Capítulo 29 - Desconhecido

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O corpo de Nanami estava tão dolorido. Seus olhos tremularam, as pálpebras pesadas, precisou forçá-los a abrir. Sua visão estava turva. Demorou alguns segundos para que visualizasse ao redor e percebesse que estava em seu quarto, na cama que dividia com Kensuke.

Seu coração aliviou as batidas quando se deu conta que estava salvo. As cenas daquele momento terrível saltaram em sua mente, querendo roubar sua sanidade. Nanami se moveu de lado na cama e chorou baixinho. Seu corpo sacudiu devido aos soluços, algo que não podia controlar.

Buscou com a mão pelo objeto que por muitas vezes foi seu amparo e porto seguro, mas não o encontrou em seu pescoço. Angustiado, deslizou as mãos por toda parte, porém não havia sinal dele. Assustado e ignorando a dor, Nanami se sentou no futon. Abriu o kimono branco de algodão e procurou novamente por seu pingente, mas nenhum sinal dele.

"Onde está?" Perguntava-se uma e outra vez em sua mente. Aquele colar era a única coisa que tinha de seus pais. Sua avó sempre lhe disse o quanto era importante e que jamais deveria tirá-lo ou perdê-lo, e pelo visto desapareceu.

Em desespero, Nanami jogou os cobertores para longe e tateou as mãos por toda a extensão do futon, cobertas e pelo quarto, mas não havia sinal de seu precioso quartzo em forma de coração.

— Cadê? Onde está? — Ele indagou sem esperar realmente que alguém fosse responder, apenas desejava com todo o seu ser que aparecesse.

Nanami percorreu todo o quarto, ignorando a dor de seu corpo. Quando não havia mais lugar para procurar, ele se sentou no chão e fungou. As lágrimas de tristeza debulharam de seus olhos. Esfregou-os repetidamente, fazendo beicinho.

Foi quando um estalo em sua mente o lembrou de quando se deparou com os bandidos e esses o sequestraram. Recordou vagamente que lutou contra eles, e que quando um dos gêmeos puxou seus cabelos, sentiu o feixe do colar romper.

Era isso, o colar havia sido perdido na floresta!

Fungando, ele fechou os olhos e deixou a transformação apossar de seu corpo. Parecia estar se acostumando com isso. Levou alguns minutos para que diminuísse e logo um pequeno gatinho apareceu. De alguma forma, a dor de seu corpo amenizou por estar na forma animal.

Seguiu para fora do quarto em suas pequenas patas. A cabeça se curvou tentando captar os sons da casa e os cheiros. Ainda que não pudesse controlar todo o seu instinto felino, conseguiu sentir que Kensuke, Sayuri e Ryo estavam lá. A culpa o tomou por estar mais uma vez saindo sem avisar e correndo o risco de ser sequestrado novamente, mas o colar era importante demais para ele.

Nanami desceu as escadas em total silêncio, ainda que com certa dificuldade. Parou no fim dela, esperando para ter certeza de que ninguém o viu. Confiante que sua travessura não havia sido descoberta, correu até a janela mais próxima e pulou, deixando sua casa.

Sentia a brisa da noite acariciar seus pelos brancos e trouxe junto os cheiros de Akai, ainda assim continuou correndo, ignorando os protestos de seu corpo.

Podia sentir a terra úmida contra suas patas, ver as luzes das casas e as conversas dos lobos. Praticamente não havia ninguém pelas ruas do vilarejo, denunciando que era tarde e todos estavam recolhidos em seus lares.

De repente, Akai Ito pareceu maior do que era, considerando que estava na forma felina. Atravessou todo o lugar e chegou às margens da floresta. Seu corpo travou quando sentiu medo. Lembrou-se de tudo o que aconteceu, da dor e do perigo que passou e isso o impediu de prosseguir.

"Seja corajoso... estou contigo filhote" Aquela voz desconhecida veio, a mesma de quando Kensuke estava doente.

"Mas... por que não me ajudou...?" Nanami retrucou. Sim, aquela voz que havia lhe ajudado com Kensuke, não fez o mesmo quando foi sequestrado... e sentia raiva por isso.

Akai Ito I - Fio Vermelho (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora