- Ah, querido... - Seus olhinhos enchem de água.

Não pensei que dizer isso seria tão importante para ela, quer dizer, imagine se soubesse da verdade. Gosto de saber que apesar de tudo nós conseguimos arranjar uma forma de ser família sem que precisasse colocar em risco sua saúde.

Me abaixo para lhe dar um abraço, passando meus braços com cuidado por baixo dos seus, deixando meu queixo apoiado em seu ombro. Diferente de mim, ela não tem o menor receio em me apertar com força. Meus olhos ardem quando sinto ela fungar discretamente, emocionada. Nunca achei que fosse receber um abraço de vó algum dia. Para mim, a única que eu tinha já havia morrido, nunca considerei parentesco com nenhum Stewart. Mamãe tinha razão quando me disse que dona Lourdes era um doce de pessoa, gentil e amável.

- Desculpa, eu estou tão frágil ultimamente. - Ela se afasta, passando as mãos por suas bochechas molhadas. - Sabe como é, meus filhos não são tão carinhosos comigo e nem meus netos, principalmente o Mason, mas sei que ele me ama, ele apenas tem esse jeitão todo frívolo herdado do pai. Você se parece tanto com ele que às vezes tenho a impressão de que estou falando com meu filho.

- Isso é realmente esquisito. Seu neto também se parece bastante com ele.

- O Tommy? Bem, ele é um garoto complicado, mas no fundo tem um bom coração. Penso que talvez fosse se dar bem com o irmão que nunca conheceu.

- Seu outro neto? Bom, é uma história complicada. Sei bastante coisa, acha que seu filho tem algum interesse...?

- Penso que sim, há muito tempo, pra ser sincera. Acho que é o maior arrependimento da sua vida. Mas acho que o rapaz sabe de tudo e não é capaz de o perdoar, quem pode o culpar por isso? Meu filho é igualzinho ao pai, não sabe lidar com as pessoas e com sentimentos. Mason realmente foi terrível. Às vezes penso que é minha culpa, que não cumpri meu papel de mãe direito e não lhe ensinei princípios.

- Nunca pense isso, entendeu? Tenho certeza que fez o seu melhor.

- O melhor nem sempre é o suficiente, filho. Aonde quer que meu neto esteja, quero que saiba que eu o amo também e que consiga encontrar o perdão algum dia.

Um bolo se forma em minha garganta, me obrigando a pigarrear e desviar meus olhos dos seus.

- Tenho certeza que ele também te amaria com todo o coração, seria até capaz de esquecer toda a raiva que sente pelos Stewart e ficaria perto de você.

Sinto dona Lourdes me observar com atenção, balançando levemente a cabeça enquanto sorri feito boba.

- É, acho que seria mesmo. - Segura minha mão com firmeza. - Você parece cansado, melhor ir descansar.

- Um pouco, a senhora também. Me desculpe por não ter conseguido vir mais cedo. - Checo às horas no relógio em meu pulso, quase onze da noite.

- Tudo bem, o importante é ter vindo. Obrigada, Mike bonitão.

- Pelo o quê?

- Por tudo. Por hoje, por estar comigo todos esses dias, por me escutar, pelos esforços e sacrifícios que fez para estar aqui, por me fazer companhia e por ser quem é.

- Desse jeito eu que vou chorar. - Deixo um beijo demorado em sua testa franzida. - Eu que te agradeço por tudo, vó Lourdes.

Ela olha fixamente para cada detalhe do meu rosto como se quisesse levar consigo na memória, seu sorriso terno é tão contagiante.

- É, eu seria uma idiota caso não percebesse.

- Percebesse o quê?

- Nada, querido. Só o rapaz incrível que é. - Acaricia minha barba por fazer. - Vá descansar, amanhã é um longo dia.

Amor MalucoWhere stories live. Discover now