[01] unus

8.9K 1.1K 3.5K
                                    

Não era como se o badalar alto dos sinos de fora do quarto tivesse acordado alguém ali.

Todos os dias eram tão monótonos que seu relógio biológico o acordava pelo menos cinco minutos antes do incessante barulho pontual do lado de fora.

Pelo menos cinco minutos antes de mais um dia no inferno; como ele gostava de chamar o lugar.

Na verdade, o inferno na sua visão, era algo subjetivo e questionável.

Algumas pessoas imaginam que seja um lugar vermelho, com chamas, um homem mau com chifres e um sorriso diabólico que domina todos os pecadores utilizando de um chicote para açoitá-los.

Mas, aquela imagem era bem diferente da que ele considerava um inferno, pois inferno era o que ele vivia, mesmo que para alguns seja apenas drama. Se o inferno na cabeça de alguém fosse vermelho, em sua era branco, igual todas as paredes daquele quarto.

Quatro paredes extremamente brancas. Parecia algo comum, mas aquilo o desagradava tanto. Poderiam ser cores pastéis, dessa maneira o branco não seria tão branco. Ou pelo menos uma parede com uma cor um pouco vibrante. Que tal azul? Preto? Verde? Vermelho? Ou quem sabe, rosa.

Não, definitivamente a última cor não. Isso só pioraria os esteriótipos já impostos.

Era louco o quanto sua mente poderia caminhar em poucos segundos olhando para o teto branco desse quarto, mas francamente, esses pensamentos eram os mais puros que tinha no dia. E tudo que é bom, dura pouco, e nesse caso, apenas cinco minutos.

Suspirou fundo quando ouviu do lado de fora os andares apressados e barulhentos que um pequeno salto agulha fazia todas as manhãs, e aos poucos foi se aproximando até parar, sendo substituído pelo ranger da maçaneta da porta.

— Meninos, vamos! Acordem ou vão se atrasar. — e a figura feminina fechou a porta e seguiu seu caminho indo acordar quarto por quarto.

Ah, claro. Meninos, sim, no plural. Até porque para viver em um inferno, ele precisa ser compartilhado por pelo menos uma pessoa.

Aquele mesmo quarto era compartilhado com outro garoto, e era difícil descrevê-lo - mesmo compartilhando o quarto com ele por mais de um ano.

Tudo que sabia era que ele dormia no beliche de baixo, era o primeiro a tomar banho antes dos afazeres dos rapazes, tinha a estatura bem alta para a idade, sua voz era grossa — mesmo tendo ouvido pouco, para um colega de quarto —, e gostava de usar shampoo de camomila. Só.

E como de costume, ele se levantou em um pulo da cama abaixo de si, o menor acompanhou seus movimentos de se esticar e se espreguiçar lentamente enquanto alguns de seus ossos estalavam.

Quando olhou para cima, ele pôde ver que estava sendo observado e, francamente, não é algo que gostava. Era como se esperasse um cumprimento educado de bom dia, que ele evitava ao máximo, mesmo sendo algo tão comum para qualquer pessoa, nem que seja por educação.

— Bom dia. — disse Taehyung em um tom baixo e rouco, arrumando brevemente sua cama e indo em direção ao banheiro tomar o seu devido banho de todo dia, sem esperar resposta.

— E o que tem de bom? — respondeu Jimin, baixinho, apenas para si, já que o outro já estava com o chuveiro ligado.

Não eram amigos, isso já estava bem claro, mas também não inimigos. Comparado a outras pessoas do campus, Taehyung era quem estava mais habituado a trocar poucas palavras com Jimin. Isso apenas dentro do quarto, pois no campus fingia que não o conhecia, possivelmente para o julgamento que cercava Park não acabar o afetando.

Sinceramente? Jimin não ligava, passou da fase de almejava um melhor amigo e realizar o sonho de contar seus segredos enquanto comem algum doce muito calórico assistindo alguma comédia meia boca do Adam Sandler.

CATHEDRAL • jjk + pjmOnde as histórias ganham vida. Descobre agora