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Lembre-se de VOTAR

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Lembre-se de VOTAR.

  Um zumbido alto entorpece meus sentidos e faz minha cabeça latejar forte, com dificuldade movo minhas pálpebras pra cima e tenho o primeiro vislumbre do que aconteceu conosco. Perdi a consciência provavelmente pouco antes da aeronave cair.

Meu corpo inteiro parece ter sido espancado fortemente, estou toda dolorida e cada movimento aumenta minha agonia.

O cinto de segurança ainda está amarrado à mim, o que me faz acreditar que sou uma baita sortuda. Agradeço ao senhor por isso, estou viva e aparentemente sem nenhum grande dano. Observo ao redor, procurando por Luma e Bellinha.

Um arrepio acompanhado de temor domina cada partícula minha quando não as vejo sentadas em seus respectivos assentos.

Me desespero, varrendo todos os arredores com os olhos.

Passo a travar uma batalha com o cinto para solta-lo, mas seu encaixe está amassado e me atrapalho. Puxo com mais força até a peça se desprender.

Solto um suspiro de alívio quando me vejo livre.

Chamo pelo nome delas.

Arrasto meus olhos por toda a estrutura visível do jatinho, percebendo o estrago só agora. Grande parte foi danificada pela queda e existem destroços por todo lugar, uma grande rachadura parte a aeronave no meio e permite que eu enxergue o lado de fora.

Gemo, assim que me ponho de pé, sentindo uma fisgada em todo o comprimento da minha perna direita pelo esforço repentino. Apoio minhas mãos sobre a poltrona à frente e tento sair do lugar.

- Luma. - Chamo, mais baixo do que eu gostaria.

Minha visão fica turva e sou atingida por um breve vergitem, forte o suficiente para me causar desconforto e obrigar-me a sentar.

Tento respirar, fecho os olhos e inclino a cabeça um pouco para trás, seguindo o procedimento que aprendi na faculdade de Ed. Física para esse tipo de situação. As chances de alguém exceder nas atividades físicas ou até mesmo praticar alguma sem ter feito alguma refeição é bastante comum, por isso um profissional precisa saber como lidar.

Minha sorte é que fui nessa aula.

Me ponho novamente de pé, preenchida por determinação e coragem dou passos vagarosos em direção onde a mulher e criança deveriam estar, ao chegar percebo que o cinto de ambas parece ter sido partido ao meio e provavelmente o pior aconteceu. Sabendo que as chances dos seus corpos terem sido lançados pra fora durante a queda são grandes as lágrimas já começam a descer dos meus olhos. Um grunhido rouco deixa minha garganta e preciso voltar a me segurar para não desabar.

Apesar de tê-las conhecido recentemente, meu coração extremamente receptivo já tinha se afetuado a mãe e filha.

Culpa me acerta.

Eu era a única responsável por elas aqui, assumi a segurança das duas quando as botei dentro desse maldito jatinho e as perdi.

Um soluço me escapa e uma nova dor me invade, ela é diferente das outras, pois é caracterizada pela perda.

Choro capiosamente, tomando meu momento e não ouvindo nada além do que os soluços que solto pelo choro.

O barulho de algo sendo quebrado me chama atenção para o lado de fora, esperança brota em meu peito e saio pela grande fenda com rapidez, esquecendo até o incomodo em minha perna.

O som de surpresa deixa meus lábios quando avisto o tal Duque puxando seu copiloto por uma pequena janela, meu estado de choque e desespero fez com que esquecesse deles. Uma sensação de reconforto me apodera, saber que não estou sozinha me dá uma ponta de felicidade. Quero correr para lhe abraçar e perguntar sobre as a mulher e a pequena.

Olho em volto para ver algum sinal delas, mas não vejo nada além de destroços, areia, mar e muitos coqueiros.

Sinto olhar dele sobre mim e me viro de volta para sua direção, estamos apenas dez passos de distância e posso ler seus lábios quando solta um :

"Graças à Deus"

Algo como alívio cintila em seus olhos ao me fazer uma checagem  rápida e tenho que confessar que é recíproco.

Estou imensamente feliz que ele esteja vivo aqui comigo.

- Me ajude! - Exclama, segurando o outro homem pelas axilas.

Ando o mais rápido que consigo para seu encontro, sinto-me fraca e extremamente cansada.

- Você está bem? - Pergunta assim que o alcanço e assinto.

Ele estreita os olhos para minha perna e acompanho o seu gesto, meu jeans está banhado em sangue.

- Estou bem. - Afirmo, embora não tenha certeza disso.

Ele pondera sobre minha resposta, ainda encarando meu machucado.

- Vamos tirá-lo. - Falo e sua atenção volta para o jovem rapaz, o puxamos com cuidado.

Quando finalmente conseguimos trazer seu corpo para terra firme, respiramos em alívio.

- Ele está bem? - Pergunto, observando os inúmeros cortes do rapaz que agora lembro se chamar Júlio.

O ferimento em sua barriga parece o pior entre todos, tento comprimir o sangue que não para de jorrar e ouço Duque praguejar.

- O que foi? - Pergunto assustada.

- Os batimentos estão caindo junto da respiração. - Escuto suas observações ao mesmo tempo que migro meu olhar para o abdômen do rapaz e noto que sua respiração está quase imperceptível.

- Eu consegui? - Júlio pergunta com dificuldade. Ele parece mal.

- Sim, você é um ótimo piloto. - Duque responde, sua voz trêmula entrega que está abalado. - Você vai ficar bem. - Volta a falar, mas não recebe resposta.

- Temos que fazer o procedimento de RCP. - Ele assente, já se posicionando ao lado de Júlio e esticando sua mãos, deixando as palmas um pouco acima do estômago.

- Você sabe fazer isso? - Falo.

- 30 massagens por 2 ventilações. - Ele diz, já concentrado no procedimento.

Nós dois agimos juntos, tentando fazer seu copiloto reagir. O homem fala palavras motivadoras o tempo todo, embora não obtenha resposta alguma.

Só percebo que não podemos fazer mais nada e que o perdemos quando não sinto mais resquício de vida vindo do rapaz.

Novas lágrimas passam a descer.

- Nós o perdemos...- Sussurro.

Ele me ignora.

- Nós o perdemos. - Volto a falar, mas desta vez segurando em suas mãos.

- Não. - Resmunga, tentando se soltar do meu aperto e voltar a fazer a massagem.

- Sim. - Digo o abraçando.

Então, ele explode em um choro alto, comovente e que dói no fundo de minha alma.

- Sinto muito. - É tudo o que consigo falar entre as lágrimas.

- Sinto muito ...

Declínio - Série Irresistível. ( CONCLUÍDO- HINOVEL) ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora