A Casa da Fada

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Durante toda a noite, eu fiquei sentada no tronco, quase em choque. Pan deve ter pensado que eu estava processando tudo que ele havia me contado naquela tarde, pois me olhava de longe compreensivamente. Mal sabia ele que minha vida acabara de ser ameaçada por alguém que nem sequer mostrou o rosto. Apenas me mantive sentada, olhando a fogueira, ouvindo a flauta, lentamente assimilando os fatos e pacientemente aguardando que a festa cessasse para que Pan saísse da clareira, como de costume, e eu, finalmente, pudesse reagir à ameaça. Não consegui comer nem uma fruta sequer.

A espera pareceu infinita, mas finalmente todos os garotos estavam deitados, espalhados pelo acampamento, dormindo. Depois de horas sem trocar uma palavra, Pan se aproximou e se reclinou para falar comigo num tom baixo, evitando acordar os meninos.

— Então, casa-da-caverna ou o acampamento?

— Hoje vou ficar por aqui.

Pan arqueou uma sobrancelha por alguns instantes, encarando meus olhos, examinando, até finalmente dar de ombros e se endireitar.

— Certo. Você é livre. Se tiver problemas, pode me chamar. — o garoto (homem?) se virou para ir embora.

— Você vai estar bem longe.

Pan se deteve imediatamente e girou em minha direção.

— Acredite, eu vou saber se você me chamar. Vou mesmo. — uns poucos segundos de silêncio passaram enquanto ele me olhava, até continuar. — Mas se não confiar em mim pra qualquer problema, pode chamar o Ethan também. Sei que você confia nele.

Sua frase foi acentuada com um sorriso de canto, o qual seus olhos não acompanharam. Estavam frios. Não soube dizer se Pan estava insinuando alguma coisa. Sinceramente, nem me preocupei com isso.

— Enfim. Boa noite, Ana. — acrescentou, com uma enorme reverência. Por motivos desconhecidos, não evitei um sorriso, e revirei os olhos.

— Boa noite, Pan.

Assim que vi sua silhueta alta sumir entre a folhagem, a breve e estranha sensação de segurança que eu sentia enquanto Pan estava por perto se foi. Estreitei os olhos para enxergar o arbusto atrás de mim, procurando por um rosto ou uma sombra, porém não havia mais nada ali. Será que foi embora, quem quer que fosse?

Ouvi um galho quebrar perto da árvore na qual eu estava encostada e minha cabeça virou instintivamente para ver o que era. Uma mulher loira, com um rosto estranhamente bondoso — que contrastava com seus olhos verdes ferozes — estava em pé bem atrás de mim. Suas roupas verdes pareciam sem vida, e uma pesada capa da mesma cor mostrava sua tentativa de se camuflar na floresta. O cabelo estava preso desajeitadamente em um coque e sua expressão não era a de uma assassina, como insinuou na ameaça que fez horas atrás.

— Obrigada por me esperar. Fico feliz que não tenha tentado fugir, eu teria que te machucar.

O quê?!

— Quem é...?

— Você precisa vir comigo. Não quero te fazer mal, eu juro. A ameaça não era contra você, mas contra o que você... representa. Só de você estar viva já é um risco.

— O que isso quer dizer?

— Que pra se salvar e salvar tudo aqui na ilha, você tem que confiar em mim.

— Tem muitos "confie em mim" na minha vida ultimamente.

— Sinto muito. — ela deu alguns passos em minha direção e sorriu. — Prometo não dar motivo pra você duvidar de mim.

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⏰ Last updated: Feb 27 ⏰

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