Capítulo 1- Any

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Provavelmente deve estar nevando lá fora, isso deve explicar o aquecedor da casa ligado. Se bem que isso nem faz diferença, meu quarto sempre vai estar gelado

Pelo menos pra mim

Acho que já está de noite, consigo escutar barulhos dos grilos. Não vou negar, o som me irrita, só me faz perceber que ainda estou viva

O teto continua a mesma merda sem graça, eu estou no escuro, em todos os sentindos possíveis, e nem sei se quero sair dele

- Filha?- isso me irrita também, ela sabe que a porta sempre está aberta. E sabe que eu sempre vou estar dentro do meu quarto, pra que bater ?

- Você sabe que a porta está aberta!- eu respondo, mas não queria responder

- A janta está pronta, estamos esperando lá em baixo!- ela sorri, e eu queria poder fazer o mesmo

- Eu já desço- eu não vou descer, mas ela acreditou nas minhas palavras

Não tenho fome a um bom tempo, o que como mal para no estômago. Não consigo dormir, as cenas daquela noite viraram meus piores pesadelos. Eu queria poder sorrir novamente, talvez voltar a ser uma adolescente

É, isso sério bom

Voltar a ser uma adolescente

Mas eu não consigo

Eu preciso que alguém me tire desse poço sem fundo

Por que eu não consigo sair?

Por que eu não tenho mais forças? É talvez seja isso

Eu não tenho ideia de quanto tempo não saio do quarto, acho que a última vez que sai foi semana passada, talvez mais, não sei

Não sei que minuto isso começou, mas sinto minha bochecha molhada. Estou chorando de novo, lágrimas e mais lágrimas. Inferno, esses pensamentos idiotas

  Toc toc toc

Ótimo de novo, eu já não disse que não precisa bater. Talvez eu deva colocar um aviso na porta

"Não bata, eu vou estar aqui do mesmo jeito"

Não respondi, não deu tempo, a porta já foi aberta. Mais uma vez minha mãe, acho que fiquei muito tempo aqui

- Nós temos visitas!- ela está feliz. Mas acabamos de nos mudar, não é possível termos visitas- nossos vizinhos vieram nos dar as boas vindas, não te chamaria pra descer se não fosse importante. Sei que não quer descer pra nada- ela diz fria, seu olhar transmitia frieza. Isso já não dói mais. E a mudança de faces também já eram bem normais

- Se você sabe que eu não vou descer está perdendo seu tempo vindo aqui de novo!- respondi na mesma frieza

- Você vai começar a escola em uma semana, os filhos deles estudam na mesma escola que você, se estivesse lá saberia disso- fria de novo, me pergunto se ela poderia ser mais fria que meu quarto

- Não importa, eu já disse que não vou pra escola, vou continuar como sempre foi, aulas com o professor na casa dele e eu na minha!

- Any pelo amor, você precisa sair, beijar, se relacionar, você já tem dezessete anos, assim vou achar que você vai morrer solteira e sem amigos- respira, expira e não surta

- Eu não quero beijar ninguém mãe e sobre amigos... Talvez não mereça ter eles- isso não é uma mentira

- Que seja, estou lá em baixo com as visitas, o filho deles é um xuxuzinho- e assim ela saiu

E aqui estou eu mais uma vez olhando pro teto

Minha mãe não está errada, ela quase nunca esteve, eu realmente nunca beijei. E quando achei que ia ter meu primeiro beijo tudo aconteceu

Meu passado é uma merda

Não sei quanto tempo estou aqui olhando pro teto. Cinco minutos, dez, talvez trinta, quem sabe uma hora

Eu não sei, só sei que estou desidratada

Toc toc toc

  Mas que falta do que fazer, ela sabe que está aberta, então é questão de segundos pra abrir

Toc toc toc

  Essas lágrimas não param inferno, por que ela não abre logo? Não vai ser a primeira vez que ela vai me ver assim mesmo

Toc toc toc

- Pode abrir dona Priscila, você sabe que essa merda está aberta, então pare de bater e entre!- as batidas pararam quando eu gritei, eu não queria gritar, mas gritei

A porta abriu devagar, talvez fosse meu pai. Uma figura masculina apareceu na minha vista, e com certeza não era quem eu esperava

- Oi- ele disse, esse é o primeiro passo. As lágrimas aumentara. Meu Deus- está tudo bem? Por que está chorando?

- Sai daqui!- eu quase gritei. Ele me olhou, surpreso?

Minha mão sua, meu corpo treme, eu quero vomitar, nem que seja as tripas. Ele deu um passo na minha direção e dei um pra trás. Por que ele não saiu?

- Eu não vou te machucar!- ele disse de novo, dando mais um passo. Eu fui pra trás, tremendo muita mais, ele está ficando mais perto

- Por favor, vá embora!- elevei meu tom, mas o menino não pareceu se abalar.

O estranho na minha frente tinha um olhar preocupado. Eu me senti bem com isso, foi o mais próximo que um olhar já pareceu ser

- Só me diz o que está acontecendo- o olho dele é azul, ele deu dois passos de uma vez, eu não pude raciocinar, então somente dei um pra trás- isso é uma crise de ansiedade?

Eu neguei, meu cérebro não está racionando, é claro que isso é uma crise. Tem um estranho na minha frente se aproximando, isso com certeza é uma crise

- Oh isso com certeza é uma crise de ansiedade- ele disse, seu tom é carinhoso

- Só vai embora, não estou te pedindo o mundo- eu tremia, chorava, soluçava, estou prestes a vomitar, e esse cara não sai do meu quarto

O pior, ele fez o contrário. Ao invés de sair, ele se aproximou, cada vez mais e eu não tinha mais como dar passos pra trás, a parede já me impedia. Eu estou ficando apavorada

- Por favor- eu pensei que disse alto, mas não saiu mais alto que um sussurro

Ele me abraçou, e isso foi agoniante. Eu tentei sair, meus pulmões não funcionaram por alguns instantes. Eu estou sufocada. E esse estranho não me deixa sair

Tentei mais uma vez empurrar ele pra longe, mas o garoto me prendeu mais a ele. E por uns instantes, me senti segura

- Shii, quietinha...- ele disse e eu voltei no passado

"Shii quietinha, ou as coisas podem ser mais dolorosas pra você"

- Eu estou aqui com você- ele completou, e isso não fazia parte do passado

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Estão preparados? Eu não estou

Bem vindos a Just the Way You are

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Até a próxima, Kyara!

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