Capítulo V

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Jamie sentou-se no banquinho que ficava em frente ao espelho de rosto sem moldura em seu quarto. Uma pequena caixa alaranjada se deitava preguiçosamente em seu colo enquanto ela estudava meticulosamente o que faria em seu cabelo nesse dia tão banal como muitos antes deste.

A jovem penteou levemente sua crina negra e lisa, e abriu seu ínfimo baú de joias com diligência, tateando levemente o conteúdo em busca de suas presilhas pretas. Conquanto havia algo errado, em vez de seus dedos calejados atingirem algo duro e frio, eles atingiram algo liso e macio e outra coisa áspera e quebrável. Jamie olhou para baixo e pulou de surpresa com o que viu lá dentro. Havia um bocado de folhas e pequenos galhos empoleirados em conjunto com seus ornamentos. A jovem empregada piscou várias vezes, tentando compreender a situação, então seu rosto tornou-se purpura e ela gritou o nome da única pessoa que poderia ter feito um trabalho daqueles:

- Clementina! Vem aqui!

Dutcha arregalou os olhos com o grito, largou os lençóis que vinha dobrando com diligência e se aproximou para ver o que estava acontecendo.

- Olhe para isto e me diga se essa obra de arte não veio com assinatura? – indagou Jamie mostrando a caixa de joias a sua colega robusta.

Dutcha encolheu-se um pouco sentindo que alguma coisa estava fora do lugar. Em um dia comum Jamie apenas ignoraria aquele tipo de travessura.

- Ora Jamie, não podemos acusar ela sem provas, além do mais são só umas folhas – foi argumentando no intento de apaziguar a situação.

No entanto, a empregada de cabelos negros apenas negou veementemente tal afirmação.

- Tenho certeza que foi Clementina, e não é simplesmente por causa das folhas, eu já estou farta dela sempre tentar me incomodar! – exclamou levantando-se abruptamente de sua cadeira, indo em direção a porta entreaberta e gritando em plenos pulmões – CLEMENTINA!!!

Uma das empregadas que estava no corredor com uma escova e uma pasta de dentes quase caiu de susto com o berro, e uma outra pôs a mão na boca e riu nasalmente quando percebeu que alguém estava muito encrencado.

Naquele momento, o som de passos começou a ecoar pelos corredores, seguido pela voz abafada da Madame Luza que dizia "já falei que não é pra levar comida pro quarto". Logo, a imagem de duas garotas tomou forma ao longe, Clementina com uma bela trança e Isabella com um coque esmero, ambas trajadas com seus uniformes bem asseados.

Elas postaram-se com um sentimento de alerta diante de uma Jamie vermelha e cheia de rugas entre os seus sobrolhos, e de uma Dutcha com um semblante preocupado.

- Por que você está me gritando tão cedo? – sondou Clementina enquanto cruzava seus braços magrelos.

Jamie abriu seu bauzinho de madeira e mostrou seu conteúdo a jovem de cabelos crespos.

- E daí? Agora você usa folhas para enfeitar o cabelo?

- Não se faça de boba! Foi você que as botou aí, não foi?

Clementina arqueou as sobrancelhas ao mesmo tempo que bufava como se estivesse ofendida. – Claro que não fui eu! Eu jamais faria uma pegadinha tão pobre quanto essa. E mesmo que eu tivesse feito, e daí? Você não está fazendo deste um caso excessivamente grande? Não seja louca, são só alguns gravetos.

- Ora sua peste.... Se não foi você então quem foi? – inquiriu Jamie ainda em descrença.

- Sinto muito – murmurou Isabella, todas as três jovens olharam na direção da garota enquanto seu rosto assumia uma tonalidade carmim e seus dedos torciam a barra de seu avental. – A culpa é minha...

O Imperador VermelhoWhere stories live. Discover now