Capítulo 11 - Pilar

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Eu não deveria ceder ao seu pedido, não deveria ficar aqui enquanto sente dor. Mas, ainda que eu saiba que devo me levantar e sair correndo, algo nele me faz atender e não me mover.

— Zander? — murmuro seu nome, conforme ele usa a outra mão para friccionar sua coxa com mais e mais vigor. Seus lábios comprimidos numa linha fina, a mandíbula rígida e as veias saltadas de seu pescoço não escondem o que sente. Ao contrário, deixam bem claro que seja lá o que for é muito doloroso.

— Não posso ficar aqui olhando — falo, tirando sua mão da minha e me levantando.

— Por favor! — implora ele. Paro ao ouvir sua voz como uma súplica desalentada. Giro meu corpo e o encaro, sem abranger como ele pode rogar por não ajuda.

— Então me diz o que está sentindo.

— Minha perna dói, é só isso. — Ele tenta fazer parecer menos do que é, mas sua face mostra que é muito mais do que isso.

— Qual perna? — A pergunta salta dos meus lábios ao vê-lo segurar a prótese.

— A que não existe mais. — É límpido o rancor em suas palavras. Volto até ele e sem cerimônia ou embaraço começo a puxar a barra de suas calças para cima, exibindo o metal da prótese, e é só isso o que tem aqui, metal. Ele nota a confusão estampada no meu rosto porque um riso curto escapa de seus lábios em meio a mais gemidos.

— Me pergunto o mesmo — murmura, entredentes.

Desisto de chamar Suria e fico com ele no chão por volta de uns trinta minutos, é mais ou menos o tempo que demora para que ele consiga se levantar sem dor.

De pé, Zander suspira passando as mãos pelo rosto e cabelo para se recompor. Ele ergue o pé com a prótese, elevando-o uns dez centímetros para a seguir bater no chão com alguma força. Testando a prótese, ou membro, ou a dor, eu não sei dizer.

— Não dói mais? — pesquiso.

Ele acena com a cabeça em negativa.

— Você sempre tem essas dores? — Sei que talvez não devesse fazer tal questionamento, ele não parece ser o tipo de homem que divide seus dilemas com alguém, mas a curiosidade é mais forte que eu.

— Desculpe por fazê-la...

— Não tem do que me pedir desculpas. Suria sabe?

— Não! E pretendo que continue assim. Se ela descobrir... meus pais saberão no minuto seguinte.

Preciso dominar minha língua para não disparar uma infinidade de perguntas, tais como: Por que seus pais não podem saber? Como você perdeu sua perna? Quanto tempo faz? Por que está sentindo dor e o que fará se ela voltar?

— Desculpe se te assustei, eu... — começa a dizer, após um longo suspiro.

Quando acordei estava decidida a evitar qualquer interação com ele que não fosse sobre o trabalho na fazenda. Estava preparada para mostrar-lhe a fábrica e esperar pela obra pronta sem que precisássemos estreitar laços. No entanto, assistindo a esse olhar de quem está perdido, de quem não tem a menor ideia de para que lugar ir, com quem ir ou por que ir. Como se sua vida estivesse totalmente fora do prumo, como se seu destino tivesse sido jogado pela janela e ele não soubesse como recuperá-lo, algo em mim se compadece e comove.

— Não precisa se desculpar. Fico mais tranquila que está bem — sussurro as palavras, estremecida por seus olhos brilhantes. E contrariando o que havia planejado, digo: — Vamos almoçar e beber alguma coisa?

Sem DestinoWhere stories live. Discover now