— Você parece o Lupin de Harry Potter oferecendo esse chocolate. — apenas sorrio, porque não sei do que ele está falando. — Ele não costuma beber muito. — diz, Taehyung.

— Nem você, aparentemente. — retruco observando os olhos dele que se fecham com o sono.

— Estávamos comemorando minha chegada aqui em Daegu. — ele ri, amargo. — Seria esse um sinal de que vai dar tudo errado aqui também? — o tom dele é melancólico. Vejo Jeon esticar a mão e segurar em um pedaço do tecido da calça do amigo.

— Sua vida vai mudar aqui, Taehyung. — em um gesto ousado, uso meu dedo para limpar o chocolate do canto da boca do homem. Meus pêlos se arrepiam ao tocar na pele quente dele. — Eu prometo.

Antes que eu retire meu braço por completo, Taehyung cobre minha mão com as suas. Sinto meu estômago revirar com a maneira que ele olha pra mim. Kim Taehyung tem olhos marcantes, sinto que ele pode ver cada camada da minha pele, cada pedaço que guardo em mim. Isso me assombra e fascina ao mesmo tempo.

Vou adorar olhá-lo todos os dias quando levá-lo para minha casa. A partir do momento em que poderei ser eu mesmo. Ele vai adorar.

Quase inconscientemente, inclino meu corpo na direção dele. Porque eu quero tocá-lo, quero sentí-lo, quero saber seu gosto.

Ele também se inclina, os olhos dele estão fixos na minha boca, sou tomado pelo seu calor quando nossos corpos ficam próximos o suficiente para que o álcool da sua respiração se misture com meu ar. A sensação é de que estou embriagado na beleza dele. Agora que estamos próximos, vejo uma pintinha na ponta do seu nariz. Meu corpo parece reagir de uma maneira nova, me ouço ofegar próximo aos lábios dele, que estão próximos, mas ao mesmo tempo distantes.

O som da sirene da ambulância me faz recuar violentamente. Solto minha mão que ainda estava entre a de Taehyung e a enfio entre minhas pernas, porque não posso mostrar como odeio esse som, como quero tapar meus ouvidos agora, como quero rasgar minhas memórias até que não sobre nada além dos meus bonecos e o homem na minha frente.

Preciso ficar, ele foi fraco... sou forte, tenho motivos.

Namjoon, Jin, Hoseok, Jisoo, Jimin.

Enumero cada boneco repetidas vezes na minha cabeça. Não importa que a ambulância encostou na calçada, não importa que Taehyung pareça desapontado.

A corda está apertando meu pescoço, estou ficando ofegante, a sirene... eu odeio a sirene, odeio a corda.

— Yoongi? — eu encaro Taehyung, tento regular minha respiração, estou ofegante, ele vai notar, vai notar minha fraqueza, vai desaparecer, eu vou desaparecer.

— Eu vou com Jungkook. — ouço minha voz falar, ela arranha minha garganta quando sai. — Você precisa descansar. — levanto enquanto belisco minha coxa para sentir dor, para saber que estou aqui. Funciona, vou deixando o som da ambulância de lado, foco em Taehyung e no belo boneco que ele vai ser.

— Não, eu vou também. — ele diz, firme.

Observo os paramédicos colocarem Jeon na maca e o acompanharem até a ambulância.

— Nós vamos também. — digo segurando o ombro de um dos paramédicos.

— Sim, doutor. — acho que já vi esse homem no hospital, e o fato dele me reconhecer é prova disso. Forço um sorriso no rosto e, com um braço nas costas de Taehyung, o guio até subir na ambulância, que parte logo em seguida.

Ele senta ao lado de Jungkook e logo segura a mão do amigo. Um dos paramédicos coloca Jeon no soro. Viro o rosto pra que não veja minha cara de desgosto de ter que estar indo também.

Só então lembro que quase nos beijamos.

Tremo lentamente, talvez entrar no mundo dele seja mais fácil do que pensei. Ou talvez seja porque estamos destinados, isso parece mais provável levando em consideração todos os eventos desde que ele chegou.

— Ele vai ficar bem. — dou batidinhas na perna de Taehyung, porque estou de bom humor.

— Ouviu isso, Kookie? — sussurra Taehyung, o homem na maca grunhe em resposta, os olhos cerrados.

Ele está com vergonha de olhar pra mim. Suspiro tentando manter meu bom-humor, emoções humanas são estressantes.

Encosto minha cabeça no carro e fecho os olhos.

***

— Ele está dormindo agora. — paro na frente de Taehyung que se encontra sentado em uma cadeira de espera no corredor. Retiro minhas luvas e as coloco no bolso do jaleco. — Colocamos ele no soro para hidratá-lo, isso vai ajudar a acelerar a eliminação do álcool. — Taehyung esfrega as mãos, nervoso.

— Eu deveria ligar para os pais dele? — encolho meus ombros.

— É bom que eles saibam, mas deixe claro que seu amigo está bem. Amanhã ele terá alta, seria bom que alguém mantesse um olho nele para que essa situação não se repita.

— Obrigado. — diz, me encarando. — Não sei o que poderia ter acontecido se você... — ele para de falar e fecha os olhos com força. — Obrigado, de verdade. — sorrio, o latejar irritante do meu coração pulsa cada vez mais rápido. Estou vivo. Graças a ele.

— Espero que nossos futuros encontros não sejam tão deprimentes como esse. — ele ri, mas suas bochechas estão vermelhas. — Tenho que ir pra casa, você vai ficar bem?

— Ah, sim! — ele levanta de forma desengonçada. — Te arrastei pro seu trabalho mesmo depois de ter terminado sua carga horária diária...

— Ei, você é o único que odeia medicina aqui. — brinco. Ele sorri. — As cadeiras são desconfortáveis, pedi que deixassem pra você uma poltrona ao lado da cama de Jungkook.

— Obrigado, tenho certeza que agora vou ficar bem. — levo minha mão até o ombro de Taehyung e aperto levemente. Obrigo meus pés a caminharem pelo corredor, obrigo minha cabeça a não se virar, mesmo sentindo o olhar dele queimar minhas costas.

Viro o corredor e tiro as luvas do bolso, jogando-as na lata de lixo. Retiro o jaleco e dou para um enfermeiro que passa por mim.

— Leve uma garrafa de água para o quarto vinte e dois, ok? — digo retirando algumas notas do bolso e deixando na mão do enfermeiro. — Diga para o homem lá beber.

— Sim, senhor. — ele se curva e segue pelo corredor.

— Poderia chamar um táxi pra mim? — apoio meus braços no balcão da recepção enquanto espero a recepcionista fazer a ligação.

Quando o carro estaciona do lado de fora, agradeço e saio do hospital. O cheiro de Kim Taehyung permanece na minha lembrança. Espero vê-lo o mais breve possível, dessa vez, em uma situação melhor.

***

Cheguei, cheguei chegando bagunçando a zorra (?) toda...

Como de praxe, espero que tenham gostado do capítulo, deixem sua estrelinha e seu comentário para alegrar meus dias perturbados pelo Ead.

Até a próxima terça!💙

Beijinhos!💙

ᴅᴏʟʟʜᴏᴜsᴇ | ᴋᴛʜ + ᴍʏɢWhere stories live. Discover now