Capítulo VII

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Abrindo os olhos, com a vista meio turva, mente desnorteada e o corpo muito fraco, ainda em decorrência dos acontecimentos da noite anterior, Benício encontrou-se à beira do mar. A cabeça estava latejando, não conseguia identificar sua localização. Todavia, para sua surpresa, o corpo, cabelo e roupas; completamente seco. A respiração funcionava normalmente, corroborando sua teoria de que estava na superfície há um bom tempo.
Quanto tempo se passara? Foi fácil de descobrir, o crepúsculo era iminente. Olhando ao redor, percebeu que a pequena cidade encontrava-se a poucos metros de distância. Aonde teriam ido os policiais? Melhor ainda, quem o tinha salvo?
Subitamente, quebrando a linha de raciocínio do garoto, Wunderschön apareceu. Benício estarreceu-se, pois o estado da pequena ave era decadente. Como não conseguia voar, arrastou-se até ali caminhando, provavelmente foi bem cansativo, ainda mais para alguém do tamanho dela. Aproximando-se de Billy, disse:

- Benício, você precisa sair daqui antes que o encontrem.

- Se não me encontraram até agora - respondeu Benício - com certeza não encontrarão. E você? Como conseguiu chegar até aqui?

- A Rosa me trouxe.

- Rosa? - Benício estava boquiaberto e de olhos esbugalhados - mas como assim? Ela conseguiu te entender? E onde ela está?

- Pedi que voltasse. E respondendo à sua outra pergunta, sim. Ela me entende.

- Então não sou só eu... mas quando tentei voar, não funcionou.

- Mas é claro que não, a magia enfraquece quando está cercada de céticos.

- Isso me faz lembrar de alguma coisa... mas não sei exatamente o quê - Benício esqueceu-se da gigantesca visão que tivera - Antes de sairmos, preciso testar a magia.

- Como?

- Vem cá, vou curar sua asa.

Pondo Wunderschön no colo, Benício, com convicção, tocou a asa quebrada. Fechou os olhos e, com tamanha destreza, parecendo até que havia praticado magia por anos, sabendo exatamente o que tinha de fazer, sentiu uma forte energia dentro de si, então curou a pequena ave. Até Wunderschön admirou-se.

- Queria poder fazer isto em frente a todos - disse Benício.

Levantando-se e a limpar a terra em suas roupas, ao virar-se, Benício avistou Josefina, Carlota e os dois policiais aproximando-se. Não correu, pretendia conversar civilizadamente, já que a confusão não resolveu o conflito. Denotavam calma, não diminuindo as aflições do garoto.

- Onde você estava todo esse tempo? - indagou Josefina.

- Não sei como vim parar aqui - respondeu Benício - algo ou alguém me tirou das águas.

- Sua mãe nos disse que foi um mal entendido, desculpe pela confusão - disse um dos policiais.

- Mal entendido? - perguntou Benício, indignado - essa mulher tentou me matar.

- Benício, para o seu bem - disse Carlota - esquece essa história maluca.

- E não foi só isso, Roberto Wilson deixou-me a mercê da morte em um enorme buraco no Vale da Raposa.

- Deixe os mortos em paz - disse Carlota.

- Mortos? - muito confuso, com o coração começando a acelerar, Benício perguntou.

- Isso mesmo. Roberto Wilson faleceu há algumas horas, caiu de uma árvore.

- Aaaaaaaaaaah!

Benício ajoelhou-se no chão desesperadamente, assustando Wunderschön, a qual estava em seu ombro. Lágrimas, lamúrias e tormentos surgiram instantaneamente. A visão não falhara, a premonição realizou-se. Era horrível a sensação de impotência que o cercava, a respiração estava descontrolada. Odiava Roberto, mas não ao ponto de apetecer sua morte.

O PenúltimoWhere stories live. Discover now