Capítulo XXVIII

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A respiração de Isabella se tornou ofegante. Você não é desse mundo, é garota? Como ele poderia saber apenas com um olhar. Seu primeiro impulso foi dizer que era sim, contudo lembrou do acordo, responder com sinceridade. Sua cabeça girou. Não achava que fosse muito sábio quebrar um acordo com um monstro.

- Isabella? – chamou Alexandre preocupado.

É verdade, ele ainda estava ali. A jovem contemplou os olhos do Imperador, ferozes e tranquilos, mas principalmente aflitos. Não parecia ter ouvido o que Âmbar dissera, ou então suas íris seriam acusadores e suas palavras ríspidas. O lobo havia dito que não deixaria que ele ouvisse.

- E então? – lhe apressou a criatura.

Isabella fechou os olhos com força e os abriu em um ímpeto, vendo estrelas saltarem e brilharem em sua face.

Ainda estava arfando quando respondeu miudamente. – Não, não sou.

- Imaginei – constatou com um sorriso de triunfo.

- Como... – E olhou para Alexandre exaltada. Tinha que tomar cuidado com suas palavras, ela não podia falar diretamente na mente de alguém como Âmbar. – Como chegou a essa conclusão?

- Sua alma é diferente da dos humanos desse mundo. A cor, a forma, o cheiro. Além disso, não consigo sentir sua presença, quase como se você não estivesse aqui.

- Como consegue ver... isso?

- Todos os monstros conseguem. Nunca me pareceu uma habilidade muito útil, até hoje.

A jovem repetiu aquela informação em sua cabeça. Talvez lhe pudesse ser benéfica no futuro.

- O que fará com essa informação? Não acho que seja de muito uso para você – disse, ainda medindo diligentemente suas sentenças.

Em verdade, a garota queria perguntar se ele contaria ao Imperador, todavia Alexandre fitava-a com intensidade, tentando decifrar aquela conversa. Só poderia esperar que o lobo capturasse suas verdadeiras intenções. Para sua sorte, Âmbar entendeu a mensagem nas entrelinhas:

- Não contarei à Alexandre, se é isso que quer dizer. Perguntei pelo mesmo motivo que você me fez tantas outras perguntas. Curiosidade.

Alívio preencheu seus pulmões. Podia respirar novamente.

- Tenho outra questão – proclamou a Âmbar. Não pediu permissão para inquirir – como chegou a esse mundo?

Aquela era a dúvida que vinha atormentado a garota durante meses.

- Eu não sei. – Era a mais pura verdade.

***

Quando estavam retornando pelo túnel, Alexandre ainda lhe perguntou sobre o que Isabella havia conversado com Âmbar. Sua alteza pensou em contar uma mentira, mas não queria continuar inventado histórias que seriam difíceis de encobrir. Ao invés disso disse, é um segredo. Talvez eu lhe conte um dia. Isso se eu estiver de bom humor. A jovem manteve um sorriso brincalhão na face durante toda a conversa, como se nada do que tivesse conversado com o lupin fosse sério. Se ele havia ou não engolido sua atuação, não dava para perceber apenas contemplando seu semblante. Talvez Alexandre tivesse percebido que não era tão simples quanto Isabella fazia parecer, talvez não quisesse arrumar uma briga por isso, ou talvez simplesmente não se importasse. Isabella desejava que ele se importasse, mas não queria que ele descobrisse. Era um sentimento intricado.

Suas conversas não pararam só nisso, o Imperador ainda lhe contou alguns fatos interessantes sobre o túnel:

- Esse túnel foi construído com o esforço conjunto de diversos mineiros durante quase uma década inteira – explicou vagarosamente – foi criada pela Imperatriz Hashima, minha hexavó, com o intuito de ajudar a família imperial a escapar durante um possível ataque ao palácio. Estávamos vivendo uma época muito difícil e parecia que a qualquer momento Licrya iria cair. Mas minha pentavó, Ajá, conseguiu expulsá-los com seus poderes recém-descobertos. Ela tinha olhos vermelhos, como os meus, e podia invocar a Sepulcral. Esse túnel nunca foi usado. – Então acrescentou em tom de conselho. – Se algum dia você estiver em perigo e eu não estiver na ala sul, corra para esse túnel e grite por Âmbar. Ele vai vir voando para te ajudar.

O Imperador VermelhoWhere stories live. Discover now