Capítulo 6 - Zander

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Mais uma vez percebo seu olhar se direcionar para a perna que não tenho

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Mais uma vez percebo seu olhar se direcionar para a perna que não tenho. É uma sensação estranha, como se eu estivesse nu em praça pública; sinto-me indefeso, vulnerável e um tanto irritado. São sentimentos com os quais não sei conviver, eles são o oposto de tudo o que eu sentia antes e é por isso que eu os odeio.

Desde que saí do hospital sem uma perna, os lugares que frequento são com pessoas como eu. Nas idas ao médico, fisioterapia, psicóloga... sempre havia alguém aprendendo a viver sem uma parte do corpo. Mas, aqui, eu me sinto nu.

É por isso que uma das gêmeas crê que sou um ciborgue, é razoável que a criança pense assim. Se a irmã mais velha não consegue disfarçar sua rejeição a um homem amputado, como posso pedir que crianças me vejam como um homem comum?

— Cibor... moço! — Uma mãozinha delicada segura a minha. Olho para baixo e vejo a gêmea mais simpática sorrindo para mim. Apesar de serem idênticas fisicamente, não é tão difícil saber quem é quem. — A nossa tia Suria trouxe mesmo dois patinetes, olha só. — Ela aponta para o brinquedo de duas rodas.

— Resolveu entrar? Vou te apresentar Pilar. — Minha tia surge com uma bandeja repleta de minilanches.

Penso em dizer que é tarde demais, que já a conheci. A criança continua a me puxar e indica que eu me sente numa das poltronas na ampla sala de estar integrada a de jantar. É uma casa típica de fazenda, parece até que fui transportado para o tempo colonial.

— Tem duas rodinhas, a gente tem que se equilibrar em cima dessa parte. — Ela ergue o patinete e começa a me mostrar tudo nele.

Enquanto isso, minha tia traz Pilar pelas mãos.

— Esse é Zander, meu sobrinho, mas aqui ele será seu engenheiro. Então não se preocupe com o laço familiar, faça-o trabalhar duro.

— Sim, eu o conheci lá fora — murmura ela, sem graça.

— Sério? Já se conheceram?

— Você consegue andar no patinete com uma perna só? — a garotinha pergunta, olhando para minha prótese.

— Pina, pelo amor de Deus! Vá brincar com Pietra, ela está patinando na varanda. — Pilar indica que a menina saia. — Desculpa, ela gosta de conversar. Você quer comer alguma coisa?

— É claro que ele quer, os lanches que Gertrudes fez são deliciosos — Tia Suria responde por mim.

— O que tem eu? Nossa! Quem é esse rapaz lindo? — Uma senhora aparece ajeitando seu coque e para ao lado de Pilar.

— Lindo assim só pode ser da minha família, Gertrudes. É Zander, meu sobrinho.

Sorridente, ela estica uma mão para me cumprimentar.

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