Eu não fazia a menor ideia do porquê estava ali. Tive um sonho com Helena na noite passada que me fez acordar com o coração acelerado. Eu sabia que era um aviso para evitar as ideias loucas que passavam pela minha mente.
Não era uma dama de honra e, pela cara que o Fernando fez na festa de noivado, definitivamente não era nem bem vinda perto da noiva. Eu não deveria estar ali, deveria ter recusado, arrumado uma desculpa ou fingido uma doença.
Mas eu vim mesmo assim, contra tudo que me advertia.
— Anda, Heleninha! Sai logo desse provador que nós estamos curiosas! — gritou Diana, com sua voz aguda e irritante desde que me lembro dela.
Alex, Diana, Patrícia (as damas de honra e primas) e Marco estavam sentados nas poltronas rosas alinhadas na saída da cabine de prova, bebendo uma taça de espumante. Marco criou a Afrodite para ser uma loja fina, que prezava pelo seu público, pela sua reputação e fazia jus aos valores e expectativas da noiva. Ele era um sucesso.
Mas não consegui me sentar naquelas poltronas, preferi sentar em uma na segunda fileira, mais afastada. Eu já era penetra no evento, não precisava ficar ali na frente também.
— Vou sair! Contem até cinco! — gritou a noiva, dentro do provador.
— Cinco — gritaram as damas.
— Quatro — e começaram a bater as palmas das mãos nos joelhos e os pés no chão.
— Três... Dois...
— Um!
Uma Helena maravilhosa surgiu do provador, envolta em cetim, pérolas e rendas brancas. Por que a desgraçada tinha que ser tão linda?
— Você está... — Alex, uma das damas de honra começou a dizer enquanto enxugava uma lágrima.
— Linda — escapou de minha boca. Um elogio tão sincero dito de forma tão apaixonada que só percebi a burrada que eu fiz quando Marco fez um gesto de quem ia me esganar. Exagerado!
— Escuta a lésbica, amiga! — disse Marco.
Todas riram do comentário de Marco, quebrando o gelo e se levantaram para tocar e arrumar o vestido. Mas o olhar de Helena cruzou com o meu, ela soube que disse uma verdade. Uma verdade perigosa, mas incontestável.
E eu soube que poderia me apaixonar de novo.
Saí da Afrodite extremamente frustrada comigo mesma. Como eu poderia ser tão burra para desejar alguém que só me fez mal? Foi vê-la de vestido de noiva e meus neurônios se desfizeram. Subitamente eu não conseguia dizer não, não conseguia parar de lembrar dos melhores momentos que passamos juntas.
Então, eu vim para a despedida de solteira de Helena. Não bastava ir ao evento de prova do vestido, eu gostava de me torturar e participaria do processo inteiro. O que mais eu faria a seguir? Me candidataria para levar as alianças no casamento dela? Não faltava muito.
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No fundo da minha alma
Short StoryHá quatro anos Caroline saiu do Brasil para fugir de um coração partido. O tempo foi suficiente para fechar as feridas, mas não para curá-las por completo. Quando retorna para aproveitar as férias ao lado de sua família, não esperava se abalar ao re...