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POV Any

Estela ainda não havia despertado, estava prestes a completar 8 horas que ela fora sedada, estou preocupada, para ser mais exata, aterrorizada, a vida é tão sensível... Por um momento minha menina estava perfeitamente bem, e repentinamente, sua vida ficou por um fio. Como qualquer criança, Estela já se machucou e já adoeceu, mas eram arranhões, feridas leves, viroses, nada como isso.

Josh finalmente dormiu e enquanto ele descansa, não tiro os olhos de nossa filha, ambos estamos apavorados demais para sair desse quarto por mais de 10 minutos e deixá-la sozinha. Enquanto um dorme, o outro vigia, esse tem sido nosso esquema.

Sabi me envia uma mensagem de texto informando que assim que se iniciar o horário de visitas, todos os nossos amigos estarão aqui, respondo agradecendo o apoio deles e confirmando os horários de visitação, guardo meu telefone em seguida.

Em pensar que meses atrás eu tinha apenas Sabi e Pepe com quem contar além dos meus pais... Eu não poderia ter escolhido padrinhos melhores para Estela, eles sempre estiveram presentes para nós, me ajudaram na criação da minha filha quando eu mais precisei, e por isso, eles tem a minha gratidão eterna. Jojo vivia em outro estado e acabamos nos distanciando, Lamar, eu conhecia apenas de vista, tínhamos trocado poucas palavras em ocasiões que ele vinha para a cidade e o restante entrou na minha vida inesperadamente nos últimos meses. Minha vida mudou, definitivamente para melhor, vejo que meus amigos se importam com minha filha e isso não tem preço.

Mais tarde, meus pais virão fazer uma visita à neta, ambos ficaram desesperados ontem, assim que lhes contei do acidente. Como já estava tarde, eu os proibi de pegar a estrada naquele horário e eles, mesmo que relutantes, tiveram que concordar comigo que o melhor era vir hoje.

Interrompo meus devaneios e volto a minha atenção para minha filha, uma enfermeira passou no quarto algumas vezes para verificar os aparelhos e anotou umas coisas na ficha de Estela. Ela ainda nem se mexeu e não nego que estou ficando um tanto nervosa.

Checo o horário e percebo que faltam poucos minutos para o início do horário de visitas e terei de acordar Josh.

— Josh, acorda, nossos amigos estarão aqui em alguns minutos – o chamo e ele acorda rapidamente

— Aconteceu alguma coisa com a Estela enquanto eu dormia? – Josh pergunta preocupado já se levantando

— Não... Uma enfermeira veio aqui verificar os aparelhos e anotou umas coisas na ficha e só – respondo e ficamos em silêncio por alguns minutos

— Quando você acha que ela vai acordar? - o loiro pergunta com os olhos fixos em Estela

— Não sei... Espero que logo – respondo sincera

— Meus pais virão mais tarde... E querem conhecê-lo, desta vez de verdade – aviso o loiro

— Por que?

— Porque você é o pai da neta deles... Faz sentido vocês se conhecerem... – digo meio insegura

— É, faz sentido... – respondeu vago

Sabi, Pepe, Yoon, Lamar, Jojo, Sininho, Noah e até mesmo minha chefe Diarra vieram fazer uma visita pela manhã. Sininho trouxe café da manhã para mim e Josh e francamente, estávamos precisando nos alimentar, pois devoramos a comida em poucos minutos.

Noah, Jojo, Sininho e Sabi, que tem empregos mais flexíveis em questão de horários, se ofereceram para ficar com Estela para que Josh e eu pudéssemos descansar um pouco. Acabamos dispensando a ajuda, pois estamos decididos a estar aqui quando nossa filha acordar.

Meus pais vieram ver Estela perto da hora do almoço e mamãe preparou e trouxe pata nós, meu prato favorito, um escondidinho de charque com mandioca, especialidade dela. Aprecio o esforço dos dois em me agradar, afinal, imagino quão difícil fora encontrar os ingredientes, sem dúvidas, uma das coisas que mais sinto falta do tempo que morei com eles é a comida de mamãe que é implacável. Meus pais se deram bem com Josh, deixaram o passado para trás para termos uma boa convivência, os dois são pessoas tranquilas, se dão bem com todos e são muito gentis.

Eu e Josh tivemos muito tempo para conversar, já que passamos o dia inteiro dentro do quarto. Contei à ele sobre o nascimento, os primeiros meses de Estela, como ela era um bebê fofo e até mostrei umas fotos que tinha no meu celular. Repentinamente percebo Josh com uma feição triste.

— Josh, tudo bem? – pergunto com um misto de preocupação e curiosidade

— Any, eu sei que ninguém teve culpa, mas eu sinto ter perdido muita coisa da vida da nossa filha sabe, os primeiros passos, as primeiras palavras, o primeiro dente, eu nunca nem troquei uma fralda dela ou dei uma mamadeira... E o tempo não volta sabe, será que eu nunca vou viver isso? – o loiro diz triste

— Josh, foram 2 anos apenas, e o que são 2 anos, perto de uma vida inteira? Se te tranquilizar, os primeiros meses da nossa filha foram os mais trabalhosos, quase enlouqueci. Não se preocupe, ainda haverão muitas primeiras vezes e muitas memórias que criaremos com a nossa garotinha – digo o confortando

— Eu perdi as mais importantes...

— Que besteira, olha só, tem o primeiro dia na escolinha ano que vem, o primeiro dentinho que cair, a primeira apresentação de escola, a primeira vez andando de bicicleta, o primeiro namorado, o pri – cito na tentativa de convencê-lo

— Primeiro namorado não, ai do moleque que chegar perto do meu bebê – Josh me interrompe

— Como assim Josh? Nossa filha não vai ser freira não, lide com isso! – o respondo

— Está decido, a Estela só vai namorar com 18 anos e fim de papo – ele diz com uma carranca no rosto e gargalho alto

— Só se você quiser que ela namore escondido de você... Prefiro conhecer o garoto... Você quer que a nossa filha não confie em nós? – digo simples

— Que seja, ainda temos muitos anos até que ela venha com essa história de namorado – Josh responde irritado

— Meu Deus Josh, que papai coruja! – digo sorrindo e me estico para apertar suas bochechas

— Para Any – o loiro diz gargalhando e tentando se esquivar

— Isso é para você deixar de ser tão ciumento

— Você quer que eu deixe a MINHA filha com qualquer um? – ele pergunta brincalhão

— NOSSA filha, Josh, nossa filha, e não, não quero ela com qualquer um – respondo em meio a risadas

Nossos rostos se aproximam demais e logo me afasto temendo as reações do meu corpo à proximidade do loiro. Por um momento, estávamos prestes a nos beijar novamente e desta vez não tínhamos o álcool ou qualquer outra coisa para justificar nossas atitudes.

Depois disso ficou um clima meio constrangedor entre nós que foi quebrado com a voz que eu ansiava escutar. Minha estrelinha enfim acordou.

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