Depois de um tempinho, Any voltou da UTI com os olhos avermelhados e me ofereço para passar a noite aqui para que ela possa descansar.

— Any, não se preocupe, vai pra casa, toma um banho, dorme tranquila, eu vou ficar a noite inteira aqui e prometo não desgrudar da Estela – digo assim que ela se aproxima

— Não Josh, eu tenho certeza que não terei condições de dormir tranquila sem minha filha... Deixa que eu fico aqui – a morena responde decidida

— Olha só, eu ainda me sinto responsável por isso tudo e eu sei que voltar para casa e dormir no local onde tudo aconteceu não vai me ajudar, pode ir Any, você ainda confia em mim, certo? – pergunto meio inseguro

— Confio, mas eu quero ficar aqui... – Any responde triste

— Eu vou dar um jeito, não vamos chegar à um consenso nunca – falo e vou até a médica responsável pela UTI

Explico à mulher toda a situação e depois de muito insistir ela autoriza que ambos fiquemos ali como acompanhantes. Conto à Any e juntos vamos até o quarto de Estela.

Encaro minha filha cheia daquelas patifarias de hospital e sinto que desabarei novamente, me aproximo e olho para seu rostinho e deposito um beijo na testa dela, é a única parte livre de sua face. Checo as partes visíveis de minha filha, as mãos, os bracinhos, rosto, pescoço, tudo, na tentativa de encontrar quaisquer problemas ou cicatrizes e constato que ela está perfeitamente bem. Meus olhos se enchem de água novamente e noto Any me encarando.

— Josh...

— Desta vez estou chorando de felicidade Any, ela está completamente bem, parece até...

— Um milagre – Any me interrompe

— E olha que eu nem acredito nisso – digo e esboço um sorriso singelo

Ao lado da cama de Estela havia um sofá de dois lugares, eu e Any nos sentamos ali e não trocamos mais nenhuma palavra, nossos olhares não saíram de nossa filha por um tempo até que reparo que Any está prestes a adormecer e apoio a cabeça dela em meu colo. Ela não reluta e dorme ali tranquilamente.

Passo a noite em claro, não sou capaz de baixar a guarda e relaxar depois de tudo. Estela é tão pequena, tão frágil, e vê-la com todos esses fios e máquinas está me consumindo aos poucos. Cada bip diferente do aparelho de frequência cardíaca me deixa em alerta, cada estalo dos móveis e até os mínimos ruídos externos tem a minha atenção.

Amanhece e Any logo desperta e me encara por alguns segundos até que quebra o silêncio.

— Obrigada por me emprestar seu colo ontem, espero não ter incomodado muito – Any diz com um sorriso tímido no rosto

— Não foi nada, agora você vai para casa se alimentar, trocar de roupa e descansar um pouco – falo sério

— Josh, eu não saio daqui até a Estela acordar e diga-se de passagem, você sim tá com uma cara de quem não dormiu nada e que tá precisando ir para casa

— Alguém tinha que vigiar a Estela – respondo dando de ombros, me levantando e indo até a janela do quarto

— Sim, a equipe do hospital, não você – Any fala indo atrás de mim

— Não consegui dormir, Any – respondo sincero

— Tudo bem, você ficou preocupado com a nossa filha, mas agora eu estou acordada e juro ficar vigiando ela e você pode dormir pelo menos um pouquinho, o horário de visitas é em algumas horas, então em breve nossos amigos estarão aqui – ela diz e me puxa de volta para o sofá

— Vem Josh – ela diz oferecendo seu colo para eu apoiar minha cabeça

— Não precisa – respondo

— Precisa sim, vem logo Joshua – ela fala impaciente, deito minha cabeça em seu colo e fico olhando fixamente para a cama em minha frente

— Josh, você não vai conseguir se não tentar... Tenta relaxar um pouco – Any diz calma e começa a fazer cafuné nos meus cabelos

Fico então entorpecido com o carinho e logo adormeço num sono profundo.

Fico então entorpecido com o carinho e logo adormeço num sono profundo

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