Dragão de Prata (HIATUS)

XXXIX. Ser amaldiçoado

Cr.: Desconhecido

A dor rasgava a carne de Wang Yu, derramando-se através das inúmeras feridas abertas por cada parte de seu corpo. O Imperador, cercado por uma comitiva de servos e nobres ajoelhados no pátio de seu palácio, tinha o rosto salpicado pelo sangue do filho mais velho. As feições, outrora rígidas, deformaram-se em uma expressão de desgosto e ódio puro.

— Você sabe que a culpa é sua, certo? — grunhiu, após puxar o açoite que enterrara-se na costa do filho. — Sabe por que estou fazendo isso?

Yu mantinha-se de cabeça baixa, mostrando submissão total enquanto era castigado. Os dentes cerrados eram a única demonstração de sofrimento que demonstrava, pois sabia que se mostrasse fraqueza, a punição seria ainda pior.

Outro golpe com o açoite atingiu sua pele, desta vez abrindo um corte nos braços. A ferramenta de castigo possuía tiras de metal nas pontas, quais garantiam o aumento dos flagelos.

— Responda! — exigiu Wang Jie, desferindo uma série de golpes contra o príncipe. Ambos estavam cobertos de suor, após horas de tortura e repetição da mesma questão “Você sabe que a culpa é sua, certo, Wang Yu?”.

— Sim, pai imperial! — grunhiu, apoiando-se com mais força para não ceder. Os joelhos estavam completamente arranhados tal qual as palmas das mãos após tanto tempo sustentando o peso de seu corpo. Algumas áreas estavam dormentes, mas nada o afastava da sensação lacerante do castigo: a humilhação estava cravada em cada centímetro da derme, potencializada pelos insultos que choviam sobre ele de tempos em tempos. — A culpa do que aconteceu é deste humilde servo!

Naqueles momentos, Yu perdia seu título e inclusive a identidade. No entanto, estava acostumado a ser subjugado pela criação rígida do pai, portanto, era comum deixar de lado o orgulho para ao menos tentar amenizar o período de castigo. Todavia, uma vez que ele foi o responsável pela entrada de Li Xiao na Cidade Imperial, as consequências advindas da chacina que o rapaz cometeu recaíram sobre seu amante.

Lembrava-se dos dias em que passou na estrada, com o intuito de dirigir-se até a Dinastia Kang. No entanto, sempre que a imagem de Li Xiao, acorrentado a uma cela escura e úmida, surgiam em sua mente, sentia um sabor amargo na boca que o impedia de comer, beber e dormir. Mesmo aquela sendo a única forma de educação pessoal que Wang Yu conhecia, sentia-se muito mal por ter submetido Xiao a tal situação. Eles podiam resolver suas diferenças de outra forma, certo? Não precisava ser tão rígido! Por outro lado, tentava convencer a si mesmo de que aquela era a melhor forma, pois resolveria o problema de uma vez por todas. Ainda assim, era incapaz de estar em paz consigo mesmo após o ocorrido e nesse contexto, decidiu retornar à Cidade Imperial para desfazer o erro que cometeu.