capítulo 2

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A maioria das pessoas falavam francês ao meu redor, as ruas eram idênticas às que eu já havia visto tantas vezes em filmes e fotografias e eu ainda não acreditava que estava mesmo em terras francesas, muito menos em Paris

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A maioria das pessoas falavam francês ao meu redor, as ruas eram idênticas às que eu já havia visto tantas vezes em filmes e fotografias e eu ainda não acreditava que estava mesmo em terras francesas, muito menos em Paris.

Só fui realmente crer que estava na Cidade Luz quando meus olhos captaram a imensa e muito famosa Torre Eiffel.

É isso, Manuela. Você está mesmo em Paris — murmurei baixinho como se alguém ali fosse compreender o que eu dizia.

O cartão postal da França estava bastante distante do local em que meus coturnos pretos pisavam, mas a forma como se contrastava com o imenso céu azul acima da torre foi o que me impulsionou a puxar a câmera fotográfica que estava pendurada em meu ombro e registrar aquela linda paisagem urbana por alguns minutos.

É claro que não foi a primeira fotografia que tirei na cidade. Era impossível não registrar todas aquelas ruas bonitas pelas quais eu passei enquanto estava dentro do Uber que me levou do aeroporto até o meu hotel. Afinal de contas, era minha primeira vez no país e eu tinha a obrigação de bancar a turista emocionada pelo menos cinco minutos antes de ir para o meu trabalho.

A vontade de desbravar toda a cidade e desfrutar de todas as maravilhas parisienses naquele momento era gigantesca, porém o compromisso que havia me trazido até o outro lado do oceano me aguardava. À noite e nos próximos quatro dias eu estaria livre para ir onde eu desejasse, então tinha que arrumar um jeito de conter os meus ânimos.

A minha cliente do dia era Stella Vargas, a maior e melhor estilista brasileira do momento. Com toda a sua criatividade e potencial, a baiana estava conquistando todo o mundo da moda há três anos e agora havia chegado em Paris, a sua capital oficial.

Como o objetivo da estilista é fazer com que o Brasil domine todos os locais, ela tenta ao máximo trazer mais a presença tupiniquim para todos os seus trabalhos. Portanto, aqui estou eu.

Segundo a própria Stella, eu era uma fotógrafa com muito potencial e talento. Além disso, o meu estilo combinava perfeitamente com a nova coleção dela e foi dessa forma que acabei vindo parar do outro lado do Oceano Atlântico, em um emprego que, com toda certeza, mudaria a minha vida profissional para sempre.

Assim que pisei no tapete verde escuro do local, fui abordada por dois beijos no rosto e um abraço forte. Por causa do seu volumoso cabelo crespo que, como sempre, estava muito cheiroso e hidratado, pude reconhecer imediatamente que era Stella.

O sorriso imenso que surgiu em seus lábios grossos ao me encarar, como se estivesse vendo uma miragem, fez com que eu automaticamente sorrisse para ela também.

Salut! Bienvenue à Paris, Manuela! — Stella falou empolgadíssima e colocou a sua mão em meu braço, fazendo com que eu caminhasse ao seu lado. — Estou tão feliz em te ver novamente, querida!

— Eu também estou muito feliz em te ver, Stella! — Sorri para ela mais uma vez e coloquei uma das mechas curtas do meu cabelo atrás da orelha.

— Ah o sotaque mineiro... nem sei a última vez em que tive o privilégio de ouvir vocês conversando — Stella comentou enquanto passava os olhos escuros pelo imenso estúdio à procura de algo ou alguém.

— É o melhor sotaque do Brasil, não é? — Comentei sorrindo e ela balançou a cabeça negativamente, fazendo uma careta engraçada, em total negação, ao olhar para mim.

— Nada disso, o sotaque da minha Bahia extermina com qualquer um!

— Não vou discordar de você, porque gosto muito dos baianos e também não quero perder o meu job de hoje — disse rindo e a mulher me acompanhou.

— Fique tranquila, não vai perder o seu emprego por isso. Qualquer sotaque brasileiro é lindo, não tem língua mais linda que a nossa! — Stella sorriu e se soltou do meu braço.

Em seguida, se aproximou de um homem ruivo que estava mexendo em um dos refletores imensos dispersos pelo local. Provavelmente, seria ali que eu desempenharia o meu trabalho naquele dia.

O ruivo virou o seu rosto em nossa direção e sorriu simpaticamente. Os seus olhos verdes estavam alegres e me senti feliz por estar sendo tão bem recebida no local, coisa que nem sempre acontecia na minha área de trabalho.

— Esse aqui é o Timothée, o seu assistente do dia — Stella disse, abrindo um pequeno sorriso com os seus lábios pintados num vermelho escuro. — Infelizmente, ele não fala português, mas se vira muito bem inglês. Tudo bem por você, não é?

— Sim! Com certeza. — O francês nos encarou com os seus olhos curiosos e Stella imediatamente traduziu o que havia dito em um perfeito francês que, confesso, invejei bastante.

Quem sabe um dia né, Manu?

Nós nos cumprimentamos com um aperto de mãos e ele foi extremamente gentil comigo ao mostrar todo o equipamento em que iríamos trabalhar naquele dia. Porém, antes que Timothée pudesse terminar de me mostrar e explicar tudo, a estilista o interrompeu para me apresentar ao restante da equipe. Segundo ela, era de extrema importância que todos se conhecessem para que o trabalho fluísse bem.

Depois de conhecer todos os profissionais que estavam trabalhando na montagem do cenário, no vestuário e na maquiagem. Começamos a caminhar em direção ao local onde as dez modelos que eu iria fotografar naquele dia estavam.

— Nossa, hoje eu estou com a cabeça ruim demais. Quase esqueci de te falar que tem outra brasileira aqui! — A baiana caminhou até um dos últimos espelhos onde uma mulher de longos cabelos escuros estava terminando de se arrumar na frente de um espelho retangular com várias lâmpadas em seu entorno. — Ela é uma modelo que está ficando bastante conhecida aqui na França, tenho certeza que...

A minha cliente/chefe do dia continuou elogiando a tal modelo, mas eu não conseguia mais ouvir nada que a mulher dizia. Porque, quando meus olhos encontraram os da modelo através do reflexo do espelho da penteadeira, a única coisa que eu consegui prestar atenção era nela e em nada mais.

Foi como se o mundo tivesse parado ao meu redor e eu não ouvisse e visse mais nada além dela.

A mulher com lindos traços sul-coreanos me encarou intensamente por breves e lentos segundos. Ela terminava de passar um gloss transparente nos seus lábios pintados de roxo escuro tranquilamente, como se não estivesse nem um pouco surpresa com a minha presença ali.

O sorriso malicioso, tão conhecido por mim, que se formava em seus lábios finos foi aumentando à medida em que eu e a estilista nos aproximávamos dela. Aparentemente, a ousadia dela não havia mudado nem um pouco desde a última vez que nos vimos.

Gabriela Avelar, a minha ex-namorada e também uma das modelos que eu iria fotografar naquele dia, me encarou de baixo a cima através do espelho e eu me senti totalmente despida, mesmo estando com todas as minhas peças de roupa no corpo.

Uau.

Ao se levantar da cadeira, ela se virou em nossa direção com o seu corpo magro e falou fluentemente, como se fosse uma verdadeira francesa:

Bonjour, Manuela.

— Bonjour, Manuela

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Depois de Todos Esses Anos  | ✓Where stories live. Discover now