No fundo da minha alma

Uma prévia da parte 02

Um tempo depois...

Eu sei, foi uma loucura tomar essa decisão baseada em um impulso. Mas como poderia dizer não?

Olhei para a carinha do nosso novo companheiro, um salsicha pretinho que chamei de Benji, e ele me olhou com seus olhinhos amendoados e conquistou meu coração. No momento que o vi em uma feira de adoção no shopping semana passada, fui fisgada. Foi amor à primeira vista.

Nem todos os "nãos" do Marco me fizeram desistir. E agora ele babava por esse cachorrinho tanto quanto eu. Coisa que tinha certeza que aconteceria, e no fim eu estava certa (para variar).

Benji, a pestinha mais amada e fofa desse mundo, era incontrolável. Ninguém negava nada para ele, bastava levantar os olhinhos pidões na sua direção e puff, ganhava o que queria. Sei disso porque em um minuto eu pedia para ele ficar no chão e não subir na cama, e no outro ele estava ali comigo, dormindo no outro travesseiro.

Mas hoje era sábado, dia de vacina do Benji. Marco normalmente ia comigo, mas ele nos trocou por Cris, seu novo "amigo colorido". Tinha mais coisa ali do que ele queria admitir, eu via um relacionamento lindo nascendo. Tudo ao seu tempo.

Então troquei o pijama por uma calça de moletom e coloquei um suéter, fiz um coque de qualquer jeito e saí. Era sábado mesmo, dia de usar roupas que não combinavam entre si.

O consultório ficava a duas quadras da minha casa, distância que cobri rapidamente. Enquanto aguardava o Doutor Paulo, o veterinário do Benji, a secretária Marisa me chama com um gesto de mão.

— Caroline, o Doutor resolveu se aposentar e por isso deixou de atender aqui.

— Que felicidade para ele, Marisa! Espero que ele consiga fazer aquela viagem ao Peru que comentou comigo na semana passada.

— É exatamente por essa viagem que ele se aposentou — me confessa a secretária.

— E quem é o novo veterinário do Benji? — pergunto, preocupada.

O Doutor Paulo era maravilhoso, Benji sentia-se seguro com ele. E eu também.

— A filha mais nova dele, a Dra. Raquel.

— Não sabia que ele tinha filhos! Que bacana, ela vai assumir a clínica daqui para frente?

— Vai sim, Caroline. Dra. Raquel é uma pessoa incrível, tem um carinho pelos bichinhos. Acredito que você vai gostar muito dela.

Eu aceno, concordando. O Doutor Paulo já era um senhor de idade, cabelos brancos e aquela sabedoria no olhar de quem já passou por muita coisa para estar ali hoje. Imagino a filha dele na casa dos quarenta, os mesmos olhos bondosos do pai.

— Tenho certeza que sim — respondo.

Benji ficou impaciente no meu colo, soltei o pestinha para que pudesse passear pelo consultório, como sempre faz. Assim que a porta da antiga sala do Dr. Paulo — agora Dra. Raquel —, se abre, Benji correu para dentro.

No instante que me virei para ir atrás dele, uma mulher linda saiu dali. Eu não poderia estar mais enganada sobre a Dra. Raquel. Com os cabelos presos em um coque no alto da cabeça, de jaleco e segurando Benji no colo, que lambia feliz o rosto dela, ela me avaliou e sorriu sensualmente.

— Você deve ser Caroline, a dona do Benji.

Ah, sim.