Capítulo 4

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Uma semana se passou e Bernardo já havia começado seu trabalho no restaurante. Ele secretamente esperava que o homem bonito aparecesse por lá, mas infelizmente não aconteceu. Ele não apareceu no restaurante, mas na sexta-feira a noite, coincidentemente o dia de folga de Bernardo, o homem bonito, Daniel estava em pé, na porta de sua casa. Foi o próprio Bernardo quem atendeu a campainha e ficou de boca aberta por ver o homem ali. Nem conseguia raciocinar direito. Daniel, após muito relutar durante mais de uma semana, decidiu ir á casa da família de seu doador e tamanho não foi sua surpresa, ao ser atendido pelo jovem rapaz que estava povoando seus pensamentos desde o esbarrão no restaurante.

Os dois ficaram se olhando sem falar nada, mais uma vez, até Ricardo aparecer por trás do filho e perguntar quem era. Só assim romperam o contato e Bernardo nem sabia o que responder, e olhou pra Daniel, esperando que ele dissesse algo. Ele respirou fundo, passou a semana planejando aquilo, pensando no que diria, mas agora estava travado. Mas ele estava ali e precisava tentar. - Boa noite. Desculpem vir assim, mas eu preciso conversar com vocês. Posso entrar?- Ele preferia ter a conversa dentro da casa, se os moradores permitissem. Ricardo não entendeu nada, mas mandou o homem entrar. Bernardo deu passagem e estremeceu só ao sentir o perfume maravilhoso daquele homem quase desconhecido, que sabe-se lá porquê, estava ali na sua casa. Ricardo mandou o Daniel sentar, sentou-se no sofá á sua frente e Bernardo foi junto com o pai. - São apenas vocês aqui? - Daniel perguntou e Ricardo achou muito estranho, assim como Bernardo, que apesar de estar encantando com o homem, não estava entendendo. - É melhor o senhor dizer primeiro á que veio. - Ricardo falou sério, mas imaginava que talvez fosse algum representante do banco para reclamar a hipoteca. - Me desculpem, eu sei que é muito estranho, mas eu nem sei como começar a explicar. - Daniel disse. Nunca teve tanta dificuldade para começar um diálogo. Neste momento Martha entrou na sala, e viu o homem desconhecido. Daniel se levantou e flou com ela, beijando-lhe a mão, de maneira muito educada, gesto que encantou a mulher. Fazia tempo que via um homem, jovem, sendo tão cordial.

Agora que a familia estava completa, Daniel resolveu começar a se explicar. - Bom, eu queria começar contando que a um pouco mais de dois meses, eu tive a imensa sorte de receber um transplante. - Disse olhando pra família e nem precisou muito pra que a família de Fernando entendesse quem era aquele homem. Ele recebeu um dos orgãos de seu amado filho e irmão. Martha não conteve as lágrimas e começou a chorar, deixando Daniel um pouco preocupado, se havia feito a escolha certa em procurá-los. Poderia ser demais pra eles, no entanto a mulher sorrio e segurando a mão do marido falou. - Você recebeu qual órgão, do meu filho? - Daniel abriu a camisa um pouco e mostrou a marca da cirurgia, bem acima de seu peito. Ele recebeu o coração de Fernando.

Todos se emocionaram, inclusive Daniel, que explicou como foi o processo e o motivo que o levou a procurar a família, mesmo que as doações sejam anônimas. Bernardo estava emocionado demais e começou a chorar. Era muita coincidência. No dia do acidente, ele e o irmão viram Daniel e até o socorreram quando ele passou mal. Agora Bernardo entendeu o motivo do desmaio. Daniel entendeu tudo ao ter a mesma lembrança. - Então foi naquela noite? - Perguntou á Bernardo. Os pais não entenderam mas Bernardo sim, e confirmou. Depois explicaram aos país a triste coincidência. Estavam todos obviamente emocionados, mas diferente dos outros dias, Martha sentia-se diferente, era como se seu filho estivesse ali, mesmo que não fisicamente.

A mulher se levantou de onde estava e foi até Daniel, pediu para ouvir seu coração. Ricardo ficou preocupado, mas Daniel entendeu perfeitamente e permitiu. Ela encostou o ouvido no peito do homem e ouviu as batidas do coração. Daniel ficou extremamente emocionado e enquanto abraçava Martha com um dos braços, e deixava as lágrimas escorrerem livres, teve sua outra mão sendo segurada por Bernardo. Foi um toque macio, quente e firme. E ele sentiu uma leve corrente elétrica passar por seu corpo, sendo o mesmo sentido por Bernardo. Foram tantas sensações. Ricardo olhava a imagem emocionado e encontrou o olhar de Daniel pra ele. Sorriram simples.

Daniel ficou mais umas horas, e conversaram sobre Fernando. Martha mostrou albuns de fotos e Ricardo e Bernardo contaram algumas histórias sobre ele. Foi uma noite incrível para todos. Daniel se sentiu em casa. Era estranho, mas era assim que se sentia com aquelas pessoas. Ele foi embora, prometendo voltar logo. Despediu-se de todos com um abraço, se demorando mais no abraço de Bernardo, que também não fez questão de sair daqueles braços. A semana se seguiu muito melhor depois da visita de Daniel. A família estava mais alegre, especialmente Martha, que já não chorava tanto quanto antes.

Os dias e semanas se passaram, e já fazia mais de um mês que Daniel interagia com a família de Fernando. Foi jantar algumas vezes com eles e de maneira extremamente natural, ele se integrou a rotina e a vida da família. Ninguém achava que ele estava substituindo Fernando. Isso nunca, pois seria impossível. A família tinha consciência de quem ele era, e isso os deixava felizes.

Daniel e Bernardo estavam interessados um no outro, mas não tinham muita coragem de dar um passo adiante. Mas então Martha e Ricardo, que sempre foram muito atentos aos filhos, perceberam os sentimentos deles e incentivaram o filho a assumir pra si o que sentia, seja o que fosse. Daniel também tomou coragem, e após uma conversa com Joseph, por telefone, ele falou dos sentimentos dele sobre Bernardo. No começo de tudo, Joseph ficou receoso de Daniel conhecer a familia do doador, mas agora viu que isso o fez muito bem. Ele melhorou seu humor, estava mais agradável com todos, o que foi um alivio pra seus funcionários. O advogado incentivou Daniel e assim ele ligou pra casa da família e após conversar um pouco com Martha, perguntou sobre Bernardo. A mulher disse que ele estava no restaurante, pois foi substituir um colega que adoeceu.

Daniel fez uma reserva no restaurante, e quando Bernardo foi atender a mesa, viu de quem se tratava. Sorriram um pro outro e Daniel disse que veio pra ver ele e que iria esperar ele sair pra levá-lo pra casa. Bernardo quis negar, mas foi impossível. - Não adianta príncipe, eu vou te esperar. - Bernardo amou o apelido, e ainda trêmulo, foi trabalhar. Serviu Daniel, e foi atender outros clientes. Ao fim do expediente, Daniel estava lá esperando Bernardo. Entraram no carro e seguiram rumo á casa dele.

Conversaram bastante durante o caminho e Daniel contou sobre seu dia na empresa. Bernardo ficou admirado ao saber que Daniel era presidente e herdeiro de um grupo tão importante como o Cantilever. Não pelo dinheiro em si, mas Daniel era sempre tão simples com ele e sua família, que não tinha muito a oferecer, que nem imaginava que ele era tão rico. Ficou até um pouco receoso em confessar seus sentimentos, e se ele pensasse que Bernardo estava sendo interesseiro. Se perdeu em pensamentos e nem percebeu que o carro havia parado e estavam em frente a sua casa.

Daniel o chamou e quando Bernardo agradecia e se preparava pra ir, ele pegou em sua mão e sem dizer nada, foi aproximando seus rostos devagar, até estar sentindo a respiração um do outro. Estavam nervosos, como se aquele fosse o primeiro beijo da vida de ambos, mas era como se fosse, pois era com alguém especial. Daniel venceu o espaço entre eles e beijou Bernardo. Começaram devagar, conhecendo os lábios um do outro, mas o desejo falou mais alto e aprofundaram o beijo. Não demorou pra que estivessem em um emaranhado. As línguas se tocavam com urgência e desejo. Respiração ofegante, enquanto Daniel mordiscava deliciosamente os lábios de Bernardo. O sabor daquele beijo era único. Quando a respiração ficou difícil, os lábios foram em direção ao pescoço. Beijos e chupões leves, sem deixar marcas. Pararam ofegantes e de olhos fechados, ficaram abraçados. Nem se deram conta, tamanha a paixão, mas Bernardo já estava sentado no colo de Daniel.

Estavam em silêncio, apenas curtindo aquele sentimento intenso, nos braços um do outro. Se despediram, pois Bernardo estava cansado do trabalho. Daniel foi pra casa mais do que feliz, não lembrava a ultima vez que se sentiu assim por alguém, aliás, nunca se sentiu assim por ninguém. Bernardo entrou em casa sorrindo, nas nuvens. Martha estava acordada, pois foi beber água e reconheceu a carinha de apaixonado do filho. Nem precisou dizer nada, ela o abraçou forte. - Estou muito feliz por você, meu amor, e tenho total certeza que seu irmão também. - Naquela noite, não houve lágrimas, só sorrisos e um sentimento de saudade e amor, pois mesmo que muitos não acreditem, aquela família sentia que Fernando estava olhando por eles e os guiando pro caminho da felicidade.

Inestimável CoraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora