— Por que não?

— A governanta me disse as regras e—

— Ela não governa o meu quarto. — Ele me interrompeu, com mais firmeza na voz macia. — E você é meu criado, deve fazer o que me agrada, principalmente.

O lençol que estava em minhas mãos caiu na cama e eu me virei para a direção de onde a voz de Jimin vinha; ele estava sentado no tapete, próximo à mesa de centro, olhando para mim gentilmente, ainda que houvesse certo poder no brilho de seus olhos e no modo como arqueou suas sobrancelhas, aguardando minha resposta.

— Coma comigo. — Voltou a dizer.

Respirei fundo ao aceitar que deveria fazer o que ele pedia, deixei os tecidos macios sobre sua cama de lado e me juntei a ele, sentando-me à sua frente, do outro lado da pequena mesa.

Jimin sorriu, como se estivesse satisfeito por eu ter cedido.

— Não gosto de comer sozinho, é solitário demais. — Subitamente, seu sorriso parecia pertencer a um jovem que nunca pôde viver a vida apropriadamente, como se implorasse pela intervenção de alguém para acompanhá-lo em suas dores e em sua prisão. — Então, por favor, sempre coma comigo.

É curioso como famílias ricas, como a de Park, insistiam em manter-se isoladas da sociedade, como se houvesse algo extremamente valioso para se proteger. Não podia ignorar a sensação pulsante em meu coração de estar perdido em um jogo de mistério muito difícil de se resolver, era como se eu fosse o protagonista de um dos livros que escutava as pessoas lendo nas bibliotecas.

O olhar de Jimin era perdido quando ele pegou uma das fatias de pão com geleia e mordeu apenas uma lasca, como se sua mente tivesse voado para longe de repente.

— Não está comendo — ele murmurou.

Peguei uma uva e, lentamente, coloquei-a sobre minha língua.

Levou algum tempo para que Jimin comesse a fatia de pão inteiramente, logo partindo para beber do leite, colocando um filete de mel, dizendo que preferia coisas doces. Percebi que ele parecia mais sorridente quando falava enquanto comia.

Então me perguntei: se algo como conversar enquanto tinha seu desjejum o tornava tão feliz daquela maneira, o quão solitária havia sido sua vida antes da minha chegada?

Mais uma vez, a sensação de arrependimento cutucou meu peito, uma parte da minha consciência sussurrou que eu deveria mudar e não continuar com o plano de Kim Namjoon. Mas a maior parte dela lutou contra aquela sugestão; eu havia crescido com ladrões, havia sido criado para ser um ladrão, um enganador. Acima de tudo, havia crescido com a vontade genuína de ser livre e aquela era a minha prioridade.

Se enganar Park Jimin fosse a minha moeda de troca, apenas isto importava.


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Seokjin

Quando eu era pequeno, meu pai sempre gostava de lembrar-me que a vida para um ômega não era nem um pouco fácil e apenas tornava-se mais simples depois de um casamento com um bom alfa. Por isso, sempre fazia tudo que ele me dizia ser o necessário para conquistar um alfa com condições que me fossem suficientes, com ainda mais afinco após a morte de nossa mãe.

No fundo, eu sempre soube que amor era uma fantasia ou fruto de uma convivência constante, um ilusão criada para que as pessoas aceitassem se casar com desconhecidos, na esperança de sentir algo parecido com o que os livros de romance descreviam, em algum futuro; depois de anos acostumados a viverem presos em um casarão, com um alfa rico o bastante para sustentar suas vontades e que se distanciasse conforme o tempo passasse.

O Criado [jikook]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora