Capítulo 2

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** Bernardo, na mídia


3 meses depois.

- Bê, nós vamos nos atrasar, vem logo. - Fernando chamava pelo irmão, que sempre era o ultimo a se arrumar. Fernando e Bernardo, estavam indo fazer um bico de garçom numa festa de granfino, como eles diziam. Fernando, o filho mais velho de Marta e Ricardo, teve que trancar a faculdade de medicina, devido a condição financeira que sua família enfrentava. Eles estavam com uma dívida enorme e prestes a perder a casa. Os pais tinham feito um empréstimo e deram á casa como garantia, para usar o dinheiro num negócio próprio, no entanto, sofreram um golpe. O terreno e o prédio que eles compraram, já tinha um dono, ou melhor, vários donos, pois os golpistas "venderam" o imóvel para outras vítimas. O fato é que a investigação estava em andamento, mas não haviam muitas pistas, pois a quadrilha sumiu.

Bernardo também saiu do curso de gastronomia que fazia, pois nunca deixaria de ajudar sua família, e não era justo seu irmão abandonar o curso de medicina e ele continuar no dele. Naquela noite eles iriam trabalhar num jantar de um empresário, que Bernardo conseguiu pra eles através de um amigo, que era chefe de cozinha e ia trabalhar lá também. - Eu já estou pronto. Vamos logo, ou a gente chega atrasado. - Bernardo disse, pegando as chaves do carro, fazendo o irmão e os pais rirem. Martha se despediu dos filhos, dando a benção e desejando um bom trabalho. Ela ajudava nas despesas, fazendo doces pra vender na escola em que trabalhava como secretária. Ricardo, que havia se demitido pra se dedicar ao novo negócio, não conseguiu encontrar um novo emprego e isso o deprimia um pouco. Ver os filhos desistirem, mesmo que temporariamente, de seus sonhos, para ajudar em casa, o deixava com sentimento de incapacidade. No entanto, eles eram uma família muito unida e tanto os filhos como a esposa deixavam claro á ele, que fariam tudo para apoiá-lo e ajudar.

- Dirijam com cuidado, sem pressa. - Ricardo disse, se despedindo dos filhos. Eles iam no carro da família, um dos últimos bens que sobrou, mas que talvez tivessem que se desfazer logo. - Não se preocupe pai, eu vou dirigir, já que o Bê parece uma velhinha sem óculos, dirigindo. - Fernando zombou do irmão, que tentou dar um chute nele, sem sucesso, pois o outro desviou. E eles foram em direção ao salão de festas, onde iria ocorrer o jantar. Pelo que souberam era uma comemoração de aniversário de um empresário, e só teria gente rica, ou como o amigo de Bernardo disse, "podres de ricos". Conversavam animados no carro e apesar do trânsito um pouco lento, chegaram na hora certa. A noite foi de muito trabalho e pouco descanso. Fernando servia um grupo de senhoras, que inclusive sorriam muito pra ele, que não era pra menos, pois o jovem, com seus 26 anos, era um belo rapaz, assim como Bernardo, que com 23 anos, eram tão bonito quanto o irmão. Bê, como gostava de ser chamado, estava se dirigindo com uma bandeja cheia de taças vazias, em direção á cozinha, quando esbarrou em um homem, um dos convidados. Foi um belo barulho e um grande estrago, taças estilhaçadas pra todo lado, e um convidado com as roupas suja do que restou em algumas taças.

Bernardo pedia desculpas, repetidas vezes, tentando inutilmente limpar o homem com um guardanapo, mas logo teve suas mãos afastadas com um pouco de força, e ao olhar pro convidado a sua frente, perdeu a fala. Era um homem lindo, cabelos loiros lisos e amarrados em um coque muito bem feito, olhos claros incríveis, e uma barba loira, muito bem feita que emoldurava aquele belo rosto. Mas a cara de bravo do homem, tirou o sorriso que Bernardo nem percebeu estar em seu rosto. Porém a "carranca" não se sustentou muito tempo, quando o homem olhou para Bernardo. Ele o analisou e pode perceber como o garçom era bonito, cabelos escuros ondulados, rosto bem desenhado, lábios bonitos. Daniel nem teve muito tempo para analisar ainda mais aquele rapaz tão bonito, pois seu coração disparou. Começou a bater freneticamente e ele sentiu um aperto forte no peito. Nem percebeu que estava apertando muito forte o pulso do rapaz e só soltou quando um outro garçom se aproximou e mandou, de forma bem zangada, que ele soltasse seu irmão.

Olhou pra jovem, que pareceu bastante assustado devido ao aperto, mas não durou muito, pois sua visão ficou turva e começou a escurecer. Daniel nem percebeu, mas desmaiou. O jantar virou um tumulto. Joseph correu até Daniel, que estava sendo amparado por Bernardo e Fernando. Rapidamente, um dos funcionários ligou pra ambulância e minutos depois, Daniel estava sendo levado ao hospital, e precisaria ficar internado. Ao mesmo tempo Bernardo, que estava muito assustado pelo ocorrido e sem saber o que tinha acontecido, foi levado para a cozinha pelo irmão, enquanto outros funcionários limpavam a bagunça que ficou pelas taças quebradas.

Antes da noite terminar, o encarregado-chefe pelos funcionários, se dirigiu aos irmãos e os dispensou. Fernando ficou chateado pois nem ele, nem o irmão tiveram culpa pelo ocorrido, mas Bernardo pediu que o irmão deixasse pra lá e recebesse o pagamento. - Pelo menos a gente vai chegar cedo em casa e terminar aquela série que você gosta. - Bernardo consolava o irmão, e logo os dois estavam rindo juntos, enquanto se dirigiam pra casa. Bernardo dirigia o carro, na volta, enquanto Fernando ligava pros pais e avisava que já estavam indo pra casa. Faltando alguns quarteirões pra chegarem, já no cruzamento, um carro avançou o sinal vermelho, do lado do passageiro e bateu em cheio no carro dos irmãos. O veículo capotou algumas vezes e foi parar do outro lado do cruzamento. Os irmãos não tiveram nem tempo de ver o que os atingiu.

Quase uma hora depois do acidente, Ricardo e Martha, esta que estava com um péssimo pressentimento, assim que o filho desligou a chamada, avisando que estava indo pra casa. Ricardo tentava acalmar a esposa, enquanto ligava pro telefone dos filhos, dizendo a si mesmo que não tinha acontecido nada, provavelmente estavam presos em algum engarrafamento, mas o telefone da casa começou a tocar e Martha rapidamente correu para atender. - Boa noite, aqui é do Hospital Regional. Gostaria de falar com algum parente de Bernardo e Fernando Lima da Costa.- Não precisou de mais, Martha já sabia o que tinha acontecido com os filhos. Ricardo pegou o telefone e ouviu o que a mulher do outro lado da linha, dizia. Os dois se abraçaram chorando, mas logo foram ao hospital em busca dos filhos. Ao chegarem ao hospital descobriram que o acidente dos filhos foi causado por um motorista bêbado, que avançou o sinal vermelho. Souberam que Bernardo sofreu apenas escoriações e um braço fraturado, mas estava fora de perigo, porém Fernando recebeu a maior parte do impacto e por seu estado ser grave, estava em cirurgia.

Algumas horas depois, eles puderam ver Bernardo, que estava numa enfermaria, junto com outros pacientes. Bernardo estava lúcido e quando viu os pais começou a chorar, e logo foi abraçado pela mãe. Ele contou o pouco do que lembrava do acidente e perguntou pelo irmão, e ao saber que o estado dele era grave, chorou ainda mais. A família passou a noite no hospital e ao Bernardo ser liberado, ficou com os pais na sala de espera. Já era quase manhã quando um médico chamou a família. Ele explicou a gravidade do impacto e deu a notícia que a família desejou nunca ouvir. - Eu sinto muito, mas o paciente não resistiu aos ferimentos. - Ali, a família desabou. Martha não conseguia nem ficar de pé e foi amparada pelo marido, que estava arrasado. Bernardo não conseguia acreditar que perdeu seu irmão e melhor amigo. Tudo por culpa de uma pessoa irresponsável, que dirigia bêbado.

Era um momento muito difícil e a família foi levada para uma sala reservada, onde uma assistente social e um psicólogo, davam amparo á eles. Um tempo depois, com a ajuda da equipe que ficou ao lado deles, pra conversar e dar apoio, eles conseguiram entrar na sala onde o filho estava para dar o ultimo adeus. Foi uma cena de cortar o coração. Martha chorava abraçada ao filho, enquanto Bernardo e o pai se amparavam nos braços um do outro. A equipe do hospital respeitou o momento de luto da família e depois com cuidado e em um lugar reservado, falou sobre a doação de órgãos.

A principio, nem Martha e nem Ricardo aceitaram a idéia, mas com a explicação da equipe sobre a importância da doação de órgãos e principalmente após Bernardo lembrar que era uma vontade de Fernando ser doador, e que ele já expressou essa vontade pra família, especialmente por que seu sonho de ser médico, era motivado pelo amor ao próximo e o desejo de salvar vidas. Depois disso, os país resolveram atender a última vontade do filho tão amado e autorizaram a doação de órgãos.

*Eu queria mostrar aqui a importância da doação de órgãos e também que a pessoa que deseja ser doador, expresse o desejo para a família, tornando mais fácil a aceitação por parte de todos, já que no momento do luto é muito difícil pros parentes fazerem a escolha. Eu ia escrever mais detalhes, porém comecei a ficar triste e parei por aqui.

Inestimável CoraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora