Capítulo 5 - Olhar

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Eu achei que ele ia corrigir com um "quer dizer, eu não gostaria de ficar trancado aqui sozinho" ou com um "que bom que você, minha grande amiga, está aqui para conversarmos amigavelmente", mas, pelo visto, era exatamente aquilo o que ele queria dizer. Que, pelo menos, nós dois estávamos presos juntos.

"Por que você não está surtando com isso, Marinette? Grita internamente, mulher! Você está trancada com o Adrien no quarto dele por pelo menos duas horas, você tem noção da sua sorte?", alguém parecia gritar dentro de mim. Mas a minha mente não estava focada no olhar apaixonado que Adrien parecia me lançar, nem com ele parecendo chegar mais perto de mim no sofá. A única coisa que eu conseguia pensar era: "será que o Chat Noir já chegou lá para deter o vilão? Será que está tudo bem com ele? O akumatizado parece ser bem forte... Qual será o poder dele? Será que o Chat Noir foi atingido?"

Eu sei, minhas amigas me matariam se soubessem que eu fiquei trancada com o Adrien no quarto dele, mas que não aconteceu nada porque minha mente estava focada em outra coisa, ou melhor, em outro garoto. Mas não dava para evitar, eu estava muito preocupada com o Chat. Sei que ele era perfeitamente capaz de lutar contra o vilão sozinho, o problema era que só eu poderia purificar o akuma e, enquanto eu não fizesse isso, meu parceiro continuaria lá, lutando sozinho contra um vilão que eu não fazia nem ideia do nível de ameaça. Ao lembrar disso, falei:

— Ei, pode colocar na TV de novo, na transmissão do akumatizado?

Adrien pareceu um pouco confuso, mas o fez. Considerando o comentário que ele tinha feito antes, fazia todo sentido ele ficar confuso com a minha resposta. Talvez ele esperasse que eu dissesse: "é mesmo, ainda bem que estamos juntos", e me aproximasse dele. Na verdade, talvez fosse isso mesmo o que eu faria, caso ficasse trancada com ele há algumas semanas atrás. Mas, agora, me aproximar do Adrien era a última coisa que se passava na minha cabeça.

Ele ligou a televisão do celular no noticiário, mas não havia nenhuma informação sobre o akumatizado, ao contrário, passava uma daquelas novelas dramáticas da tarde. Adrien mudou os canais, mas nenhum tinha informações sobre o akuma.

— Acha que a Alya está fazendo uma transmissão ao vivo no blog? — Perguntei. Se eu saísse dali com pelo menos alguma informação sobre o akumatizado, poderia ser uma ajuda e tanto para derrotá-lo.

— Não sei, vou dar uma olhada. — Ele disse, mexendo no celular. — Que estranho... não há nada sobre esse vilão em lugar algum.

— Será que... que ele apaga a memória? Tipo o Oblivio? — Perguntei para mim mesma, sem imaginar que tinha saído em voz alta.

— Talvez... — Para minha surpresa, ele respondeu. — Você foi atacada pelo Oblivio?

— Não lembro... — Nós dois rimos levemente, já que o poder do Oblivio era justamente apagar memórias.

De repente, ficamos em silêncio e foi só aí que eu percebi que o ar condicionado estava desligado. Senti algumas gotas de suor na minha testa e passei as costas das mãos no local.

— Está calor aqui... — Comentei, percebendo que ele também enxugava o suor da testa.

— Acho que a energia do quarto foi desativada quando o sistema ligou. Esse novo sistema ainda está em fase de testes, então alguns cômodos devem estar com energia e outros sem.

— Se pelo menos desse para abrir a janela... — Eu disse.

Era impressão minha ou estava ficando difícil de respirar ali?

— Tudo o que nos comunicava com o lado de fora da casa está coberto com essa parede cinza... — Ele apontou para a janela — Espero que meu pai chegue antes que o quarto fique muito abafado.

Verdades Aprisionadas - Parte IWhere stories live. Discover now