Capítulo 12 - Zander

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Eu não tenho ideia do que estou fazendo, não tenho ideia da razão pela qual saí do meu lugar para cruzar entre essas pessoas e tomá-la em meus braços, dançando uma música em que sequer presto atenção. Talvez seja a quantidade de álcool circulando em meu sistema, talvez essas bebidas artesanais tenham algum outro ingrediente que me cause esse comportamento.

Quando tirei uma mulher para dançar a última vez? Dancei com minha capitã numa das folgas no quartel, mas aquilo não pode ser considerado uma dança, estávamos apostando quem conseguia mover por mais tempo suas cabeças ao som de uma banda heavy metal.

Agora é diferente, eu estou com uma mão em sua cintura, ela está com as mãos em meus ombros. Nos mexemos de um lado para o outro, resvalando de leve nossos corpos. Ela tem o aroma frutado de suas oliveiras; que chega a mim como uma mistura de flor de oliva, pêssego e maçã-verde, é como se ela inteira fosse um jardim frutífero. Seus olhos castanhos imprimem gentileza e calma, ainda que também demonstrem a força de alguém que sabe exatamente o que quer. Ao encará-los, descubro o oposto do que sou hoje. Talvez eles lembrem quem eu era no passado, quando eu também sabia o que queria.

Não gostei de Pilar a primeira vez que a vi, e não entendia o motivo de minha tia chamá-la de encantadora com tanto ardor. Para mim, as gêmeas — com sua esperteza —, são infinitamente mais encantadoras que a irmã mais velha.

Mas os homens não param de falar em como Pilar será capaz de revolucionar esta cidade e como são gratos por tê-la gerenciando a fazenda. Ela é respeitada e admirada por tantos que começo a me questionar se a vi direito. Talvez eu tenha errado, talvez ela seja mesmo tão encantadora como todos bradam.

Pilar sorri, ressaltando as maçãs coradas pelo sol de mais cedo. Seus lábios esticados se movimentam sem que eu me atente ao que ela fala. É só quando uma terceira mão toca em meu ombro é que saio do transe em que eu mesmo me coloquei.

Afasto-me dela e encontro seu pai.

— Espero que arquitetes prédios melhores do que danças, gajo — diz Martim, rindo com a mão em meu ombro. Percebo então que todas as pessoas me observam num círculo ao nosso redor.

— Agora é hora de arrastar o pé nesse gramado até amanhecer — grita o homem cujo nome não me lembro, tocando seu acordeom.

Aceno com a cabeça para Martim e saio da roda para voltar ao meu lugar, sem olhar para Pilar ou qualquer outra pessoa.

— É verdade, eles vão ficar até o amanhecer. Você vai querer ficar? — pergunta minha tia, aproximando-se de mim.

— Não. — Levanto-me, pronto para ir embora.

— Vou me despedir de Martim e Pilar — avisa ela, saindo.

Sigo sozinho em direção ao seu carro. Encontro as gêmeas no caminho.

— Você vai embora? — questiona Pina. Recuperada, ela voltou a ter o mesmo viço de quando a vi pela primeira vez.

Aceno com cabeça dizendo que sim.

— Não liga para o que meu pai falou. Eu gostei da sua dança com Pilar — ressalta Pietra.

— Nem parecia que você não tem uma perna — descreve Pina, com sua sinceridade.

— Acha que faria diferença? — pergunto a ela.

— Não ter perna? — Ela apoia as mãos na cintura e inclina a cabeça.

— Sim, não foi isso o que notou?

Pensativa, ela fecha os olhos antes de me responder:

— Eu acho que sua perna de ciborgue é bem melhor que as pernas de verdade.

Sem DestinoOn viuen les histories. Descobreix ara