Capítulo 3 | Um encontro de erros

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A despedida era um uma baladinha famosa e privada. Quando disse sim, Marco resolveu me acompanhar para evitar qualquer besteira ou recaída, como ele apontou. Assim que colocamos o pé na festa, em um ato de loucura (só pode), me deixei levar pela música e pelas luzes. Confesso que bebi um copo atrás do outro, misturei doses de bebidas que nem quero saber o nome.

Dancei até cansar com Marco, mas minha mente estava muito ciente do olhar de Helena, que estava sentada com suas damas de honra. Nesse momento, fomos abordados por um homem lindo, perguntando se Marco era solteiro. Sabia que era a minha deixa e me afastei, dando privacidade.

Não demorou muito e eles começaram a se afastar para um canto escuro. Safado! Não consegui controlar uma risada e balancei a cabaça, descrente. Ele nunca soube só dançar em uma balada, sempre arrumava um peguete.

Avisei Marco que iria para o bar, mas ele estava muito envolvido com um gatinho para notar. Deixei-o ali e fiz um sinal de positivo com a mão, para ele saber que estava feliz e deixaria ele ali para curtir seu momento.

No momento que encostei no bar e fiz o pedido, alguém parou ao meu lado.

— Se divertindo?

— Bastante. E você, aproveitando sua última noite como solteira? 

Helena sorriu da forma enigmática que só ela era capaz, com um convite explícito em seus olhos.

— Poderia ser melhor.

Então ela jogaria com indiretas? Apenas acenei com a cabeça, tentando não dar corda para a situação. O bartender entregou meu pedido e me virei para sair.

— Será que nós podemos conversar? — perguntou ela, segurando meu braço antes que pudesse me afastar.

Bêbado é complicado. Perdemos o filtro entre o cérebro e a boca, entre a razão e a loucura e queremos apenas viver. Marco não estava ali para dizer que não, e a minha razão tinha ido para o espaço. E foi nesse momento que eu concordei.

— Vem comigo — disse ela, pegando minha mão e nos levando para as mesas com sofás que ficavam no andar de cima. Ali era a área vip, e a música era mais baixa.

Sentamos e ficamos em um momento de silêncio constrangedor, bebendo nossas bebidas. Quatro anos se passaram, e eu não sabia por onde começar. Ou mesmo se deveria falar algo.

— Você gostou do meu vestido? — perguntou Helena, do nada, me arrancando do devaneio.

Ela sabia, não precisava me perguntar. Meu olhar respondeu, sincero até demais. Ainda assim, eu reforcei com palavras:

— Você sabe que sim.

— Eu sempre quis casar de vermelho.

Olhei para ela com mais atenção, que nesse momento parecia melancólica e perdida em pensamentos.

— Por que escolheu branco?

O olhar dela se tornou irônico, um sorriso de escárnio se desenhando em seus lábios perfeitos.

— Branco é o que se espera de uma noiva, minha mãe disse. Era o que eles esperavam de mim.

Quantas vezes Helena teve brigas semelhantes com a família dela? O conflito de ideias e interesses sempre foi presente na casa dos Prado, e ela saia perdedora todas as vezes. Quando isso acontecia, Lena se refugiava na minha casa e passava a noite chorando sobre um destino que já estava traçado e ela não tinha como fugir. Mas eu sempre tive esperança de que algo acontecesse e mudasse tudo, foi por isso que continuei com ela.

No fundo da minha almaWhere stories live. Discover now