Passado

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*Aviso de conteúdo sensível: agressão física e homofobia explícita.

Passado

pas-sa-do

adj. (adjetivo)

1. Preterido; que decorreu; que passou no tempo: momentos passados.

s.m. (substantivo masculino)

2. O tempo remoto, antigo: o passado da humanidade

Lauren era uma menina tímida e nada sociável a primeira vista. De poucos amigos, muita gente simplesmente não se aproximava muito dela e nem fazia questão disso. Todos ali sabiam que Lauren era filha do reverendo da cidade e de uma família religiosa rígida. A garota de quinze anos intimidava quase todos os seus colegas, exceto por essa em específico, que estava sempre dando risadinhas e olhadelas na direção da menina de olhos verdes.

Tinha aquela garota no colégio cristão a qual Lauren estudava, Estelle era o seu nome. Uma jovem de longos cabelos ruivos encaracolados e olhos incrivelmente dourados, muito bonita. Nunca teve coragem real de se aproximar de Lauren porque imaginava que a menina seria como todo mundo de sua família: extremamente religiosa e homofóbica. Ninguém sonhava com sua sexualidade na família, é claro, mas não conseguia evitar de sentir atração pela filha do reverendo. Lauren, no entanto, não tinha malícia e não pensava em ninguém daquela forma romântica.

Em uma tarde chuvosa, onde a sala de aula se encontrava silenciosa, Estelle tomou coragem de sentar ao lado de Lauren, que sobressaltou-se. Os olhos verdes arregalados eram a coisa mais bonita que a ruiva já tinha visto em toda a sua vida.

— Estelle! Você é Lauren, certo? – Lauren estava prestes a dizer que sabia o nome dela, todo mundo no colégio sabia, e justamente por isso ficava confusa. Estelle era da turma dos populares.

Quando sentia os olhares da garota e via os sorrisinhos, Lauren podia jurar que ela estava rindo de seus óculos que deixavam seu rosto um pouco mais redondo que o habitual. Começou a usar eles recentemente, e não seria novidade se estivesse mesmo rindo deles.

— Hm... Certo. O que está fazendo aqui? – Lauren não queria soar ríspida, mas acabou soando. — Não deveria estar com suas amigas?

— Ah, elas podem se virar bem sem mim... Não gosta de companhia para os estudos? Eu posso me retirar... É que ninguém senta ao seu lado e eu pensei que... – Estelle se remexeu desconfortável com os olhos verdes desconfiados em si. Era difícil completar uma linha de raciocínio assim.

— Ninguém senta ao meu lado porque sou filha do reverendo e eles tem medo que eu expulse demônio deles ou coisa assim. – Lauren deu de ombros, pegando seu lápis e começando a copiar a lição do quadro negro.

— Eu acho isso bobagem, não acha? – Estelle voltou a puxar assunto depois de alguns minutos em silêncio, decidindo ficar e tentar de novo, mesmo que Lauren não se mostrasse disposta.

— O que? – Perguntou Lauren enquanto fazia os cálculos da lição tão rapidamente que impressionava Estelle.

— Esse negócio de religião. – Agora sim, Lauren demonstrou choque e uma confusão genuína.

— Sua família não é cristã? Você não acredita? – Lauren abaixa o tom de voz, como se estivesse tocando em um assunto proibido.

E nesse colégio, era mesmo. Lauren não gostaria de ouvir duas horas de palestra e nem ter seus pais notificados por estar blasfemando contra Deus daquela forma, dizendo que ele não existia com outra garota. Quer dizer, Lauren acreditava, isso era inquestionável, porém acabaria tendo a conversa distorcida na hora de chegar aos seus pais e seria um desastre se isso acontecesse mesmo.

O Diabo veste PradaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora