Capítulo 3- Any

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Estou fraca, meu corpo dolorido, meus olhos continuam inchados. Na minha mesa tem uma bandeja com comida, só de ver sinto como se minhas tripas novamente quisessem sair pra fora

Eu não como nada a um certo tempo, isso fez eu perder meu corpo, estou magra que devo estar com o peso de uma criança. Isso já não importa, assim não terão o trabalho de levar o cachão com um corpo pesado

Não sei se fiz certo em desligar meu celular, faz dias que não ligo o aparelho, faz semanas que estou desconectada. Certamente ninguém sente minha falta, afinal, nem amigos tinha

Aquele garoto de ontem, Josh ou alguma coisa assim, me deixou apavorada, mas ao mesmo tempo segura. Ele foi o mais próximo que já tive de estar perto de alguém durante meses

Seu abraço era confortante, protetor, carinhoso. Eu mal soube decifrar como era. Quando percebi, estava de volta onde tudo começou.

Primeiro ele se aproxima, depois eu me sinto segura, logo estou muito envolvida, e quando menos espero ele me machuca. De uma forma devastadora

Sabe, eu desmontei um apontador antes de dormir, talvez aquela lâmina seja suficiente, nunca fiz isso antes, mas a única coisa que eu quero é tirar essa dor de dentro de mim. Ela é sufocante

Assim que pego o pequeno objeto que está grudada em um lápis fico o encarando. Se for pra morrer assim, que seja de uma vez, certo?

Mas antes que eu pudesse tentar qualquer coisa minha porta foi aberta. Até que enfim alguém entendeu que não precisa bater. Quando voltei a realidade o objeto cortante já não estava em minhas mão. Merda, eu não tenho outro desses

- Any?- meu pai perguntou assustado

- Pai- mais uma vez respondendo sem ter a mínima vontade

- O que é isso? Uma lâmina?- uau temos um gênio, mentalmente eu bati palmas

- É o que parece!- minha voz saiu fraca, isso também não é novidade

- Você não encostou em nenhuma comida do café da manhã?- ele diz as coisas como se não fossem óbvias

- Isso também é o que parece!

- Deixa eu ver se eu entendi- e vamos começar com a falsa preocupação- Você não come nada a dias, evita todo mundo, não deixa ninguém entrar no seu quarto e ainda por cima está tentando se matar ?- eu soltei uma risada pelo nariz, se é que me entendem

- Como se você já não tivesse tentado isso também!

- Any, olha...- eu já disse que cansei

- Escuta, se eu morrer não vai fazer diferença certo? Se eu fico trancada no quarto não faz diferença, certo? Se eu não como não faz diferença, certo? Porque nessa merda eu não faço diferença. Então se eu estiver viva ou morta, isso não. Vai. Fazer. Diferença

- Está certa, eu só vim avisar que Joalin e Sabina estão lá na sala, vieram tentar a sorte e te conhecer. Então se puder ir lá em baixo só pra conhecê-las séria bom- frieza era o que não faltava em sua voz. Eu sei a verdade dói mas não mata queridão

- Avise que estou dormindo- falo olhando pra um ponto qualquer

- Não posso- a é claro que ele pode

- Inventa uma desculpa, se for preciso fala que morri, porque eu não vou descer

- Ok

Ele saiu do banheiro indo em direção a porta, e levou a lâmina junto, isso é uma bosta. Mas infelizmente as coisas pioram quando ele volta a abrir a boca

- O filho deles é bacana, você poderia criar uma amizade com ele, seria bom pra você se relacionar um pouco- a ele não disse isso. Eu estou sonhando

- Pra que papai? Hm? Pra quando eu botar toda a confiança nele, quando eu estiver feliz perto dele você decidir dar um dinheiro pra ele me estrupar? Igual você já fez. É isso que você quer fazer mais uma vez ? Vá em frente, ele mora aqui do lado

- Any você sabe que aquilo foi um erro, não era pra ter acontecido de verdade, o moleque levou muito a sério- como ele tem coragem? As lágrimas já tinham voltado com tudo e eu nem me importei de deixá-las a solta

- Ah claro que foi um erro paizinho, a porra de um erro que fez eu estar nesse estado hoje! Um erro que me faz ter medo até da minha sombra. Isso foi só um erro mesmo?! Você tem certeza? Foi um erro que fez eu estar em todos os jornais da cidade e como a errada da porra da história, mas é claro que você se lembra, porque pra todo mundo eu era a filha vadia que dava pra todo mundo, eu era a filha que sempre saía e nunca parava em casa. E mesmo aparecendo no jornal "pai paga homem pra estrupar filha" eu continuei saindo a errada. Então parabéns papai, você conseguiu, traumatizou sua filha como queria!- ah isso foi bom, mas ainda assim a dor dentro de mim não para

Aquele cara que infelizmente chamo de pai saiu, sem ao menos olhar pra trás, isso foi ótimo, mas antes de sair vi ele sorrir, eu fiz uma piada. Quando a porta estava fechada fiz a única coisa que sabia fazer direito, me jogar na cama e deixar que as lágrimas terminassem de sair do meu rosto

Eu queria que isso acabasse, queria poder viver, mas eu não posso. Estar morta continua sendo a melhor solução

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A verdade foi revelada? Sim, não, talvez

Tem muita coisa pra acontecer ainda

Votem e comentem

Até a próxima, Kyara!

Just The Way You AreWhere stories live. Discover now