Morte Iminente

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Ao olhar para o chão lá embaixo, não pude evitar fechar os olhos. O vento ainda batia com força em meu rosto, e eu sabia que sentiria o impacto da terra a qualquer momento.

Ele te jogou! Empurrou você do abismo!

Eu não entendia. Por que Pan me tiraria do Jolly Roger pra me jogar à morte de um jeito tão estúpido?

Cair de um penhasco na Terra do Nunca. Ótima forma de morrer.

Aquele garoto era uma confusão. Será que eu devia mesmo estar esperando que ele viesse voando atrás de mim? Porque essa esperança estava crescendo a cada instante durante a queda, de forma descontrolada, enquanto eu tentava desesperadamente me agarrar à ideia de ainda haver chance de salvação. Minha mente continuava em discussão consigo mesma.

Você não vai morrer. Não agora, não aqui e não dessa forma. Pan é um demônio, foi o que Gancho disse, e você devia ter ouvido, Ana. É um menino inconsequente brincando com a vida dos outros só porque a dele é monótona demais. Mas não pode ser tão tarde, faça alguma coisa, qualquer coisa! Você já absorveu fogo, certo? Deve ter um jeito de absorver ar, de repente? Talvez você flutue? Meu Deus, que ideia idiota. Pense melhor.

Um estalo em minha cabeça me fez raciocinar. Pan, aquele selvagem detestável, estava mais uma vez brincando com a minha vida, e havia me dado a resposta de como escapar há apenas alguns segundos.

Tenha pensamentos felizes.

É uma coisa complicada tentar trazer algo bom à cabeça quando seus ouvidos estão zunindo com uma queda de mais de 30 metros. No entanto, o próprio objetivo podia ser um pensamento feliz: voar. Nunca, em toda minha vida, um desejo foi tão forte quanto esse. Voar era o que eu mais desejava, desde sempre. Naquele momento, essa vontade era ainda maior — e necessária. Se Pan me atirou de cima da montanha, ele confiava que eu conseguiria? Foi por esse motivo que me empurrou? Eu precisava tentar, era a única chance que eu tinha.

Voar. É só isso. Qualquer coisa mais leve que o ar é capaz de voar. Eu só preciso esvaziar a cabeça. Esvaziar tudo. Esquecer a raiva aqui dentro, porque ela já está acumulando. Isso vai acabar comigo, preciso de controle.

É só esquecer.

E controlar.

Eu estava sentindo domínio. O ar começou a passar um pouco mais devagar por mim. Ao invés de sentir o vento me açoitar, agora ele parecia estar me sustentando e tentando me segurar para que eu não caísse. Mesmo assim, eu ainda estava indo para baixo. Respirei fundo.

Posso sair dessa.

Uma onda de calma passou por mim. Não havia mais o desespero de acabar morrendo ali, eu estava freando. Mesmo que não conseguisse parar a queda, o máximo que aconteceria agora seria uma contusão ou algo do tipo. Nada para me preocupar, eu sairia viva. E poderia xingar Pan.

Pensamentos felizes, certo?

E aí, eu parei.

O chão devia estar a uns bons seis ou sete metros de mim, e eu não estava afundando nem mais um centímetro. Flutuava no ar da maneira mais bizarra possível: meus braços e pernas estavam esperando pela queda e se agitando de forma estranha para se proteger, enquanto meu tronco estava congelado e minha cabeça se inclinava para trás, afastando-se o máximo que podia do chão. A sensação era de que haviam cabos de aço me segurando pelas costas, causando uma pose estranha e falsa, como em cenas de filmes.

Precisei de alguns segundos até firmar a postura, o que exigia certo esforço, pois a única parte realmente leve em meu corpo era o tronco, o resto pesava com a gravidade. Quando me ajustei na vertical, Pan estava bem à minha frente.

NefastoWhere stories live. Discover now