Prólogo

42 2 1
                                    

Imagine a seguinte situação: você, em plena quarentena, está com uma vontade irresistível de jogar no seu PlayStation 4. Indecisa se dava uma surra no Nêmesis cavalão do Resident Evil 3 Remake ou se daria um jeito em uma empresa gananciosa que está matando o Planeta aos poucos de Final Fantasy VII Remake – porque estamos na era de ouro das reformulações de jogos antigos. Optando, por fim, pela nostalgia da aventura de Cloud Strife contra a Shinra. Só um detalhe atrapalha seus planos de entretenimento: do nada, literalmente, seu lindo e caríssimo vídeo game começa a bugar – o que é uma tragédia sem precedentes, afinal nem terminei de pegar.

As coisas já soam ruim o bastante?

Não?

Pois se prepare; a tendência é sempre piorar. Na minha condição de frustração, quase me debulhando em lágrimas, decidi que o mais sensato a ser feito seria ligar pra assistência técnica, mesmo com os riscos que poderia ter saindo. Claro que depois de avaliar minhas opções, com pesar, fiquei com uma das poucas fontes de distração: meu celular. Iria assistir alguma gameplay pra esquecer o meu problema atual, mas, para minha desgraça, o bendito estava descarregado. Olhei para o aparelho e o carregador que tinha parado de funcionar corretamente. A sucessão de eventos caóticos parecia um verdadeiro sinal de que hoje não era meu dia.

A má sorte arruinando minha felicidade. 

Muito brava, fui atrás da minha irmã para pedir emprestado o dela pra, pelo menos, ter acesso a internet. Pisando duro, segui pelo corredor, sem encontrá-la no quarto dela, até a escada.

Lembra que comentei que a tendência é piorar?

Então, sou o que chamam de perseguida pela Lei de Murphy.

Lá ia eu, inocente e cheia de fúria.

Misteriosamente escorreguei na beirada da escada e cai. Tenho certeza que algo ocorreu nesse intervalo de tempo, do deslize e da queda feia – bem estilo Nazaré Tedesco –, que acordei em uma cama, grogue e com uma terrível enxaqueca que quase me obrigou a permanecer de olhos fechados. Não suportando a dor, me arrastei lentamente para o banheiro, sem checar os arredores, indo direto para meu objetivo.

Liguei a torneira e joguei um pouco de água gelada em meu rosto até estar completamente desperta e com o raciocínio mais limpo. Bocejei e encarei meu reflexo no espelho: o cabelo castanho ligeiramente bagunçado, a pele clara e os expressivos olhos verdes transmitiam tranquilidade se arregalaram; a constatação desse fato me surpreendeu a um nível que tudo que fiz foi gritar com toda força para a garota no espelho. Um estrondo me calou de imediato, surgindo um homem familiar de cabelos espetados loiros e com uma espada maior que eu. Ele olhou pra mim com a arma enorme empunhada e examinou o quarto para procurar uma evidência ou uma razão do grito.

Em estado de choque, minha boca se abriu em um “O” perfeito.

– Cloud? – berrei impactada.

– Algo errado, Aerith?

Não era coisa da minha cabeça.

E digamos que as coisas não começaram bem. 

Nada bem.

A Menina da Fita RosaWhere stories live. Discover now