— Vou levar isso como um sim. — ela pega duas luvas na caixa que está em cima da minha mesa. — Se quiser fazer alguma coisa algum dia, me ligue. — a luva estala quando ela puxa o material de borracha nas mãos.

— Talvez eu ligue. — digo, antes que ela saia da sala.

— Tenha um bom dia, Dr. Min. — ela fecha a porta.

***

Coloco o carro na garagem assim que chego do hospital, o relógio no meu pulso avisa que são nove horas da noite. Antes que eu feche a porta, olho para a casa de Taehyung. O movimento é rápido, e por um momento penso ter visto a cortina do segundo andar se fechando.

Permaneço olhando para o local esperando qualquer movimento, quando nada acontece, reconheço que foi apenas minha visão cansada.

O vento gelado faz meu nariz doer enquanto permaneço parado com metade do corpo dentro da garagem, e metade fora. Será que Taehyung acharia inconveniente se eu fosse ver como ele está? Talvez o gesto parecesse romântico em algum ponto, mas o horário não me parece um dos melhores. Se bem que ele veio devolver meu boleiro tarde da noite... mas será que ele está dormindo? Talvez tenha deitado cedo depois de ter dor de cabeça, não me parece improvável.

E se eu fosse até lá, o que aconteceria? Será que ele me receberia na porta daquele jeito de quem não sabe o que fazer? O que me faz lembrar... será que ele lembra que quase nos beijamos? Será que ele tem noção de que quase tivemos um contato maior do que o esperado para dois vizinhos que acabaram de se conhecer?

Ele não está apaixonado por mim, não é difícil de notar isso, principalmente porque Taehyung é alguém que não sabe controlar suas emoções exteriores. Por outro lado, uma relação não se constrói apenas com paixão, ele pode facilmente estar apenas atraído sexualmente por mim, e isso parece mais provável e fácil de acontecer. Foi assim que consegui Hoseok.

Meu corpo é tomado por um calafrio, tremo e cruzo os braços para me manter aquecido. Dou um passo hesitante pela calçada em direção ao outro lado da rua. A luz do andar de cima ainda está acesa, seria aquele o quarto dele?

Respiro fundo, sou só Min Yoongi, o médico preocupado que quer saber notícias do seu paciente, e por que não perguntar para o amigo dele? E quem sabe aproveitar o embalo e saber dos dois ao mesmo tempo?

Encaro a campainha, ainda indeciso. Lentamente, ergo minha mão até o botão e percebo que as juntas dos meus dedos estão brancas pelo frio. Ignoro e toco o aparelho, passo uma mão rápida pelo meu cabelo e expiro lentamente.

Ouço os passos se aproximarem da porta antes que ela sequer abra, cruzo os braços porque minhas mãos estão tremendo, talvez pelo frio, talvez por ele. Talvez pelos dois.

A porta se abre e a luz amarelada de dentro ilumina meu rosto, ouço o som baixo de música vindo de dentro da casa. Mas logo esqueço todo o resto quando meus olhos se encontram com os dele. Taehyung tem os cabelos emaranhados, como se estivesse deitado. Sinto meu dedo formigar para arrumar os cachos rebeldes. Ele abre mais a porta e dá um passo pra frente, um sorriso fechado no resto.

— Espero que não seja tarde para uma visita médica. — falo. Ele estende a mão em um cumprimento, os dedos estão sujos de tinta, e por algum motivo, isso me deixa mais atraído por ele. Antes que ele retire a mão ao ver a situação dos próprios dedos, eu a seguro. O calor dele flui rapidamente pelo meu braço.

— Eu estava pintando. — diz em tom de desculpas. — Dei uma pausa quando minha cabeça recomeçou a doer.

— Agora seus cabelos estão explicados. — rio baixinho. Taehyung leva a mão aos cabelos parecendo um pouco alarmado, ele gagueja algo sobre se mexer muito na cama. Com agilidade ele faz o máximo para abaixar o volume. — Não se preocupe com isso, você está ótimo. — as palavras escorregam pela minha língua antes que eu possa sequer raciocinar o impacto que possam ter.

ᴅᴏʟʟʜᴏᴜsᴇ | ᴋᴛʜ + ᴍʏɢWhere stories live. Discover now