Capítulo I

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O sol espiava pelo horizonte distante, fazendo com que sua luz envergonhada atravessasse a janela do aposento transformando-o em rosa e vermelho, o céu era uma mistura exímia de cores em plena mudança como a tela de um pintor genial e o vento batia levemente na frágil janela do quarto como se pedisse educadamente para entrar. O cenário era esplêndido, todavia nem todos poderiam aproveitá-lo.

Isabella sentou-se em seu beliche tocando lentamente os dedos da sua mão esquerda com suas sobrancelhas franzidas e os lábios cerrados.

- Já fazem cinco dias – murmurou para si mesma.

Ela conseguia se lembrar do momento em que havia chegado ao Império de Licrya com uma clareza quase onírica, a experiência fora um tanto traumática para a jovem.

Naquele dia, Isabella acordara cedo e se arrumara rapidamente para a faculdade, era apenas um dia de praxe em sua vida, mas por algum motivo, assim que ela atravessou a porta de seu apartamento, Isabella se viu nos jardins de um magnifico palácio, com árvores frondosas, flores balsâmicas e pedras fluorescentes roxas posicionadas perfeitamente em pontos estratégicos do jardim. Apesar do cenário de conto de fadas, o desespero de não entender absolutamente nada do que estava acontecendo era um sentimento que Isabella não queria nem para seus piores inimigos.

- Você já está acordada? – indagou Clementina olhando para Isabella de cima do beliche enquanto interrompia sua linha de pensamentos.

- Fale mais baixo! Você vai acordar as meninas!

- Se elas não acordam com os roncos da Dutcha não vai ser comigo que elas vão acordar.

Isabella riu baixinho, mas o som da sua própria risada a entristeceu. Ela sentia saudades de casa constantemente desde que começara a viver ali e ainda não tinha certeza se ter sido acolhida pelas empregadas do palácio real era uma coisa boa ou ruim.

A jovem se meteu em um grande mal entendido quando adentrou neste mundo:

Estando em um lugar desconhecido a primeira coisa que ela fez foi procurar informações no lugar mais próximo, que acabou por ser as acomodações das empregadas reais. Por uma grande coincidência, as empregadas tinham estado agitadas ultimamente já que o imperador daria um grande baile em apenas três semanas e elas não tinham mãos suficientes. Então a chefe das empregadas, Madame Luza, pediu ao chefe da logística dos serventes, Crazil, por mais algumas ajudantes.

Quando Isabella bateu na porta das acomodações em desespero, as empregadas pensaram de imediato que ela fosse uma das novas contratadas que deveriam chegar naquela semana, dali em diante os maus entendidos só pioraram e Isabella perdeu completamente as forças para tentar resolvê-los depois de perceber que se ela perdesse aquele emprego, ela não teria nem dinheiro, nem família, nem lugar para morar, nem conhecimento daquele mundo – ou seja, Isabella acabaria ou virando uma mendiga ou morrendo de fome nas ruas.

"Só espero que as empregadas nunca percebam que eu não sou quem elas estavam esperando" pensou com seus botões enquanto dava um suspiro.

O resto das serventes só começaram a se levantar quando o sol mudou de uma tonalidade rósea para uma tonalidade de amarelo pálido. A primeira delas foi Dutcha; seu ronco cessou de repente, ela esticou seus braços pálidos e olhou sonolentamente para Isabella.

- Bom dia. – Sua voz era apenas um burburinho fenecido naquela manhã de primavera.

- Bom dia, Dutcha – cumprimentou de volta.

- Quer que eu te ajude a arrumar seu cabelo hoje também? – perguntou enquanto se sentava na cama e alongava sua coluna.

- Só deixa eu me trocar primeiro.

O Imperador VermelhoWhere stories live. Discover now