Capítulo X

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Ainda desnorteado, Billy sentou-se numa pequena cadeira de madeira cujos pregos estavam frouxos e a madeira envelhecida e ressecada. Após beber um pouco de água, quis urgentemente saber o que estava acontecendo. Anastácia decidiu se afastar enquanto o alquimista o ajudava.

- Como assim demônio do sono? - indagou Billy.

- É muito raro, mas pode acontecer até mesmo com os mais céticos - retorquiu o homem - Eles estão sempre à procura da emancipação, mas nunca ouvi de um que conseguisse.

- Emancipação? Desculpa, não entendi.

- Seu amigo pretende sair do subconsciente e se materializar em uma forma tangível.

- Ah, é isso? Eu iria adorar se acontecesse...

- Acho que você ainda não entendeu. Demônios do sono manipulam seus hospedeiros em prol de um plano maligno.

- Você não conhece o Ragnar como eu conheço. Ele é gentil, atencioso, conhece tudo sobre mim...

Mais uma vez, um calafrio terrível tomou conta do garoto. E se o alquimista estivesse certo? Ele não poderia arriscar tanto... Precisava ver Ragnar urgentemente. Enfim cedeu e deitou-se em uma rede esfarrapada, porém confortável, a qual estava no único quarto da casarão macabro. Poucos minutos depois imergiu...

Imergiu...

Imergiu...

Imergiu...

Abrindo os olhos, viu-se em um campo esverdeado repleto de margaridas. O crepúsculo parecia ter congelado, perpetuando o lindíssimo cenário com um ambiente sublime e temperatura agradável. Em uníssono, os passarinhos reproduziram melodias aconchegantes e afáveis. Não obstante, isso nunca acontecera antes. Seu subconsciente explicitamente estava bem consigo mesmo depois de tanto tempo.

Subitamente, Ragnar aparece. Sua presença acalmava o coração de Billy, lhe trazia segurança e paz. Por algum tempo, eles se olharam de forma profunda e transparente, com uma coesão incrível entre si.

Quebrando o silêncio, Billy correu em direção a seu amado. Abraçou-o fortemente, queira senti-lo e corroborar sua existência. Depois, ergueu a cabeça e encostou seus lábios aos deles. Não obstante, Ragnar permanecia frio e impenetrável. Nesse instante, soltou-se de Billy e arremessou-o ao chão.

- Já estou cansado de atuar, Billy - disse Ragnar.

- Do que você está falando? - indaga Billy, muito confuso e perplexo pelo choque momentâneo.

- Depois de todos estes anos ainda não percebeu? Quer que eu desenhe ou o quê? Não, melhor deixar aquelas ridículas e infantis para você.

- Por que está me tratando assim?

- Eu expus meus comentários sórdidos com o propósito de aliená-lo, teríamos sido uma dupla perfeita. Porém, você não só insistiu em ser sensível como também ignorou todas as minhas maldades... Mas eu não devia estar impressionado. Afinal de contas, qualquer pessoa fútil e superficial se apaixonaria por um rosto bonito.

Entendendo a situação, Billy se levanta e empurra Ragnar com todas as suas forças. Mas nada acontece. Com lágrimas nos olhos, Billy vocifera:

- Eu não vou acreditar nas palavras de um demônio imundo. Se tivesse me tratado bem, eu teria me apaixonado por você independente de sua aparência - Mas não adiantava esconder as emoções, ele estava completamente destruído e instável.

- Mais uma vez você e o seu complexo de superioridade...

- Não fala do que você não sabe.

- "Olha só - disse Ragnar de forma sarcástica - Eu sou muito inteligente, quem são aqueles parasitas da cidade comparados a mim?". O que custava ser normal como todo mundo, aberração?

O PenúltimoOnde histórias criam vida. Descubra agora