois que colei grau,meu pai não está muito bem de saúde.
- Entendi,mas é grave?
- Não,é mais por conta da idade mesmo e também preciso resolver as coisas para meu casamento!
- Vamos Cecília? Gabriel diz antes que eu responda.
- Nossa agarrei vocês,não queria atrapalhar,falei com a Ton e sua amiga que está com ela,vamos fazer roda de fogueira até dia trinta,apareçam lá.
- Vamos sim,lembranças para sua família!
- Obrigado,bom deixa eu ir,prazer em conhecer você Gabriel!
- Igualmente! Os dois apertam as mãos e sem que eu espere Vitor me abraça em despedida e logo depois vai embora.
- Namorado?E precisava ser tão rude com o garoto? Pergunto assim que ficamos apenas Gabriel e eu.
- Sim para as duas perguntas,o folgado estava dando em cima de você.
- Quando mesmo falamos de namoro?
- Não sabia que vocês dois iam vir passear aqui também! Lia interrompe nossa conversa antes de Gabriel me responder.
- Deve ser porque você não perguntou! Gabriel responde de maneira ríspida.
- Não sabia que na fazenda trocavam ferraduras em humanos também! Lia rebate no mesmo tom.
- Acho que precisamos ir na barraca de sucos e comprar uns dois de maracujá! Antonela diz tentando dissipar a tensão do momento e eu saio andando para longe dos três.
- Onde você vai Cecília? Gabriel corre até mim e me pergunta.
- Para casa,perdi a vontade de ficar aqui!
- Ei,espera,me desculpa,eu só fiquei com ciúmes daquele cara com você!
- E por isso precisava tratar ele com desdém e ser ignorante com a Lia?
- Não,não precisava,mas poxa pequena,você também não colabora sendo gentil ao extremo né e eu já pedi desculpas!
- Não é a mim que você deve desculpas,mas sim ao Vitor e a Lia!
- Eu sei,vou me desculpar com a Lia e vamos na tal roda de fogueira e eu me desculpo com o cara,agora podemos não discutir mais?
- Não estavámos discutindo,apenas conversando,mas mesmo assim quero ir para casa!
Gabriel apenas balança a cabeça concordando comigo e então caminhamos os dois em direção ao local onde o carro está estacionado em completo silêncio,silêncio esse que se estende por todo o caminho até chegar na fazenda e cada um ir para o seu quarto.
- Posso entrar? Lia pergunta do batente da porta.
- Pode,faz tempo que chegaram?
- Saimos de lá dez minutos depois de vocês, para dar tempo de vocês conversarem,mas acho que isso não aconteceu né?
- Não,não ia adiantar continuar uma conversa onde nós dois estavámos de cabeça quente, acabaríamos nos magoando!
- Entendi,mas pode me dizer direito qual foi o BO?
- Simples,o Vitor me viu e veio me cumprimentar,quando fui apresentar ele para o Gabriel,seu amigo simplesmente foi extremamente rude e ainda se apresentou como meu namorado e depois continuou sendo arrogante com o menino.
- Ok,você ficar brava por ele ter sido arrogante e rude eu entendo,agora não entendo ficar brava por ele se apresentar como seu namorado.
- Deve ser pelo fato de nunca isso ter sido mencionado,tipo nos conhecemos a três semanas e até então estávamos nos conhecendo e tentando descobrir como conciliar a distância se caso isso tornasse algo mais sério.
- Aiai,não sei quem é mais maluco,mas Ceci,esfria a cabeça e conversa com calma com ele,não deixe coisas tão pequenas interferir no sentimento de vocês.
- Eu vou fazer isso,mas me diz,você não ficou chateada com a forma que Gabriel te tratou?
- Na verdade não,por que se for olhar bem,na maioria das vezes eu que faço da mesma forma com as pessoas e também ele me pediu desculpas e até perdão assim que eu cheguei!
- Ele disse mesmo que ia fazer isso,agora me conta o que você e Antonela estavam aprontando na cidade?
E a partir daquele momento Lia se empolgou em contar tudo que ela e Ton fizeram,falou de como a pequena cidade tem homens bonitos e tudo mais,na verdade eu via que ela estava tentando a todo custo levantar meu astral,coisa que não funcionou muito bem,até que Antonela veio avisar que o almoço estava pronto e eu inventei estar com muita dor de cabeça e que mais tarde eu comeria,mas na verdade era apenas uma desculpa para não ter que enfrentar Gabriel agora e então elas foram me deixando sozinha no meu quarto,aproveitei o momento,tomei um banho e me concentrei em continuar o meu artigo que já estava na fase final.
Mergulhei nas pesquisas para completar o artigo que não vi a hora passar,quando dei conta a lua já havia tomado seu lugar no céu,mas eu sabia que mais tarde iria chover mais,afinal não se via uma estrela no céu que estava carregado de nuvens,deixei o notebook e todas as anotações de lado e tomei mais um banho para começar a me preparar para dormir,eu mais uma vez ia adiar a conversa com meu "namorado".
Assim que tomei o banho e coloquei meu pijama de flanela especial para tempestades,afinal nunca se sabe quando se tem que levantar no meio da noite e encontrar mais pessoas,olhei as horas no relógio e vi que já se passavam das dez,então eu tinha certeza que não haveria mais ninguém andando pela casa e eu precisava comer algo urgentemente para não passar mal e levar uma bronca de Ana,coloquei minhas pantufas e sai do quarto indo em direção a cozinha,onde encontrei suco de graviola na geladeira e materiais para fazer um sanduíche.
Fiz o meu lanche e me sentei na bancada para apreciar,ainda na metade o lanche ouvi passos pela casa e eu já conhecia muito bem aquela forma de andar,eu tinha duas opções me esconder rápido ou continuar ali sentada de costas para a entrada da cozinha e escolhi a segunda opção e mesmo de costas eu estava ciente de cada movimento de Gabriel,que foi até o armário e pegou um copo,andando até a geladeira e colocando algum líquido no mesmo e depois os seus passos foram direcionados para onde eu estava sentada e foi impossível controlar minha respiração.
- Sabe que problemas só são resolvidos quando enfrentamos e resolvemos né,eles não se resolvem sozinhos! Ele diz com a voz rouca.
- Sei bem,mas creio que naquele momento você e eu não tínhamos condições para resolvermos nada!
- E agora nós temos?
- Se estiver tudo bem para você,também está para mim!
- É só você me dizer o que te incomodou ou está incomodando!
- Agora só o fato de você se apresentar como meu namorado,sendo que em nenhum momento nós rotulamos dessa ou de qualquer outra forma o que temos.
- Eu sei que não rotulamos,mas não querendo me abster da culpabilidade,mas quem está com receios desde o início é você!
- Falou como um estudante de direito agora,rsrs.
- Foi? Não percebi,mas se isso te arrancou um sorriso,então eu não me importo;posso fazer uma pergunta?
- Pode!
- Aceita ser minha namorada oficialmente, a partir de agora?
- Você quer isso ou só está perguntando por causa de hoje mais cedo?
- Pequena,se eu não quisesse isso de verdade,eu não te perguntaria e muito menos teria ficado a semana toda tentando descobrir onde você estava e depois ter rodado mais de cem quilômetros para vir me explicar.
- Mas como vamos fazer com a distância?
- Depois a gente vê isso,agora só me responde se aceita ser minha namorada!
- Apesar de ainda ter uma pontinha de vontade de jogar algo na sua cabeça,rsrs,eu aceito!
Gabriel pega minha mão me puxando devagar e me fazendo levantar da banqueta,assim que estou de pé,ele me puxa,me abraça forte e depois me beija,um beijo tão intenso que me faz sentir frio na barriga e uma vontade de nunca mais sair do seu abraço.
- Minha namorada!
- Meu namorado!


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